A pandemia do novo coronavírus levou os frigoríficos do país a adotarem novas medidas de segurança para garantir a saúde dos funcionários e evitar o fechamento de unidades após a ocorrência de casos de Covid-19 entre trabalhadores.
O Ministério Público do Trabalho (MPT) conduz 213 investigações com o objetivo de averiguar o que tem sido feito para evitar que a doença se alastre pelas empresas.
— Os frigoríficos estão sendo demonizados. Tomamos todas as medidas para que o coronavírus não se prolifere. O frigorífico não é imune, mas não é dentro dele que as pessoas estão se contaminando. Fora da fábrica, as pessoas vão a supermercados, farmácias — disse Ricardo Santin, diretor executivo da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).
Nos últimos 30 dias, o número de trabalhadores de frigoríficos infectados no Rio Grande do Sul, por exemplo, cresceu 40%, segundo o MPT.
Algumas unidades no país foram fechadas temporariamente, por decisão da Justiça, para que se adequassem às medidas de segurança determinadas pela fiscalização. Em junho, a China suspendeu as importações de seis frigoríficos de empresas como BRF, JBS e Marfrig.
Pressão Global
Especialistas consultados pelo GLOBO afirmam que não só no Brasil, mas em países como EUA e Alemanha, a atividade apresentou número elevado de infectados por conta do ambiente de trabalho considerado de risco para a disseminação da doença.
— Todo ambiente fechado, mal ventilado e onde as pessoas trabalham muito próximas tem maior risco e os frigoríficos estão nessa categoria — afirmou Rosana Richtmann, médica Infectologista do instituto de Infectologia Emilio Ribas, de São Paulo.
A gerente adjunta do Projeto de Adequação das Condições de Trabalho nos Frigoríficos do MPT, procuradora Priscila Dibi Schvarcz, disse que já era previsível que fossem detectados surtos de Covid-19 nessas unidades.
— Normas sanitárias existentes nos frigoríficos se destinam a proteger os produtos de contaminação, não as pessoas. Expedimos recomendações para tentar evitar esse surtos, mas houve pouca adesão das empresas — disse.
Mesmo com toda a pressão, as ações tomadas pelas autoridades não afetaram, até o momento, os resultados das empresas. O setor caminha para um ano forte.
Segundo dados da ABPA, a exportação de carne de frango pode crescer este ano de 3% a 5% frente ao ano passado. No caso de suínos, o cenário é ainda melhor: o avanço esperado varia de 27% a 33%, influenciado pelos problemas enfrentados pelos produtores de carne suína na China.
Aumento de 5% nas exportações
No caso da carne bovina, o segmento projeta um avanço de 5% nas vendas ao exterior neste ano frente 2019.
O consultor Welber Barral, da BMJ Consultores, especializado em comércio internacional e relações governamentais, lembra que a cadeia de proteína animal no Brasil é muito descentralizada, ao contrário da americana, onde poucos estados e frigoríficos concentram grande parte do suprimento do país.
A atividade tem peso econômico importante e só no primeiro semestre do ano movimentou US$ 8 bilhões em vendas ao exterior.
O Brasil exporta para mais de 160 países e é líder em venda de carne bovina no mundo. No caso de suínos, as exportações realizadas somente para a China na primeira metade do ano tiveram um crescimento de 150%, embaladas pela peste suína que afetou o rebanho chinês no ano passado.
— Apesar de a China ter suspendido as importações de poucos frigoríficos, não há no horizonte evento que possa impactar negativamente o setor. O dólar continua valorizado e as exportações devem continuar crescentes, mesmo com a questão ambiental como pano de fundo — disse o analista da Ativa Investimentos, Ilan Arbetman.
Protocolos de saúde
José Augusto de Castro, presidente executivo da Associação de Comércio Exterior Brasileira (AEB), acredita que qualquer impacto que o setor venha a sofrer por causa dos casos de Covid-19 em unidades será pontual:
— Pode ter algum impacto pequeno no volume ou no preço. Mas a demanda está alta, as cotações internacionais de suínos, por exemplo, seguem elevadas.
Ricardo Santin, da ABPA, diz que o setor adotou todas as normas exigidas pelos ministérios da Saúde, Economia e Agricultura, além das recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), com protocolo validado pelo Hospital Albert Einstein.
Entre as medidas adotadas pelas empresas estão a tomada de temperatura na entrada dos ônibus de transporte e das plantas, distanciamento mínimo de um metro entre funcionários nas linhas de produção e, onde isso não for possível, separação por anteparo acrílico. Funcionários também passaram a usar máscaras e protetores faciais.
A Associação Brasileira da Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), que representa os produtores de carne bovina, não quis se pronunciar.
JBS, BRF e Minerva Foods informaram que adotaram todos os protocolos de saúde e segurança, além de planos de contingência em todas as suas unidades.
Fonte: Jornal O Globo.