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Brexit põe em risco comércio de carne na UE

Michael Bailey criava perus e vendia as aves inteiras na época do Natal. Mas agora a maioria dos clientes britânicos quer a carne cortada em pedaços, desossada e branca, não escura. Por isso Bailey passou a cortar suas aves, descartando uma pilha de coxas e sobrecoxas que os consumidores não querem. “Temos carne de peru de primeira, e a metade dela – quase a metade, na verdade – eles não querem mais. Isto causa um grave problema”.

Por dezenas de anos, a solução foi a União Europeia, que adora a carne escura desprezada pelos britânicos. Juntamente com as sobras que ficam dos perus, as aves de carne escura e os porcos mais velhos das fazendas britânicas muitas vezes acabam nos pratos da Europa Oriental, enquanto a carne branca viaja na direção contrária. Mas agora, como acontecerá em muitas outras áreas do comércio e dos negócios, a futura saída da Grã-Bretanha do bloco, o processo conhecido como Brexit, poderá atrapalhar os negócios.

A União Europeia autorizou uma pequena ampliação no prazo do Brexit, de 29 de março para 12 de abril. Os produtores conhecem esta peculiaridade do comércio da carne como balanço da carcaça: as sobras de um país tornam-se os cortes apreciados de outro. “Precisamos negociar com os países membros porque algumas partes da carcaça lá valem mais”, disse Ivor Ferguson, um produtor da Irlanda do Norte que antes criava porcos e agora passou a criar ovelhas e a plantar cereais. O fato inconveniente para os produtores agrícolas que têm de fornecer mais cortes de acordo com a exigência dos clientes significa precisar encontrar mais lugares para vender os cortes indesejados.

A Grã-Bretanha exporta entre 250 mil a 300 mil toneladas de aves de carne escura ao ano, cerca de 70% deste total para a União Europeia, afirma o grupo de pesquisa britânico ResPublica. Sair da União Europeia sem algum tipo de acordo comercial seria desastroso para os produtores. A carne suína britânica poderá enfrentar tarifas acima de 40%, enquanto para a bovina e a de aves as tarifas poderão chegar a mais de 60%. Além do que, rigorosas inspeções nas fronteiras representariam mais custos e causariam atrasos.

Mas mesmo que não se chegue a uma separação da Europa sem nenhum acordo, o Brexit criará empecilhos em um processo comercial que agora ocorre praticamente de forma direta. E se os produtores agrícolas não puderem ganhar como antes com as exportações de carne escura, talvez sejam obrigados a elevar os preços das aves de carne branca, criando o que os analistas temem possa tornar-se um mercado dualista, em que somente os britânicos mais ricos poderão adquirir a melhor carne de ave.

Os produtores procuram adequar-se convencendo os britânicos a comer os cortes que agora desprezam. Enquanto isso, os analistas mostram que as aves de carne escura são uma alternativa mais saudável à carne bovina. Algumas companhias já colocam carne escura em suas receitas. Bailey disse que vende aves para um produtor de tortas de carne que durante anos comprava somente carne de peito. Prometendo preços melhores, ele tentou convencer o produtor de tortas a experimentar a carne escura. “Realmente, o sabor da torta melhorou”, disse Bailey. “No fim, foi uma vitória”.

Fonte: Estadão.

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