Atacado – 09/09/09
9 de setembro de 2009
Mercados Futuros – 10/09/09
11 de setembro de 2009

Boi ainda em queda, com possível estabilização/ reversão

O preço do boi teve mais uma semana de queda, com (pequena) redução no indicador Esalq/BM&F de 0,12%. No mês o recuo é de 1,6% e no ano de 14%. O mercado tem surpreendido muito nas últimas semanas. Em plena entressafra (ainda temos entressafra?), os preços do boi gordo recuam. Nos últimos dois dias, o preço do boi teve leve alta, indicando que alcançamos preços mínimos para o momento.

O preço do boi teve mais uma semana de queda, com (pequena) redução no indicador Esalq/BM&F de 0,12%. No mês o recuo é de 1,6% e no ano de 14%. O mercado tem surpreendido muito nas últimas semanas. Em plena entressafra (ainda temos entressafra?), os preços do boi gordo recuam. Nos últimos dois dias, o preço do boi teve leve alta, indicando que alcançamos preços mínimos para o momento.

Tabela 1. Principais indicadores, Esalq/BM&F, relação de troca, câmbio

Todos contratos futuros tiveram alta nessa semana, mesmo com a queda no mercado físico. Isso é um outro indicativo de que o mercado não espera preços menores que os atuais, ou mais baixas no mercado físico.

Gráfico 1. Contratos futuros

O abate de bovinos, dados do SIF, mostra que temos um oferta menor esse ano do que todos os anos anteriores. Alberto Pessina mostrou muito bem isso no seu artigo na semana passada. A demanda externa parece estar ainda menor, causando menores preços mesmo com redução de oferta.

Esse ano choveu mais, por mais tempo. Isso tem aumentando a oferta de gado. O gráfico de abates de 2009 mostra números menores que os de 2008, mas em curva ascendente. Em 2008, o volume de abates foi maior, mas a curva era descendente.

Com frigoríficos com problemas financeiros (recuperação judicial), o número de compradores diminuiu. Ou seja, há menos opções de venda por parte dos pecuaristas, com isso o poder de compra dos frigoríficos aumentou.

O primeiro giro dos confinamentos já está comprometido, ou seja, é difícil diminuir a produção desse primeiro giro. No entanto, o segundo giro deve ser bastante reduzido, pois os preços futuros indicam que é melhor segurar o boi no pasto, para abate na próxima safra, do que investir e abater antes, ainda esse ano. Daí fica a pergunta: isso vai (pode) reverter os preços do “final” da entressafra de 2009 (novembro e dezembro)?

Avaliando-se o gráfico abaixo, que mede a diferença (spread) entre os contratos com vencimento em setembro/09 e outubro/09, percebe-se que os preços de outubro estão menos influenciados pela queda do físico, que os de setembro. Faz sentido, uma vez que os preços para outubro indicam boi gordo valendo menos do que R$80/@, um valor muito baixo para o que era considerado o “pico” da entressafra.

O pico de preços do boi gordo tem mudado a cada ano, e com o crescimento dos confinamentos, esse ano em especial os ligados a frigoríficos, é provável que o pico de preços não ocorra mais em outubro. A aposta desse ano é que ocorra em novembro ou dezembro.

Gráfico 2. Spread entre contratos com vencimento em setembro/09 e outubro/09

Tabela 2. Atacado da carne bovina

De setembro/2008 para setembro/2009, o preço da carne no atacado caiu muito mais no dianteiro (-17%) e PA (-13%), do que no traseiro (-3%). Um reflexo provável das reduções das importações da Rússia. A carne de traseiro, que têm os maiores preços caiu muito pouco desde setembro do ano passado, considerado o auge do período pré-crise. O problema do preço da carne no atacado está nos cortes de menor valor (dianteiro e ponta de agulha).

Outra avaliação importante é a diferença (spread) do preço do boi gordo com o equivalente físico (combinação de preços do dianteiro, PA e traseiro, convertidos em @). É um bom indicativo da margem do frigorífico. Atualmente esse spread está muito pequeno em relação a média histórica, indicando melhor margem para o frigorífico. Fechou essa semana em R$ 2,84/@, quando há um ano era R$ 8,08/@.

Veja no gráfico abaixo, como a distância entre os preços do boi gordo e carne estavam muito maiores nas últimas semanas, do que atualmente. Indicando que hoje a margem dos frigoríficos está melhor do que nos últimos meses.

Gráfico 3. Boi gordo (indicador Esalq/BM&F) e equivalente físico

Em relação a demanda por carne bovina, as exportações têm recuado (ago/09 foi pior que jul/09) e o dólar segue se desvalorizando frente ao R$. Hoje, o boi gordo está cotado em US$ 41,63/@, historicamente um valor alto. No mercado interno, os dados que mostram consumo das famílias brasileiras são positivas. Esse ano, mesmo com a crise, os varejistas têm vendido mais produtos (inclusive alimentos) do que em 2008.

Os preços do bezerro se mantém mais firmes no curto prazo, com pequena valorização na semana. É interessante notar que no período de um ano set/2008-09, o bezerro se desvalorizou mais (15,7%) do que o boi gordo (14,1%).

Com a queda do preço do boi gordo e do bezerro, a margem bruta na reposição (diferença entre o valor de um boi gordo e um bezerro), que é um indicativo melhor da rentabilidade do invernista do que a relação de troca, tem se mantido. Observe o gráfico abaixo.

Gráfico 4. Preços do bezerro e margem bruta na reposição

Uma das notícias mais importantes da semana, passou meio que despercebida nos últimos dias. O JBS Friboi não é mais associado da Abiec. Farei uma análise dos possíveis impactos dessa medida em editorial, a ser escrito em breve.

0 Comments

  1. Ricardo de Castro Merola disse:

    Boa noite Miguel.Penso que o calculo do preco do bezerro , e base MS e o preco do boi e SP.Nao concordo com o calculo do indice,leva a uma falsa avaliacao do indice.Abracos

  2. Emerson Figueira disse:

    Algumas razões para haver limitações para o confinamento de gado pelos frigoríficos.

    O sistema de produção pecuária está sob o regime de concorrencia perfeita, ou seja, existe muito mais fornecedor do que comprador, fato que faz com que o preço seja determinado pelo comprador e não pelo produtor. Isto não acontece na grande maioria dos sistemas de produção onde a relação entre fornecedor e comprador é mais adequada.

    No caso oposto, quando os fornecedores são poucos, é comum a formação de cartel entre eles para manter o preço que desejam. Nesse caso existe uma preocupação em controlar essa prática.

    Mas no sistema pecuária quando o comprador, que são poucos e determinam o preço, passam a atuar na produção de gado, eles passam a manipular o preço atraves do controle da demanda por gado. Quando querem abaixar os preços, usam gado próprio em alta escala, fazendo com que a sua necessidade de abastecimento no mercado seja reduzida levando a uma queda de demanda e preço.

    Assim como no sistema de monopolio de produção existe uma regulamentação para impedir o cartel, deve também no sistema pecuário existir um mecanismo que limite a utilização de gado próprio pelos frigoríficos.

    Embora os frigoríficos tenham o direito de se precaver contra a falta de gado, eles não podem ter tanto gado ao ponto de poder manipular a lei da oferta eprocura.

    Não sei quanto seria um limite razoavel para o equilibrio entre a segurança de fornecimento e a manipulação, mas talvez algo em torno de 10 a 15% de abate de gado próprio por periodo semanal seja um número razoável para dar segurança de fornecimento ao frigorífico e evitar a manipulação de oferta e preço.

    Creio que esse ponto deveria ser discutido para a criação de uma norma federal sobre esse tema.

  3. Josmar Almeida Junior disse:

    Boa Tarde Miguel.

    Parabéns pela análise.

    Por favor, gostaria que explica-se alguns detalhes referentes ao “spread Esalq/Eq. Físico”, o que em uma outra oportunidade o colunista André Camargo já me explicou, e infelizmente não comprrendi ainda.

    Conforme foi citado na análise, o equivalente físico é a combinação de preços entre dianteiro, PA e traseiro convertido em @.

    Como foi citado na análise o spred encontra-se atualmente em R$ 2,84/@ (R$ 76,07 – R$ 73,23= R$ 2,84) desta forma eu pergunto:

    A indústria trabalha com uma margem negativa em relação a este parâmetro ?

    Caso positivo, eu pergunto novamente:

    A recuperação desta margem negativa provém da agregação de valor de cortes, miúdos e couros ?

    Obrigado pela atenção.

  4. Miguel da Rocha Cavalcanti disse:

    Olá Josmar, bom dia.

    Sim, a média histórica do spread entre equivalente físico e arroba do boi gordo é negativa, ou seja, a indústria precisa ganhar dinheiro com subprodutos como couro, sebo e miúdos para equilibrar a equação.

    Em determinados momentos, desossar a carcaça e vender os cortes separados pode ser mais lucrativo que vender os cortes primários também (dianteiro, traseiro e PA). A indústria está calculando essas opções a todo momento.

    Obrigado, abs, Miguel

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