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Brasil pode ser beneficiado pelo crescimento de uma “nova China”

O Brasil pode ser um dos principais beneficiados pelo crescimento de uma “nova China”, mais urbana e rica, na avaliação de economistas que acompanham de perto o comércio internacional.

O secretário de assuntos internacionais do Ministério da Fazenda, Marcello Estevão, que participou do encontro do G-20, em Buenos Aires, disse ao Valor, que o país asiático representa um mercado que “não apenas está crescendo, mas demandando produtos que podemos oferecer com grande vantagem comparativa. Isso tende a se intensificar”, diz.

Para o secretário, a China passa por uma etapa normal de desaceleração. “Não vejo crise brutal na economia chinesa. Junto com a Índia, são quase três bilhões de pessoas entrando para a classe média, com a atividade crescendo 6%, 7% ao ano nos dois países. Não à toa a China é o nosso principal parceiro comercial.”

A demanda dessa nova classe média chinesa tem como destaque a proteína animal, setor em que o Brasil é “muito produtivo”, lembra Estevão. “Nossa carne é de muito boa qualidade, muito bem recebida lá fora”, diz.

“Uma cidade pequena nessa China urbana tem de 500 mil a um milhão de habitantes. É outro tipo de dimensão”, diz Livio Ribeiro, pesquisador- sênior da área de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV).

Ribeiro destaca que empresas brasileiras produtoras de alimentos perceberam “há algum tempo” o crescimento da demanda chinesa por proteína animal e têm se posicionado para ocupar esse nicho. Outros países com alta produtividade no setor, como Argentina, Austrália e Nova Zelândia, também são apontados pelos economistas como os principais beneficiados pelas mudanças do gigante asiático.

A cesta de produtos que o Brasil pode oferecer, no entanto, não se limita a isso. “As importações de minério de ferro não vão minguar. A China ainda vai continuar precisando construir estradas, ampliar a infraestrutura”, afirma o economista do Ibre/FGV.

“Mas haverá outros vetores muito relevantes nesse país que começa a ficar mais ligado ao consumo e aos serviços.” Nessa pauta de exportação entram cosméticos e equipamentos de transporte e saúde. “O Brasil tem, por exemplo, uma tecnologia de incubadoras hospitalares muito boa, por causa dos índices de nascimentos prematuros”, afirma.

Nos cálculos de Ribeiro, em 2002 os chineses compravam 5% de tudo o que o Brasil exportava, número que saltou para 23% no ano passado. Mas o avanço do Brasil sobre o país asiático foi muito mais modesto: os produtos nacionais correspondiam a 0,7% das importações chinesas em 2002, contra 2,7% em 2017. “É uma relação demasiadamente assimétrica”, diz.

Além disso, a pauta de comércio entre os dois países permanece, pelo menos por enquanto, “muito concentrada”. No ano passado, três produtos respondiam por 80% de tudo o que a China comprava do Brasil: soja (53%), minério de ferro (23%) e petróleo bruto (6%).

Para que o Brasil diversifique essa pauta, Ribeiro sugere uma política ativa nessa direção. Ele aponta como diretriz um documento divulgado pelo governo australiano em 2012 (‘Australia in the Asian Century’, ou ‘A Austrália no Século Asiático’, traduzido do inglês).

Em mais de 300 páginas, o texto sugere mudanças estruturais, como a realização de uma reforma tributária, e outras mais específicas, como a aproximação diplomática com a China e o desenvolvimento de líderes empresariais com conhecimento da região, para que a Austrália se beneficie da nova fase do país asiático.

Estevão, por sua vez, afirma que a Fazenda vem buscando não se aproximar somente dos Estados Unidos e da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), mas aprofundar ainda mais os já fortes laços com os BRICS – grupo de países emergentes do qual fazem parte Brasil e China.

Bolsonaro

Nesse sentido, o discurso hostil ao gigante asiático proferido pelo presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) e parte de sua equipe durante a campanha é visto com menos preocupação. Para os economistas, as oportunidades comerciais falarão mais alto do que a retórica inflamada.

“É muito mais fácil ser maniqueísta, dizer que isso é bom e isso é ruim. Mas a verdade é que tudo é cinza”, afirma Estevão.

“Eu entendo o argumento de que não podemos vender tudo para os chineses. Mas qual a brilhante ideia na direção contrária? Não sei. Nós não estamos em uma posição confortável para recusar capital, de onde quer que ele saia”, diz Ribeiro.

Fonte: Valor Econômico.

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