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Caminhoneiros bloqueiam rodovias em apoio a Bolsonaro

Em apoio ao presidente Jair Bolsonaro, caminhoneiros bloquearam ontem trechos de rodovias de ao menos catorze Estados e fizeram um protesto em Brasília. O movimento é heterogêneo, organizado por motoristas autônomos e defende pautas diversas, desde o controle dos preços dos combustíveis até bandeiras antidemocráticas como o fechamento do Supremo Tribunal Federal (STF). 

As maiores entidades do setor de transporte rodoviário de cargas não deram apoio formal à mobilização.

As ações, segundo o relato de caminhoneiros, são um desdobramento dos atos realizados no domingo, 7 de setembro, em apoio a Bolsonaro, nos quais foram defendidas agendas contra a democracia, como intervenção militar e a remoção de ministros do STF. 

Santa Catarina concentrou ontem a maior parte dos bloqueios parciais de rodovias. Houve registros também em São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul, Espírito Santo, Mato Grosso, Maranhão, Roraima, Pernambuco, Goiás, Pará, Tocantins e Bahia, além do Distrito Federal, até a noite de ontem. Em São Paulo, houve corte na rodovia Anhanguera, sentido capital, segundo informação da concessionária CCR. Há registro de bloqueio total de pista no Rio Grande do Sul. Ontem, foram debeladas 67 ocorrências com manifestação de populares e tentativas de bloqueio de rodovias. 

Bolsonaro encaminhou um áudio para apoiadores, na noite de ontem, no qual pediu que os caminhoneiros desmobilizassem a paralisação. Na mensagem, Bolsonaro chama a categoria de “aliada”, mas diz que os protestos vão atrapalhar a economia, provocar desabastecimento e inflação. A autenticidade do áudio foi confirmada ao Valor por autoridades do governo que estão à frente da negociação com os profissionais. 

“Fala para os caminhoneiros, que são nossos aliados, mas esses bloqueios atrapalham a economia. Isso provoca desabastecimento, inflação, prejudica todo mundo, em especial os mais pobres. Dá um toque aí, se for possível, para a gente seguir a normalidade. Deixa a gente conversar em Brasília aqui agora. Não é fácil conversar, negociar, com outras autoridades, não é fácil, mas vamos buscar fazer nossa parte aqui. Vamo buscar uma solução por aqui”, diz Bolsonaro. 

Em Brasília, houve protesto na Esplanada dos Ministérios. O movimento na capital federal tem relação com empresas do agronegócio de São Paulo, Santa Catarina e Goiás. 

Dos mais de 100 caminhões estacionados na Esplanada dos Ministérios, ao menos 17 estavam identificados como pertencentes ao Grupo Grão Dourado, com sede em Piracanjuba (GO). Trata-se de uma maiores produtoras de grãos de Goiás. 

O grupo tem como sócios os irmãos Nilton, Ivan e Jonas Pinheiro de Melo. Os três estão identificados como produtores rurais no processo de recuperação judicial do grupo que tramita desde agosto de 2012 na 1ª Vara Cível de Piracanjuba. Além da produção de soja, milho, sorgo e feijão, as empresas do Grupo Grão Dourado também atuam na produção de insumos e defensivos agrícolas, logística e transporte de grãos para o agronegócio, suinocultura e distribuição de carnes e derivados.

O Valor procurou a empresa por telefone ontem, mas não recebeu resposta aos contatos. 

As manifestações, segundo a Polícia Rodoviária Federal, não são coordenadas por entidades setoriais, não se limitam a demandas ligadas aos caminhoneiros e têm “composição heterogênea”. Entretanto, o caminhoneiro Fabiano Márcio da Silva, um dos líderes da paralisação de 2018, afirmou ao Valor que o caminhoneiro Marcos Antônio Pereira Gomes, conhecido como Zé Trovão, está fazendo a “ponte” entre o agronegócio e os motoristas autônomos. 

De acordo com vídeo publicado por Zé Trovão nas redes sociais ontem, o objetivo desses atos é pressionar pelo impeachment de ministros do Supremo. Zé Trovão está foragido desde o dia 3, quando a Procuradoria-Geral da República (PGR) solicitou e o ministro do STF Alexandre de Moraes determinou sua prisão. 

O vídeo circula em grupos de mensagens de caminhoneiros, mas as manifestações sobre ele são contraditórias. Há caminhoneiros apoiando a paralisação e há os que dizem que estão sendo “usados como massa de manobra”. Um dos mais contundentes é o caminhoneiro Aldacir Cadore, do interior de São Paulo. Ele disse: “Ninguém queria outro discurso de campanha. A gente quer ação. O que vai ser feito? Deveríamos nos limitar aos pleitos de nossa categoria.” 

A ascensão do caminhoneiro Zé Trovão como um dos líderes da categoria é questionada pelo governo. Uma fonte do Ministério da Infraestrutura disse desconhecer Zé Trovão e afirmou que só soube quem é o caminhoneiro depois que a Procuradoria-Geral da República pediu sua prisão. 

Além dos bloqueios nas rodovias, manifestantes bolsonaristas tentaram invadir ontem o Ministério da Saúde, em Brasília, mas foram contidos por seguranças. O grupo hostilizou os jornalistas que estavam no local, que foram agredidos com empurrões e xingamentos.

Fonte: Valor Econômico.

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