Fechamento 12:08 – 19/03/02
19 de março de 2002
Argentina avalia plano de erradicação da aftosa
21 de março de 2002

Brasil terá dificuldade para manter exportações de carne

Após a euforia do ano passado, quando as vendas externas de carne bovina cresceram expressivos 36% em volume, rendendo US$ 1 bilhão, o setor exportador está mais realista. A volta da Argentina ao mercado depois de quase um ano sem exportar, o câmbio menos estimulante no Brasil e o aumento dos estoques de carne bovina na Europa devem levar a um recuo nas vendas brasileiras. Na melhor das hipóteses, os exportadores repetirão as 750 mil toneladas de 2001, admitem fontes do setor.

Para o diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Carne Bovina (Abiec), Ênio Marques, diante desse quadro é “quase impossível manter” os volumes vendidos em 2001. A não ser que avancem as negociações com a Rússia, para onde o Brasil só vende carne para industrialização, e com a China, disse ele em entrevista recente.

Apesar de a Argentina estar voltando lentamente ao mercado, ela já afeta a demanda pela carne brasileira, admitem frigoríficos. Nos 11 meses em que o país deixou de vender para a Europa por conta da aftosa, o Brasil avançou em mercados no continente. Mas a região sabidamente prefere a carne argentina. “Está difícil, por exemplo, fazer negócios com a Alemanha”, diz o gerente de exportação do Frigoestrela, Benedito de Paula.

Segundo o diretor da Câmara da Indústria e Comércio de Carnes e Derivados da Argentina, Miguel Schiariti, desde que as vendas foram retomadas, em 1o de fevereiro, o País conseguiu vender 3,5 mil toneladas da cota Hilton para a Europa. Pela cota, a Argentina poderia vender 28 mil toneladas entre julho de 2001 e junho de 2002. Schiariti estima que o país conseguirá embarcar 14 mil toneladas até junho.

O diretor do Friboi, José Batista Júnior, confirma que as exportações são mais lentas do que o esperado. “Se continuar no atual ritmo, (as exportações) não chegarão ao que foram em 2001”. Para ele, a valorização recente do real e os preços firmes do boi gordo tornam as exportações de carne bovina brasileira menos competitivas. Já a Argentina ganhou competitividade com a desvalorização do peso e tem preços mais baixos em dólar para a matéria-prima. Enquanto aqui a arroba equivale a US$ 19/tonelada, na Argentina corresponde a US$ 12, diz.

Ênio Marques tem outra razão para crer na queda dos volumes exportados. Segundo ele, em 2001, a base exportadora cresceu. Este ano, prevê que algumas empresas devem deixar de exportar. “Era uma questão de oportunidade”. Além disso, avalia, dificilmente o dólar voltará aos patamares de 2001, quando o real se desvalorizou 15,73%.

Outra pedra no sapato dos exportadores brasileiros são os estoques de carne bovina na Europa, que chegam a 750 mil toneladas (equivalente-carcaça), segundo um trader. A queda do consumo com as crises sanitárias na Europa e a suspensão das vendas de produto europeu para alguns países fez os estoques crescerem. Agora, a Europa volta a concorrer com Brasil no Oriente Médio e leste europeu, diz o trader.

Nem o resultado do primeiro bimestre, quando a receita com as vendas externas de carne bovina in natura cresceu 73%, anima porque a base de comparação é baixa. Para o consultor da FNP, José Vicente Ferraz, o comportamento do dólar pode afetar negativamente as exportações. Mas, por enquanto, ele mantém a expectativa de que os volumes voltem a crescer. Na visão do analista, os problemas econômicos na Argentina devem dificultar a recuperação do setor exportador do país.

Fonte: Valor On Line (por Alda do Amaral Rocha), adaptado por Equipe BeefPoint

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