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Avaliação dos efeitos de calcários no perfil do solo

Normalmente, quando o calcário é aplicado ao solo, considera-se que ele deve reagir no perfil denominado arável, onde o sistema radicular estará presente em maior proporção. No entanto, em algumas explorações não é possível a incorporação do calcário por prejudicar a cultura já implantada. Assim, por exemplo, em pastagens formadas por muitas espécies e ou cultivares perenes, após amostragem do solo realizada no final da estação das águas, o produto é aplicado em superfície. Os animais continuam tendo acesso ao pasto e as fertilizações realizadas apenas no início da estação das águas. O grande questionamento que fica é se o produto aplicado sem incorporação terá possibilidade de corrigir o perfil do solo e em quanto tempo isso ocorrerá para ser efetivo na correção da acidez. Numa condição em que o agropecuarista está atrasado na prática da calagem, além do tipo de calcário, se a aplicação do produto for realizada próximo ao plantio ou semeadura, ele terá sucesso nessa prática?

Normalmente, quando o calcário é aplicado ao solo, considera-se que ele deve reagir no perfil denominado arável, onde o sistema radicular estará presente em maior proporção. No entanto, em algumas explorações não é possível a incorporação do calcário por prejudicar a cultura já implantada. Assim, por exemplo, em pastagens formadas por muitas espécies e ou cultivares perenes, após amostragem do solo realizada no final da estação das águas, o produto é aplicado em superfície. Os animais continuam tendo acesso ao pasto e as fertilizações realizadas apenas no início da estação das águas.

O grande questionamento que fica é se o produto aplicado sem incorporação terá possibilidade de corrigir o perfil do solo e em quanto tempo isso ocorrerá para ser efetivo na correção da acidez. Numa condição em que o agropecuarista está atrasado na prática da calagem, além do tipo de calcário, se a aplicação do produto for realizada próximo ao plantio ou semeadura, ele terá sucesso nessa prática?

Como sempre há essa dúvida por parte dos produtores, um experimento foi conduzido na Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos – FZEA/USP em Pirassununga, com o objetivo de avaliar os efeitos de tipos e doses de calcário na correção da acidez e saturação por base no perfil (0-5; 5-10; 10-20; 20-40; 40-60; 60-80 cm) e no tempo (15, 30, 45, 60, 90, 120, 180 e 360 dias), em um Latossolo Vermelho não férrico (solo argiloso).

Os dados analíticos, químicos e físicos do solo, anterior à distribuição dos tratamentos experimentais encontram-se, respectivamente, nas Tabelas 1 e 2. O calcário foi aplicado em superfície e não incorporado e as doses foram calculadas para elevar V% para 40 e 80%.

Os tratamentos foram dispostos em blocos completos ao acaso, com quatro repetições, em arranjo fatorial incompleto (5 tipos de calcário x 2 doses V= 40 e 80%), perfazendo um total de 44 unidades experimentais, uma vez que em quatro parcelas não foi feita a aplicação do produto.

Tabela 1. Atributos químicos do solo da área experimental no Campus da USP – Pirassununga-SP

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Tabela 2. Características físicas do solo utilizado no experimento

As informações técnicas, referentes aos calcários utilizados, estão inseridas na Tabela 3, segundo a antiga classificação de tipos de calcário de acordo com o teor de MgO.

Tabela 3. Características químicas dos calcários

É importante mencionar que o valor encontrado para reatividade (RE) significa que um valor percentual do poder de neutralização (PN) terá ação para corrigir o solo em 90 dias. A diferença entre PN e PRNT expressa o valor percentual que ficará sem reagir nesse tempo e que, portanto, terá efeito residual. Assim, o calcário dolomítico convencional terá 23% de seu calcário com poder residual após os 90 dias e o calcário dolomítico ¨Filler¨ reagirá totalmente nesse tempo.

Aos 15 dias após a calagem superficial, constatou-se aumento do pH em CaCl2, que se restringiu à camada de 20 cm para o calcário “Filler”, sendo que o efeito em profundidade, com o dolomítico convencional, somente ocorreu a partir dos 45 dias da calagem. A calagem ainda proporcionou redução nos teores de alumínio trocável, em que a ação do tipo “Filler” prevaleceu nas camadas superficiais, enquanto o dolomítico convencional e o calcinado promoveram redução do Al em profundidade. Para a camada de 20-40 cm (sub-superfície) notou-se ação mais efetiva para a elevação do pHCaCl2 para o calcário tipo “filler” seguido pelo calcinado e por último o convencional, de acordo com a Figura 1. A reação dos calcários no perfil do solo, em função do tempo, atingiu o maior valor de pHCaCl2 aos 90 dias, vindo a decrescer posteriormente e voltando às condições iniciais aos 360 dias, conforme pode ser observado na Tabela 3.

Figura 1. Valores de pHCaCl2 em função do tipo de calcário e época de avaliação para a camada de 20-40 cm

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Tabela 3. Valores de pHCaCl2 para a camada de 20-40 cm em função de doses de calcário e época de avaliação

Para o Ca notou-se, também, efeito evidenciando a movimentação no perfil do solo, Figura 2, no qual observam-se “picos” de Ca para as várias camadas do solo, por exemplo, para a camada de 0 – 5 cm ocorre maior valor aos 45 dias, enquanto que para a e 5 – 10cm aos 90 dias. A partir dos 10 cm, o calcário aplicado a lanço e sem incorporação tem pouco efeito de alterar os teores de Ca, ficando mais evidentes nas camadas superficiais (0 – 5 e 5 – 10).

Figura 2. Evolução do teor de Ca no perfil do solo para a dose de V=80% em função de época de amostragem

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Pelos teores de Ca ao longo do perfil do solo (Figura 3), percebe-se sua movimentação, atingindo maior valor em profundidade aos 90 dias, vindo a reduzir-se novamente aos 180 dias. Tal fato pode ser explicado pela ação conjunta da lixiviação do Ca e da remoção pelas plantas existentes. Esse comportamento confirma que a máxima reação do calcário ocorre por volta de 90 dias, sendo necessária então a antecedência da calagem em relação à semeadura ou plantio.

Figura 3. Teores de Ca no perfil do solo após 15, 90 e 180 dias da calagem

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Os dados da V% confirmaram a necessidade de um período de tempo para que ocorra a reação dos calcários no perfil do solo (Figura 4), para o qual se deve levar em conta o tipo de calcário (PRNT) e a camada desejada. No caso de pastagem a correção da camada de 0-10 cm ocorreria já aos 45 dias, enquanto que visando corrigir a camada até 20 cm demandaria maior período, ou seja, entre 60 e 90 dias, e para 20-40 cm acima de 90 dias.

Esses resultados evidenciaram a ação corretiva do calcário ao longo do perfil do solo, em função da reatividade, ou seja, o PRNT do produto, e do tempo de reação, confirmando a possibilidade de aplicação superficial sem a necessidade de incorporação, associado ao fato da pastagem ser formada, em sua maioria, por espécies e ou cultivares considerados perenes.

Dessa forma, deve-se considerar que os efeitos benéficos da calagem se dão ao longo do perfil do solo, porém dependendo do tipo de solo, produto, intensidade de uso da pastagem e dos fatores de acidificação, ela apresenta um período efetivo de correção, havendo a necessidade de se amostrar o solo anualmente, com perspectiva de se realizar a calagem novamente num período de 2 a 4 anos.

Figura 4 Valores de saturação por bases no perfil do solo durante o período de avaliação.

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11 Comments

  1. Christian Liber Ramos disse:

    Parabéns pelo artigo. Assunto de relevância, principalmente na conclusão: “confirmando a possibilidade de aplicação superficial sem a necessidade de incorporação…”

    E com relação ao gesso, como se comportaria?

    saudações

  2. Joao Aquiles Lopes da Silveira disse:

    Achei a matéria ótima, eu incorporo o calcário porque planto pastagens a lanço, mas a partir da matéria estou sabendo que não é nescessário a incorporação.

  3. luciano luiz pereira disse:

    Parabens pelo artigo, vem demonstrar o estudo em prol do produtor, tornando sua atividade mais fácil uma vez que não e necessário a incorporação ao solo, reduzindo custos.

    Saudações

  4. Paulo Itagiba Menezes Rios disse:

    Parabens pela matéria.

    Prezado professor, em relação a sua resposta para o questionamento do senhor “Christian Liber Ramos”, fazendo a aplicação de gesso na superficie sem sua incorporação não poderia acarretar uma lixiviação dos nutrientes na camada de 0 a 10 cm, pelo fato da grande mobilidade do gesso no solo?

    Obrigado.

  5. edimara souza disse:

    Em caso de sobre-semeadura de forrageira + leguminosa, é possível colocar no mesmo momento do plantio, o calcário junto com o SUPERFOSFATO, em renovadora de pastagens, sistema de plantio direto? Como a pastagem e a leguminosa visam a perenidade e a adubação verde há necessidade da correção da acidez 40 dias antes do plantio ou pode ser concomitante?

  6. Valdo Rodrigues Herling disse:

    Prezada Edimara Souza,

    Para a prática da sobressemeadura, como em qualquer outra, é sempre importante pensar que num curto espaço de tempo vamos ter uma planta ou plantas estabelecidas e que tem (têm) sua (s) necessidade (s) nutritiva (s). Para o caso específico mencionado na pergunta, seria interessante uma análise de solo prévia (90 dias antes do procedimento) para caso haja necessidade de calagem e em superfície essa possa ser feita com calcário de rápida reação. Quanto menor o tempo entre a calagem e a sobressemeadura é interessante maior rapidez de reação do calcário no solo, senão quando utilizar a fonte de fósforo mencionada, em pH alto (todo o calcário em superfície) haverá reação no sentido de fixar o fósforo formando fosfato tricalcico de baixa disponibilidade do fósforo à (s) planta (s).

  7. Valdo Rodrigues Herling disse:

    Prezado Guevara,

    É sempre bom saber que um canal de comunicação como esse traz benefícios às pessoas que necessitam de informação.
    Felecito você pelo interesse e fico feliz em saber que a matéria teve utilidade em seus procedimentos na fazenda.
    Abraço
    Valdo

  8. Valdo Rodrigues Herling disse:

    Prezado Paulo Rios

    Obrigado pela pergunta.

    A grande vantagem da utilização do gesso agrícola é devido às suas características de reação e de facilitar o trabalho na fazenda, não necessitando de incorporação. De qualquer forma o gesso por ser móvel no solo (mais que o ânion carbonato dos calcários) acarretará mobilidade de outros cátions como Ca, Mg, K. O importante é calcular a dose certa para cada situação. Para os casos de pastagens formadas, o sistema radicular estará pronto para absorver os nutrientes, mesmo havendo o caminhamento mais rápido para o caso do sulfato. No caso das pastagens formadas exclusivamente por gramíneas, estas têm seu sistema radicular concentrado em aproximadamente 90% nos primeiros 10 cm do perfil do solo.

  9. Alexandre Reis disse:

    Parabéns pelo excelente trabalho. Gostaria de saber se existe alguma pesquisa sobre aplicação de calcáreo em solos arenosos?

  10. domingos pires da silva junior disse:

    ola estou reformando pastos implantados em solos arenosos , favor inf em media com qto tempo antes da semeadura devo aplicar calcario para o mesmo fazer efeito.
    sem mais antecipadamente agradeço

  11. Valdo Rodrigues Herling disse:

    Prezados Alexandre Reis e Domingos Pires da Silva Junior

    1. existe várias pesquisas utilizando calagem em solos arenosos. Com certeza vai encontrá-las na Revista Ciência do Solo – publicação de Viçosa.

    2. O tempo entre a aplicação do calcário e o plantio ou semeadura vai depender do tipo de calcário usado, ou seja, vai depender do PRNT do produto. O PRNT expressa as características químicas e físicas do produto. Se mais reativo (PRNT alto – 132%) o produto poderá ser aplicado com antecedência de 30-50 dias e se for menos reativo (PRNT baixo – 70%) o produto deverá ser aplicado de 60 – 90 dias de antecedência. Neste caso o produto deverá ser incorporado a 20 cm de profundidade.

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