Campo avança com edição de genes e automação

No campo, a agenda ESG – sigla para boas práticas ambientais, sociais e de governança – tem pautado a área de pesquisa e desenvolvimento (P&D). Segundo Fernando Moulin, parceiro de negócios da consultoria Sponsorb, a pressão por eficiência e sustentabilidade será cada vez maior. “Virá dos consumidores e dos investidores, que vão alocar recursos em negócios alinhados com o tema.”

Para estar alinhado à agenda, a responsabilidade do agronegócio deve ultrapassar as porteiras. Além de produzir mais, para alimentar a população crescente, os produtores têm de ser atuantes em questões como preservação da biodiversidade e na gestão dos recursos hídricos. Pelas projeções da FAO (agência da ONU para alimentação e agricultura), a demanda por alimentos vai crescer 70% até 2050, quando a população global deve chegar a 9 bilhões de pessoas. Outra questão é a própria sobrevivência da cadeia produtiva.

Estudo realizado pelo Fórum Econômico Mundial, em parceira com a PwC, aponta que o agronegócio está entre os segmentos mais dependentes da natureza e seus serviços, como polinização, qualidade da água e controle de pragas e doenças. “A saída está no bom uso das tecnologias disponíveis”, afirma Moulin.

Para dar conta dos desafios, o setor vai explorar a convergência entre as ciências biológicas e da computação – movimento técnico-científico que fomenta inovações capazes de transformar os processos do campo ao garfo. Entre as estratégias está o uso de sistemas de inteligência artificial (IA), computação em nuvem, internet das coisas (IOT), automação e robótica para coletar dados e alimentar pesquisas nas áreas de biotecnologia, genética, mapeamento de solo, veterinária e gestão de recursos naturais. “Cruzamos dados coletados no campo para desenvolver e acompanhar o desempenho das plantas”, comenta Natália Carvalho, executiva da Bayer.

Como exemplo, ela cita uma variedade de soja, lançada recentemente no Brasil, que amplia a produtividade em 3,25 sacos de grão por hectare e reduz o uso de defensivos agrícolas. O desenvolvimento da planta combinou recursos de computação com técnicas de engenharia genética.

Na biotecnologia, a computação tem sido aliada da técnica de edição de genes conhecida como CRISPR. Neste caso, explica Alexandre Nascimento, especialista da Singularity University no Brasil, o uso de inteligência artificial aumenta a acurácia e reduz o tempo de melhoramento das espécies. “A edição de genes é uma opção à transgenia e deve revolucionar a produção de alimentos”, diz. A técnica permite realizar modificações nas cadeias de DNA para tornar plantas e animais mais resistentes a pragas e doenças. “Dá para apagar uma sequência de genes, reorganizá-los ou ativar os genes mais relevantes na adaptação do organismo vivo às condições climáticas”, explica Nascimento.

Na pecuária, a redução do impacto ambiental contará com recursos de internet das coisas e computação em nuvem. A aposta da DSM está na entrega de serviços para o manejo do rebanho integrado à preservação dos biomas. Ao coletar dados do comportamento dos animais, explica Regiane Peres, diretora de especialidades do negócio de nutrição e saúde animal da DSM América Latina, é possível ajustar a nutrição e reduzir o consumo de ração e de água. “As técnicas trazem ganho para o meio ambiente ao economizar recursos e diminuir a emissão de gases do efeito estufa.”

Já a Pitaya Irrigação desenvolveu, junto com a Embrapa, sensores de cerâmica para medir a umidade do solo e sinalizar a necessidade de irrigação. Aqui, comenta a fundadora Juliana Polizel, vale o conceito de que cada gota de água importa. Enterrado no solo, o dispositivo capta a disponibilidade de água para a planta. O indicador reduz a incerteza na hora de irrigar porque sinaliza se, mesmo com o tempo seco, há água suficiente para a nutrição da planta.

Fonte: Valor Econômico.