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Os resultados dos primeiros três trimestres do ano para os produtores de carne do Brasil demonstram uma clara mudança da demanda global. O Marfrig – que exporta por volta de 12,5% da carne bovina brasileira – reportou que suas vendas à Europa caíram 15% em relação a 2011 no terceiro trimestre. A Europa foi responsável por 35% de suas exportações, 44%a menos que no ano anterior.

Para o Minerva, os países desenvolvidos caíram para 30% de suas exportações no terceiro trimestre de 2012, quando em 2011 foi de 42,6%. Combinados, a queda das vendas das duas companhias foi de R$ 240 milhões no trimestre. Em uma base anual, isso seria quase R$ 1 bilhão.

Já as exportações totais brasileiras de carne para a Europa estão caindo. Em dólares, as vendas de carne bovina à Europa foram 7,5% menores entre janeiro e setembro de 2012 comparado com 2011. Houve grande queda na Alemanha (-22%), Holanda (-34%) e Suécia (-15%). Os preços caíram 7% com relação ao ano anterior até o 3T12, comparado com uma média de 4% de queda para as exportações de carne bovina brasileira.

Para os exportadores de frango, a queda nas vendas europeias foi ainda maior – 18,1% em valor e 7,8% em volume. As exportações de carne suína à União Europeia (UE), por sua vez, foram proibidas por questões sanitárias. Mesmo se as atuais restrições fossem retiradas, as vendas estariam sujeitas a cotas.

O Brasil se esforça para revigorar o comércio com a Europa. A identificação eletrônica deveria simplificar o processo de licenciamento de fazendas, o que atualmente demora vários meses. Isso é crucial, considerando que a Europa continua sendo um dos melhores mercados para produtos de alto valor – com os preços frequentemente mais do que o dobro daqueles no Oriente Médio. Somente Taiwan e Coreia do Sul podem competir com os preços europeus, disse Fernando Sampaio, chefe da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiecs).

Para novos produtores, a aprovação da UE também abre portas para outros mercados, disse Ademir Balbinot, da Cooperativa Agroindustrial (Coasul), cooperativa de produtores de frango formada há dois anos.

Além disso, apesar dos pecuaristas ainda precisarem da Europa, eles estão cada vez mais cientes da necessidade de amplar o mercado. Isso significa aumentar as vendas nos maiores mercados de hoje – Rússia, Oriente Médio e Hong Kong – enquanto também negociam acesso a outros locais.

Abrindo novos mercados

Quatro grandes mercados continuam fechados para a carne bovina brasileira por causa de restrições sanitárias relacionadas à febre aftosa: Estados Unidos, Japão, Coreia do Sul e Indonésia. “Não exportamos animais vivos, e sim carne bovina desossada. O risco [de transmissão de febre aftosa] é praticamente zero”, disse o secretário de relações internacionais do Ministério da Agricultura, Célio Porto.

Um acordo com os Estados Unidos está paralisado há mais de uma década. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) está considerando permitir as importações brasileiras de hambúrguer de carne bovina, com a publicação de leis propostas tendo sido deixada em espera até depois da eleição presidencial em novembro. Enquanto isso, o Brasil está considerando uma união com a Argentina no lançamento de um processo formal na Organização Mundial de Comércio (OMC) contra os Estados Unidos.

Um acordo com a Indonésia foi eliminado pela suprema corte do país. Ainda não está claro se a Indonésia compraria carne, ao invés de animais vivos, como atualmente faz com a Austrália.

Isso deixa Japão e Coreia do Sul como as melhores opções para uma resolução no curto prazo. Um acordo conjunto está atualmente sendo negociado. Os produtores de carne bovina do Brasil ainda acreditam que estão melhor posicionados para fornecer ao mercado asiático, considerando que os produtores argentinos estão operando sob restrições cada vez maiores e a Austrália está operando próximo à sua capacidade.

A boa notícia é que as exportações de carne bovina para a China triplicaram até agora nesse ano, para 5.100 toneladas, após uma pressão diplomática quando a presidente, Dilma Rousseff, visitou o país no ano passado. A maioria dos abatedouros estão esperando pela aprovação sanitária.

Pela primeira vez, o Brasil também está exportando carne suína à China, o maior consumidor mundial dessa carne. Entre janeiro e setembro, as vendas totalizaram 7 milhões – ainda uma fração dos US$ 224 milhões exportados a Hong Kong no mesmo período. O processo de licenciamento de abatedouros tem sido, entretanto, “mais lento do que o esperado”, disse Porto.

Camargo da Abipecs está otimista com o acordo que será alcançado para exportar carne suína ao Japão e à Coreia do Sul, apesar de ele não esperar que as vendas comecem antes de um ano após o acordo ser fechado. “Temos a Ásia mais ou menos sob controle”.

A Ásia também é o maior novo mercado para a carne de frango brasileira. Vinte e cinco plantas de frango já são licenciadas para exportar para a China; mais 13 receberam aprovação inicial. As negociações com o Paquistão e a Malásia, ambos atualmente fechados para a carne de frango do Brasil, estão em estágio avançado. As exportações começarão no começo de 2013, disse Francisco Turra, chefe da UBABEF (União Brasileira de Avicultura).

Um grande, porém mais remoto, mercado é a Índia, onde o consumo de carne de frango está atualmente em menos de um terço do que no Brasil. O Governo do Brasil e dos Estados Unidos estão juntos fazendo lobby para a redução das tarifas nas importações de frango, que atualmente são de 100%. Uma tarifa viável poderia ser de não mais que 20%, disse Turra. O Brasil está negociando através do IBSA, grupo que inclui Índia, Brasil e África do Sul.

O que os novos mercados oferecem ao Brasil não é somente rápida demanda – é sua diversificação. As vendas ao Oriente Médio, onde a carne bovina brasileira tem a vantagem de ser mais adequada ao gosto por produtos com baixa gordura, foram prejudicadas no ano passado pela instabilidade política. Apesar da oferta ter sido retomada, prevalece a cautela agora.

“Exportamos carne para muitos países não civilizados”, disse um membro sênior da indústria ao Brazil Confidential, lamentando o fato de o comércio brasileiro ser frequentemente direcionado por questões diplomáticas ao invés de considerações comerciais.

A decisão da Rússia de impor restrições à carne suína brasileira similarmente deixaram os produtores cautelosos com a dependência desse país. Os produtores de carne suína, que chegaram a exportar dois quintos de suas exportações à Rússia, não esperam retornar a esse nível. A Rússia ainda está bloqueando as importações de carne bovina brasileira dos estados de Mato Grosso, Rio Grande do Sul e Panamá. Para os oficiais brasileiros, isso é prova de que a diversificação precisa ocorrer no fornecimento final, bem como na demanda final. Porto acha que a produção de carne deveria ocorrer em diversos estados, de forma que as medidas sanitárias que afetem regiões particulares do Brasil não restrinjam as vendas.

Pressão sobre os produtores

O aumento geral da demanda da Rússia e do Oriente Médio tem significado que as exportações de carne se mantiveram firmes em 2012. As vendas de carne bovina tiveram um bom desempenho, impulsionadas pelo enfraquecimento do Real: elas aumentaram quase 10% em volume e cerca de 5% em valor, até agora nesse ano. As vendas de carne suína e de frango também aumentaram em termos de peso, apesar de as vendas de frango terem caído em termos de dólares.

Além disso, produtores de carne de frango e suína estão enfrentado uma pressão financeira. Diferentemente dos produtores de carne bovina – cujos animais são alimentados a pasto -, eles estão sendo afetados pelos maiores preços do milho e da soja, em resposta à seca e quebra de safra nos Estados Unidos e na América do Sul.

O milho representa cerca de dois terços dos custos da produção de frango. Poucas companhias se protegeram contra o aumento nos preços, com algumas dizendo que compram sua oferta de grãos apenas sete dias antes de sua utilização. Os contratos futuros ainda não inspiram confiança nos produtores menores, em parte adiados pelas perdas sofridas pela Sadia durante a crise financeira. Com a demanda pela soja brasileira alta no quarto trimestre, os produtores frequentemente terão que pagar em dinheiro.

“Ninguém está (financeiramente) saudável. Alguns têm maiores problemas de fluxo de caixa que outros”, disse um consultor de produtores de frango ao Brazil Confidential. A UBABEF, associação da indústria de frango, disse que 18 de seus 120 associados têm dificuldades financeiras e “estão sendo forçados a reduzir a produção”. Como resultado, a associação acredita que a produção de frango será de cerca de 12,5 milhões de toneladas nesse ano, comparado com as 13,4 milhões de toneladas inicialmente previstas.

A pressão já levou a algumas consolidações. Doux, um produtor francês, concordou em arrendar seus ativos de produção (Frangosul) para o JBS em maio; a companhia não foi capaz de pagar suas dívidas à associação industrial pelos últimos dois anos. A medida, que deverá ser permanente, deu ao JBS sua primeira presença no mercado de carne de frango e suína no Brasil. Em novembro, o JBS concordou com uma segunda aquisição, comprando a Agrovêneto, produtora de frango de Santa Catarina com capacidade de abate e 140.000 aves por dia. O valor será de R$ 10 milhões em ações e R$ 110 milhões em dívida adquirida.

O Aurora, um dos cinco maiores produtores de frango do Brasil, recentemente concordou em comprar a Bondío Alimentos, companhia de Santa Catarina com capacidade de abate de 110.000 aves por dia. O Frinal, produtor de frango no Rio Grande do Sul, teria que ter reduzido sua produção, se não tivesse recebido um investimento do grupo chinês que distribui seus produtos em Hong Kong.

“Nossos parceiros precisam ter um fluxo mais estável de carne, eles precisam de qualidade”, disse Guilherme Roehe, da companhia, que não informou o nome dos investidores. O Frinal aumentou sua capacidade diária de 90.000 aves para 130.000 e espera receber licença para exportar diretamente para a China até o final do ano.

A colheita brasileira de soja, que começa em janeiro, pode fazer alguma pressão sobre os preços dos insumos, mas os custos deverão permanecer altos até que a produção de milho dos Estados Unidos comece em 2013. Mais aquisições são prováveis de acontecer.

Fonte: Brazil Confidential (Financial Times), publicado na ABIEC.

 

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