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5 de setembro de 2011
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5 de setembro de 2011

Banco Central baixa a guarda e aumenta incertezas

O Banco Central e o Ministério da Fazenda aparentemente concatenaram uma ação conjunta visando a mudar o mix da política macroeconômica, conjugando um pouco confiável aperto fiscal a uma política monetária certamente mais frouxa, o que, no balanço, deveria manter o esforço - já não tão forte - de controle da inflação. Parece ter faltado, porém, o mesmo entendimento com o Ministério do Planejamento, cuja proposta orçamentária eleva as despesas de custeio em 15,9%, bem acima do crescimento previsto para o PIB.

As expectativas econômicas costumam funcionar como profecias autorrealizáveis. Por isso, a essência do regime de metas de inflação está em manter – através de medidas concretas que confiram credibilidade às autoridades – as expectativas constantemente próximas da meta. Não é o que vem acontecendo no Brasil: as expectativas indicam que o cumprimento da meta não se dará nem no corrente ano, nem no próximo.

As recentes decisões das autoridades econômicas brasileiras não contribuem para direcionar a inflação em direção à meta e podem estar desgastando severamente a credibilidade e, portanto, a eficácia do regime, que até aqui vinha sendo bem-sucedido.

O Banco Central e o Ministério da Fazenda aparentemente concatenaram uma ação conjunta visando a mudar o mix da política macroeconômica, conjugando um pouco confiável aperto fiscal a uma política monetária certamente mais frouxa, o que, no balanço, deveria manter o esforço – já não tão forte – de controle da inflação. Parece ter faltado, porém, o mesmo entendimento com o Ministério do Planejamento, cuja proposta orçamentária eleva as despesas de custeio em 15,9%, bem acima do crescimento previsto para o PIB.

O Banco Central, porém, não se perturbou com essa inconsistência e se apressou em reduzir os juros básicos em nada menos do que 0,5 ponto percentual, surpreendendo a maioria dos agentes e analistas de mercado. Teve, porém, de justificar sua decisão não tanto com base no acerto com a área fiscal, mas, sim, fundamentalmente com base no pior cenário possível para a crise internacional, qual seja, uma reedição do ocorrido há três anos.

É improvável, porém, que se repitam impropriedades como a que levou à quebra do Lehman Brothers e o rompimento dos canais interbancários. Isso quer dizer que o que não vai faltar é liquidez no mercado internacional, enquanto prosseguem as penosas e complexas negociações para serem vencidas as dificuldades de curto prazo e definidos programas de longo prazo que resgatem a sustentabilidade fiscal nos Estados Unidos e União Européia. Além disso, é improvável que, por causa da crise, os países emergentes e em desenvolvimento sofram a ponto de sacrificar o consumo de commodities, principalmente alimentos e petróleo, ambos com oferta restrita e incerta e com demanda ainda bastante firme.

Internamente, a economia segue em crescimento, que, embora mais lento, ainda viabiliza altas expressivas de preços nos segmentos de serviços, ao atacado e ao consumidor, como indicou a FGV com seu índice IGP-M, que cresceu 0,44% em agosto.

Seguindo influência externa, entre os produtos agrícolas, mantêm-se em alta o açúcar, a soja, o café e carnes. A produção de etanol não consegue acompanhar a demanda, e a Petrobras conta os dias para reajustar os preços da gasolina. A taxa de inflação segue fora da meta, com o IPCA-15 do IBGE acima de 7% nos últimos doze meses.

Pergunta que não quer calar: o Banco Central abandonou o programa de metas de inflação? Se não, como vai fazer para trazer as expectativas para perto da meta de 4,5%? Se sim, quais são os novos parâmetros para inflação e crescimento econômico? O clima de dúvidas e incertezas não pode perdurar.

Geraldo Barros é professor titular da USP/Esalq e coordenador científico do Cepea/Esalq/USP. Esse artigo foi publicado inicialmente no jornal Folha de SP.

0 Comments

  1. Emerson Figueira disse:

    A meu ver, a taxa Selic tem muito pouco impacto na contenção de consumo. E alto impacto na dívida do governo e nos investimentos produtivos.

    Ao diminuir a taxa, incentiva investimentos produtivos que são muito mais eficazes na contenção da inflação por aumentar a oferta de produtos. E ao mesmo tempo diminui a taxa de endividamento público que são a verdadeira causa dos juros extremamentes altos adotados no Brasil.

    Para regular o consumo seria muito mais eficiente um controle sobre os prazos de financiamentos de bens de consumo, esses sim a verdadeira parte que, infelizmente, interessa ao consumidor brasileiro. Já está provado que "ninguém" olha os juros e sim o valor das prestações.

    Muito boa a ação corajoso do BC de, aparentemente, pensar em mudar o sistema de controle da meta de inflação.

  2. Américo Barretto disse:

    Olha Emerson, concordo em partes, pois ao meu ver esse impacto em investimentos produtivos leva um tempo razoável para se concretizar e além do mais o país como um todo não tem infra-estrutura para suportar um crescimento de economia acima de algo como 6% a.a

  3. Délvio Luiz Rodrigues Berriel disse:

    Concordo com o Emersom.

    É preciso criar cada vez mais melhores condições de produção e crescimento da economia. Quanto maior a oferta de produtos,maior será a concorrência e consequentemente melhores preços, derrubando a inflação.  Com juros altos, poucas empresas conseguem produzir, permanecendo apenas as grandes(principalmente as multinacionais) no mercado e facilitando o monopólio.  

    Parabens ao BC pela coragem de mudar a forma desse controle.

  4. Luiz Henrique da Silva Mussio disse:

    Concordo com o Emerson.

    Trombini e Mantega tem mostrado uma unidade dificil de se ver, mas que parece ser o caminho para baratear o custo do dinheiro no país.

    A crise de 2008 não serviu de lição pra vários países, mas pro nosso serviu, muito melhor investir na economia real do que depender demais da economia de especulação.

  5. Pedro H. Germiniani Calvo disse:

    A taxa Selic está subindo para tentar conter a inflação. E o governo está fazendo o máximo para subir a taxa o mínimo possível!

    Acredito que estejam fazendo seu trabalho e muito bem feito por sinal, o problema é que o potencial de crescimento do Brasil é enorme, e ele existe (é factível). Só que se ele for "solto" rapidamente a inflação irá voltar a tomar conta do país (tradicional crescimento não sustentável).

    As grandes empresas vão bem por serem grandes e ter um poder de pressão muito grande em cima do governo. Se uma ameaça fechar uma unidade que seja por conta de algo, o governo irá tentar ajudar ao máximo para que não ocorra por conta do desemprego. As empresas menores são prejudicadas por conta de não ter esse poder de barganha para com o governo.

    Luiz, em questão de lição aprendida com a crise é difícil de falar por conta do Brasil ser um país muito peculiar do ponto de vista econômico. Nenhum país do mundo se assemelha às nossas taxas de juros, por exemplo, que são ~3x maior que a segunda maior taxa de juros do mundo!

    Isso é burrice, ou erro? Isso, de fato, traz dinheiro de fora para o Brasil: deixam o dinheiro aqui para receber os cerca de 6,5% ao ano (nossa taxa de juros real) e então pagamos os juros. Se esse sistema de controle é sustentável ou não, eu acredito que não e que o Brasil irá sentir os efeitos daqui à alguns anos. Mas à um curto prazo (que predominantemente as politicas brasileiras são) tem sido um sistema muito eficiente no controle da inflação.

    Eu arriscaria mudar o sistema nem que seja necessário dar um passo para traz para dar dois a frente.

  6. Emerson Figueira disse:

    Ainda acho que uma política de controle do crédito ao consumidor seria mais eficiente. Nós sabemos que a maioria dos consumidores brasileiros se preocupam mais com o valor da prestação do que com a taxa de juros. Tem loja vendendo fogão de R$ 300,00 em 24 parcelas!
    A única coisa que a alta taxa de juros ajuda no controle do consumo é pelo fato da população se endividar pagando juros e não ter mais condição de consumir.
    Outra coisa: o maior vilão da cadeia produtiva hoje é o cambio (depois dos impostos), mas não tem Banco Central que consiga segurar a cotação do dolar com tantas vantagens para quem aplica em Reais.

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