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Bem-estar começa a virar realidade na criação de suínos

Aos poucos o bem-estar animal avança no Brasil. Depois de redes varejistas anunciarem metas de não comprar mais ovos de galinhas criadas em gaiolas e de produtores divulgarem investimentos no mesmo rumo, é a vez dos porquinhos. As gaiolas de gestação para suínos estão com os dias contados no Brasil. Trata-se de prática cruel, que aloja porcas reprodutoras separadas umas das outras em gaiolas apertadas que praticamente não permitem que elas se movam durante toda a gestação.

As empresas no Brasil estão se movimentando nesta agenda internacional com compromissos voluntários em prazos mais velozes do que os propostos pelo Ministério da Agricultura. O fim das celas gestacionais é o primeiro passo da transição das granjas. Há ainda as mutilações em leitões com castração cirúrgica, corte de cauda, dentes e orelhas realizados costumeiramente sem medicação analgésica ou anestésica. 

“Estamos dando um passo por vez. As celas gestacionais são um dos pontos mais críticos da suinocultura”, explica Patrycia Sato, médica-veterinária dedicada ao tema do bem-estar animal e uma das fundadoras da ONG Alianima, fundada em 2019 para atuar na proteção animal. 

A organização criou a plataforma Observatório Animal, para monitorar a transição das empresas e fomentar novas políticas, e acaba de lançar o relatório anual Observatório Suíno. 

O estudo compila resultados do questionário enviado a todas as empresas com compromissos voluntários de bem-estar na suinocultura para saber em que momento estão de suas metas. Também foram consultadas redes de lanchonetes que compram a carne e possuem compromissos. O estudo indica que as empresas estão em estágios diferentes de evolução de seus compromissos voluntários e embora estejam mais atentas ao tema, há um caminho longo a percorrer até 2029. 

A primeira edição do relatório buscou monitorar os avanços de dez empresas que hoje têm compromisso público de banir as celas de gestação na indústria da carne – Alegra Foods, Aurora, BFFC, BRF, Burger King, Frimesa, JBS, McDonald’s, Pamplona e Subway. 

A maioria respondeu às perguntas da Alianima. Entre as participantes, a Pamplona foi a que apresentou maior grau de evolução, com 77% das matrizes suínas já alojadas em baias em grupo durante a gestação. A JBS, segunda maior produtora de carne suína do mundo. também entrou em fase mais avançada, diz o estudo, com índice de 58%. A BRF, outra gigante do setor, têm 35% das suas matrizes suínas em baias coletivas. 

Segundo o Observatório Suino, a BRF, a JBS, a Aurora, a Pamplona, a Alegra e a Frimesa, que representam cerca de 60% do plantel nacional, assumiram o compromisso de abandonar o uso contínuo de gaiolas de gestação até 2026 – só a Alegra tem prazo até 2029. 

Todas as empresas produtoras de carne que responderam à pesquisa disseram que pretendem implementar ou já implementaram a castração cirúrgica com anestesia ou imunocastração. A maioria quer banir o corte dos dentes nos leitões. Só o corte de cauda é um procedimento que as empresas não demonstram intenção de cessar. 

“Dentro da suinocultura há questões de bem-estar animal que são problemáticas”, diz Patrycia Sato. “A visão que predomina no manejo dos animais é a eficiência econômica, poupar mão de obra, ter melhor aproveitamento da carne. Não se pensa que os animais sentem dor”, diz. 

O Brasil é o quarto maior produtor de suínos e o quarto maior exportador. Do total da produção nacional, 81% abastece o mercado interno e 19% segue para o exterior. A pauta mundial tem este tópico como tema crescente. Na União Europeia há restrições às celas gestacionais. Na Nova Zelândia não são mais permitidas No Canadá há prazo para banir. 

O Ministério da Agricultura prepara uma regra com prazo até 2035 para a indústria se adequar à gestação coletiva. Ongs pediram ao MAPA que o prazo seja revisto. “É excessivamente longo e os animais serão penalizados, sofrendo com a prática de extremo confinamento que é cruel e ultrapassada”, diz carta enviada ao ministério. 

Fonte: Valor Econômico.

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