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BM&F: perspectivas do mercado de milho 2012-2013 (com slides)

Em 22/maio, aconteceu em São Paulo o evento BM&FBovespa: Perspectivas do Agribusiness 2012-2013, com diversos painéis sobre cada uma das mais importantes culturas produzidas no Brasil. Leonardo Sologuren (Clarivi) apresentou o painel com perspectivas do mercado do milho.

Sua abordagem foi bem interessante, começou sua palestra mostrando o histórico de produção, consumo interno e exportação de grãos dos maiores países produtores, desde a década de 1960. Nos gráficos abaixo, cada esfera representa um país:

– quanto maior a esfera, maior o consumo interno

– quanto maior a produção, a esfera se desloca para a direita

– quanto maior a exportação, a esfera se move para cima

Portanto, quanto mais uma esfera estiver no canto superior direito, maior será sua produção e exportação. O caso contrário é verdadeiro: quanto mais no canto inferior esquerdo, menor são a produção e exportação. O interessante é observar o deslocamento das esferas no decorrer das décadas, se movendo para a direita (aumentando a produção) e para cima (aumentando a exportação).

Na década de 60, praticamente somente os EUA se destacavam como produtores e exportadores. Já o consumo interno (tamanho da esfera) era forte nos EUA, União Soviética (URSS), Índia (verde) e China (vermelho).

Na década de 70, os EUA continuavam como o país mais competitivo nas exportações de grãos e a URSS e União Europeia (UE) ficavam em segundo lugar. No canto inferior esquerdo há uma esfera amarela representando o Brasil. Nesta década, o Brasil estava conquistando o cerrado e tinha pouca importância no mercado internacional de grãos.

Nos anos 80, os EUA deram um grande salto em suas exportações e a UE e URSS permaneceram sem crescimento no mercado internacional. A China começou a se projetar entre os maiores países produtores (deslocamento para a direita) porém sem importância em exportações. O Brasil continuava junto com a tendência mundial de pequeno aumento de produção.

Já nos anos 90, a China é o país com maior crescimento em sua produção, consequência do crescimento de sua população e demanda interna, se igualando aos EUA. Porém na exportação, os EUA continuavam como o principal fornecedor mundial de grãos. Já URSS se dissolve, e a Rússia acabou ficando com menor destaque em produção e exportação entre os maiores países. O Brasil permanece sem grandes especifididades.

Nos anos 2000, a China continua aumentando sua produção e consumo interno sem influência no mercado internacional. A Rússia tem decréscimo em produção e exportação, e o Brasil, proporcionalmente, é o país com maior crescimento de exportação, portanto ainda sem expressão e nível mundial.

Em 2011, os EUA se destacaram ainda mais em produção e principalmente em exportações de grãos. O Brasil alcança o segundo lugar em exportações, porém com grande distância dos EUA, representando por um lado um alto potencial para exportações e por outro um nível “júnior” em relação aos EUA em diversos aspectos, comenta Sologuren.

Em relação à carnes, pode-se traçar o mesmo histórico que o de grãos, relacionando renda per capita com o consumo per capita. Importante notar que há os fatores de culturas e religiões que influenciam no consumo de proteínas e que há países com alta renda per capita, porém com baixo consumo de proteína animal, consequência do maior consumo de frutos do mar.

A interpretação dos gráficos é a mesma, e o ponto que pode ser considerado o mais relevante é o número de novos países aparecendo com o passar dos anos. Ao observar o canto inferior esquerdo, no decorrer das décadas cada vez mais surgem países aumentando seu consumo de carnes, demonstrando o aumento do mercado de proteína animal, refletindo o aumento da renda da população e sua busca pelo consumo desta proteína.

A comparação histórica demonstra a importância do crescimento dos países emergentes para o mercado mundial de proteína animal e uma ótima oportunidade para o Brasil no médio e longo prazo.

O tamanho das esferas também significa o consumo interno de carnes. Reparando na China, percebe-se que é o país com maior consumo interno de proteína animal, e o Japão, apesar da alta renda per capita, tem um consumo de carnes per capita igual ou menor do que o da China, devido ao maior consumo de frutos do mar, classificados em outra categoria e não como proteína animal.

Analisando o volume de carne per capita consumido no mundo, o Brasil só consome menos do que os EUA e Argentina, registrando um consumo de mais 100kg per capita em 2011. Apesar do consumo total da China ser o maior do mundo, o consumo per capita corresponde à metade do consumo brasileiro. Já a UE tem seu consumo per capita de carne estável devido ao baixo crescimento demográfico e atualmente também devido à crise do Euro.

Na média mundial, o consumo per capita está em torno de 30kg, sendo os países emergentes os responsáveis pelo crescimento:

Em consumo de ração animal no mundo, analisando os últimos dez anos percebe-se o aumento principalmente na China, Sudeste Asiático e América do Sul. Na América do Norte e Europa o consumo de ração é decrescente ou tem baixo crescimento, reforçando ainda mais a importância dos países emergentes, podendo verificar o risco de dependência do Brasil pela alta demanda de grãos pela China.

Abordando o mercado específico do milho, podem-se citar alguns pontos de destaque, como a quebra na safra do sul do Brasil, o que influenciou para o aumento do preço do grão no mercado internacional no curto-prazo, além do atual baixo estoque americano de milho. Para a safra 2012-2013, espera-se um aumento da área plantada nos EUA e há espectativa de queda do preço do milho neste segundo semestre. No Brasil a área plantada na safra 2011-2012 já teve crescimento, inclusive na segunda safra (safrinha), sendo esperado assim um crescimento nas exportações, também pelos EUA, com a China sendo grande responsável pela sustentação do valor desta commodity no mercado internacional.

Observando a relação estoque/consumo de milho nos EUA, percebe-se a tendência de aumento em direção à média histórica, mostrando crescimento dos estoques e perspectiva de queda de preço devido à maior safra 2012-2013 esperada. Na China, essa relação está inversa aos EUA, os estoques estão em níveis históricos baixos, consolidando o país como forte importador mundial do grão. No mundo, Leonardo não espera quedas expressivas para o preço do milho. O estoque mundial está “apertado”, abaixo da  média histórica, não permitindo assim nenhuma queda relevante para o preço do grão.

A safra mundial de milho em 2012-2013 esperada é recorde, chegando a 945,8 milhões de toneladas, aumentando em 8,3% sobre a safra 2011-2012 de 870,5 milhões de toneladas e deixando assim o estoque mundial com crescimento e deixando um fator de queda de preço. Mesmo assim, o estoque mundial final esperado ficará abaixo da média histórica. Nos EUA a safra esperada também é recorde, de 375,7 milhões de toneladas, e Leonardo enfatiza que a bolsa de Chicago deve refletir em queda para a cotação do milho.

Sobre a safra brasileira, analisando a participação da safra e segunda safra (safrinha), percebe-se o aumento da produção da segunda safra ano após ano. Na safra 2002-2003, a safrinha correspondeu por 27% da produção nacional de milho. Na safra 2011-2012, a safrinha já atingiu 47,2% da produção. Grande parte deste crescimento da segunda safra de milho se dá pelo aumento da área plantada de milho sobre a área de soja. No Mato Grosso por exemplo, a segunda safra de milho ocupou 35,4% da área de soja na safrinha 2011-2012. “O que pode ser considerado um estímulo de preço para a soja no estado”, comenta Sologuren.

Comparando os preços do mercado brasileiro com o preço da bolsa de Chicago (CBOT), observa-se que a correlação está aumentando, melhorando as condições para nosso mercado. De 2001 a 2006, não existia nenhuma correlação (48%, muito baixa). O preço do milho de Lucas de Rio Verde – MT era formado no mercado interno, o que deixava o mercado sem estrutura para formação de preço internacional, prejudicando as exportação. De 2007 a 2012, a correlação aumentou para 76,3%, e o preço de Chicago começa a influenciar a formação de preços no Brasil, porém ainda menos que o mercado de soja. Fazendo a mesma comparação com o preço do milho de Cascavel – PR, a tendência é a mesma: a correlação passa de 52,4% para 84,5% nos mesmos períodos.

Analisando em um período menor, de 2009 a 2012, identifica-se um aumento interessante da correlação, chegando a 89% em Lucas do Rio Verde – MT e 95,3% em Cascavel – PR, “o que me anima bastante”, comenta Sologuren, pois para ele isso significa um amadurecimento do mercado nacional.

Analisando o preço do milho nos estados de MT, MG, PR e RS, já é detectada uma queda (linha azul) como consequência da esperada safrinha recorde brasileira 2012-2013 (30 milhões de toneladas). Porém, Sologuren chama a atenção para as condições climáticas deste ano, observando que o volume de chuvas está menor que em 2011 podendo causar surpresas na produção de milho safrinha.

Observando as imagens abaixo com o volume de chuvas representado, o analista enfatiza as condições climáticas do Paraná, onde o volume de chuvas (mm) no primeiro trimestre de 2012 foi menor que em 2011 e ao mesmo tempo a área plantada em 2012 foi maior.

Comparando os preços da soja e milho, a tendência é de aumento da intenção de plantio de soja, conforme mostrado na imagem abaixo, pois a partir de abril o preço da soja teve alta e o preço de fertilizantes também. Já a área de plantio para o milho, a expectativa é de queda de 12% (01 milhão de hectares) para a safra 2012-2013.

Concluindo sua análise, Sologuren estima dois cenários para o mercado do milho no Brasil na safra atual, de 2011-2012. No primeiro, uma produção de 64,5 milhões de toneladas sem quebra de produção da safrinha (30,4 milhões de toneladas), resultando em uma relação estoque/consumo de 15,7%, maior do que a relação de 2010-2011, potencializando uma possível queda do milho.

No segundo cenário, o analista contabiliza uma quebra na safrinha (26,3 milhões de toneladas), resultando em uma produção total de 60,3 milhões de toneladas, um estoque final de 5,4 milhões e relação estoque/consumo de 9%, menor do que a relação de 2010-2011. Possibilitando uma elevação e manutenção de preços altos.

Para 2013, caso o cenário 01 aconteça, a área de plantio de milho na safra de verão seria reduzida, deixando a segunda safra com preços mais elevados. Porém, o palestrante chama a atenção para a taxa de câmbio e sua influência nas exportações brasileiras: caso a taxa de câmbio se valorize, e ao mesmo tempo os preços baixos no mercado internacional e o estoque final brasileiro elevado, possivelmente no segundo semestre de 2013 haveria queda do preço do milho no Brasil.

Matéria escrita por Marcelo Whately, analista da Equipe BeefPoint, após evento BM&FBovespa: Perspectivas do Agribusiness 2012 e 2013 ocorrido em 22 de mai0 de 2012 em São Paulo.

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