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Câmbio e demanda externa pressionam alimentos, que pesam em preços ao produtor

A alta de 3,4% no Índice de Preços ao Produtor (IPP) em outubro foi fortemente influenciada pelo aumento dos preços de alimentos para exportação e que também servem à indústria nacional, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O órgão divulgou o indicador na manhã desta quinta-feira.

O gerente de análise metodológica para indústria do IBGE, Alexandre Brandão, evitou fazer previsões, mas lembrou que, com um IPP registrando altas maiores que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA), a inflação oficial do país, pode-se esperar repasses de preços à ponta da cadeia de consumo.

A constatação indica, portanto, que a inflação dos alimentos deve seguir alta. Brandão ponderou, entretanto, que esse movimento na ponta “depende muito” da renda das famílias, o que baliza reajustes. Até aqui, disse ele, essa renda segue preservada pelo auxílio emergencial e pela volta gradual da remuneração pelo trabalho.

Segundo o IBGE, 1,17 ponto percentual (p.p.) do índice veio dos alimentos, produtos com peso de 27% entre os materiais utilizados pela indústria brasileira. A segunda maior influência veio das indústrias extrativas (0,53 p.p.).

“Esse peso dos alimentos se deve, principalmente, a produtos alimentícios que visam o mercado externo. Por um lado temos uma demanda [externa] mais acelerada para itens como derivados e óleo de soja, além de açúcar cristal e carnes congeladas, o que eleva os preços internos. O fato de a produção de soja não estar tão alta também contribui para a alta nos preços”, diz Brandão.

O especialista afirma que outro fator importante da equação tem sido o câmbio, que desvalorizou-se 4,2% só em outubro e perto de 37% no ano, segundo o IBGE. “Além de o preço em dólar já estar um pouco mais alto, o câmbio faz com que os valores em reais fiquem ainda maiores. Essa combinação tem um impacto muito grande nos preços dos alimentos ao produtor”, afirma Brandão.

O IPP acumula alta de 17,29% no ano e de 19,08% em 12 meses. No caso dos alimentos, os preços avançaram 28,36% em dez meses e 35,89% em doze meses. O técnico do IBGE observa que, além dos produtos com maior vocação para exportação, que tiveram a maior alta de preços internos em outubro, ao longo do ano pesaram as variações anômalas do arroz e o comportamento sazonal do leite, que rareia no inverno, período de seca que afeta os rebanhos. O leite é base da indústria de laticínios e outros produtos industrializados, enquanto o arroz, na indústria, é basicamente “beneficiado” para venda, com retirada de casca, acréscimo de substâncias e ensacamento.

Com relação às chamadas grandes categorias econômicas, Brandão destaca a alta de 5,1% dos bens intermediários em outubro na margem. “Muito dessa alta de 3,4%, 2,74 pontos percentuais vieram dos bens intermediários que, além dos alimentos, abarcam também o minério de ferro, produto da indústria extrativa”, diz.

Em outubro, informou o IBGE, a variação média de preços foi de 9,71%, sétimo resultado positivo consecutivo no ano. Com isso, no ano, os preços dessas indústrias variaram 50,31%. Mais uma vez, esses resultados estão influenciados pelo câmbio desvalorizado, “mas refletem também o movimento dos preços internacionais do óleo bruto de petróleo e dos minérios de ferro e seus concentrados”, informa o IBGE no relatório da pesquisa.

Brandão observa, ainda, que os bens de capital (+2,69%) e os bens de consumo duráveis (+0,97%) e não duráveis (+1,27%) tiveram variação abaixo da indústria geral, o que reflete o peso dos bens intermediários na matriz industrial, acima de 50%.

O pesquisador detalhou que a alta nos bens de capital foi puxada pelos preços dos aviões, que representam 14% do índice para a categoria. “Aviões são um produto com preço dolarizado e acabam carregando os efeitos do câmbio depreciado”, afirma. Já a alta dos bens de consumo foi encabeçada pela gasolina, cujo aumento se deve às variações internacionais.

Fonte: Valor Econômico.

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