Mercado do boi gordo – 10/01/2007
11 de janeiro de 2007
BM&F: jan/07 fecha a R$ 51,90, R$ 1,51 abaixo do físico
15 de janeiro de 2007

Avaliação da reatividade de bovinos: uma ferramenta para seleção dos animais

Em rebanhos de gado de corte criados extensivamente, como no Brasil, Argentina e outros países com sistemas de produção semelhantes, a interação homem-animal é mínima, levando os animais a apresentarem reações particulares perante a presença humana, sendo em alguns casos não favoráveis ao manejo rotineiro.

Em rebanhos de gado de corte criados extensivamente, como no Brasil, Argentina e outros países com sistemas de produção semelhantes, a interação homem-animal é mínima, levando os animais a apresentarem reações particulares perante a presença humana, sendo em alguns casos não favoráveis ao manejo rotineiro.

Há muitas formas de contornar este problema, dentre elas a adequação de práticas de manejo (que deve ser alcançada com o treinamento da mão-de-obra) e a adoção de critérios de seleção que tenham em conta a característica, reatividade; essas ações podem ser adotadas mesmo em sistemas de criações extensivos, mas exige a identificação dos animais mais ou menos reativos.

De maneira prática, no desenvolvimento das atividades rotineiras da fazenda, o conceito de reatividade animal pode ser utilizado para indicar o quão fácil é aproximar-se de um animal, conduzi-lo, orientá-lo, enfim as facilidades e dificuldades de trabalhar com eles nestas diferentes situações.

Dado que a avaliação prática do temperamento é muito difícil (ou talvez impossível), devido sua complexidade e abrangência, julgamos mais adequado trabalhar como o conceito reatividade, definido pela qualidade ou estado daquele que protesta, luta (NOVO DICIONÁRIO AURÉLIO), que será aplicada a avaliação das reações dos animais a diferentes situações de manejo, sendo que estas reações invariavelmente estão associadas a estímulos ocasionados pela presença humana.

Desta forma, os produtores devem estar cientes da importância de se compreender e avaliar a reatividade dos bovinos, quer pela sua importância econômica (ao influenciar a produtividade do rebanho e a qualidade da carne) quer pelo comprometimento do bem-estar e segurança dos trabalhadores.

Então, como medir a reatividade?

Apesar da clara intenção de obter animais com reatividade favorável, não há muitos registros de como isso tem sido feito e, principalmente, de quais medidas têm sido utilizadas, as que são informações imprescindíveis a serem consideradas em programas de treinamento de mão-de-obra ou de melhoramento genético de rebanhos.

Existem numerosas pesquisas que desenvolverom diferentes metodologias de avaliação da reatividade.

Em geral para a avaliação da reatividade são aplicados escores predefinidos, baseados em classificações subjetivas. Para a avaliação, levamos em conta o grau de perturbação dos animais e a freqüência e vigor de certos movimentos, criando uma escala numérica (nominal), em que geralmente os animais classificados como 1 (um) são os menos reativos e 5 (cinco) os mais reativos (intratáveis ou perigosos).

Há ainda métodos que adotam medidas objetivas (escala numérica de razão) para a medida da reatividade, como por exemplo: a) o teste de velocidade da saída (ou “flight speed”) proposto por Burrow et al. (1988), que mede o tempo que os animais levam para percorrer uma determinada distância logo após serem soltos de uma situação de contenção quando o animal está isolado, sendo que os animais mais rápidos são considerados os mais reativos; b) a medida de distância de fuga, que é definida pela distância mínima de aproximação antes da fuga, esta avaliação também é feita com cada animal, isoladamente para evitar efeitos sociais (quando um animal agitado estimula o outro a também ficar agitado) e c) o tempo despendido com o manejo dos animais, como caracterizado por Boivin et al. (1992) que utilizaram dois testes (com restrição e sem restrição de movimentos).

Mecanismos que regulam a expressão da reatividade:

A expressão da reatividade, assim como de outras características fenotípicas, depende da ação de fatores ambientais e genéticos. Diferenças entre raças têm sido consistentemente descritas, por exemplo: em estudos realizados no Brasil, com novilhas de diferentes raças zebuínas (Nelore, Gir, Guzerá) e européia (Caracu) foi avaliada a reatividade durante a pesagem e a velocidade de saída, encontraram valores de herdabilidades iguais a 0,35 e 0,34, respectivamente (PIOVESAN, 1998).

Também trabalhando com um rebanho da raça Nelore Figueiredo et al., (2005) e Vasconcelos Silva et al, (2003); estimaram as herdabilidades da distância de fuga em 0,16 e 0,13, respectivamente. As correlações genéticas obtidas por Figueiredo et al., (2005), com caracteres de produção sugerem haver uma associação favorável, com animais com menor distância de fuga apresentando melhor desenvolvimento ponderal.

Em geral é reconhecido que os animais zebuínos e seus cruzados apresentam maior reatividade, sugerindo ser interessante desenvolver estratégias para a seleção de animais com menor reatividade. Além disso, é possível diminuir a expressão da reatividade pela adequação do manejo; existem evidências de que o manejo mal conduzido resulta em comprometimento no desempenho dos bovinos e aumento da reatividade.

São sugeridas vantagens na utilização de práticas não hostis durante a rotina de manejo a fim de reduzir riscos e prejuízos, tanto para o homem quanto para os animais. É também reconhecido que o treinamento dos animais pode influenciar de forma definitiva na expressão da reatividade, podendo ser modificada pela redução de medo em relação ao ser humano e ao tipo de manejo (Aguilar et al., 2004).

Relações da reatividade com caracteres produtivos e reprodutivos

A importância da avaliação da reatividade em relação às características produtivas, reprodutivas e de adaptabilidade vem sendo demonstrada por vários estudos, sendo comprovado que a reatividade exagerada afeta de maneira negativa praticamente todas as características de importância econômica para o sistema de produção.

Borba et al. (1997) trabalhando com animais de raça Nelore no Brasil, demonstraram correlações positivas entre a distância de fuga (DF) e o ganho de peso em novilhos em regime de semi-confinamento e, também, entre DF e o peso aos 550 dias de idade (P<0,01; r=0,23 e r=0,27, respectivamente). Por outro lado, Piovesan (1998) demonstrou que a seleção para peso e ganho de peso influenciou favoravelmente a reatividade dos animais (diminuindo-a). Há ainda evidências de que outras características de interesse econômico, como a qualidade final da carne, podem ser afetadas pelo genótipo e a reatividade em bovinos de corte, por exemplo, Barbosa Silveira et al. (2006) encontraram que bovinos cruzados Nelore e Angus mais reativos apresentaram menor ganho de peso e maior velocidade inicial da glicólise anaeróbia, que afeta a qualidade da carne. Há também a possibilidade da reatividade influenciar também certas características reprodutivas, como apresentação de cio, produção de espermatozóides e óvulos viáveis, número de doses de sêmen por inseminação e taxa de gestação. Estudando o efeito da reatividade sobre o sucesso na inseminação artificial Burrow et al. (1988), concluíram que fêmeas com piores notas no teste de velocidade da saída apresentavam menor número de cios perceptíveis a um observador do que aquelas com notas mais favoráveis ao teste. Estes resultados mostraram a importância da avaliação da reatividade dos animais em programas de inseminação artificial. Para os reprodutores machos é de importância a avaliação desta característica já que machos dominantes com baixa fertilidade podem afetar o índice de prenhez do rebanho em geral. Além disso, o reprodutor pode estar imprimindo esta característica na sua descendência (FORDYCE et al., 1992). Estes resultados demonstram que a avaliação da reatividade pode ter um papel importante no manejo de fertilidade do rebanho em geral. Bibliografia consultada

AGUILAR, N.M.A.; BALBUENA, O.; PARANHOS DA COSTA, M.J.R. Evaluacion del temperamento em bovinos cruza cebú. In: ENCONTRO ANUAL DE ETOLOGIA – Comportamento e Desenvolvimento Sustentável, 22. Campo Grande. Anais… Campo Grande: Sociedade Brasileira de Etologia/Elohim reproduções, CD-ROM, 2004.

BARBOSA SILVEIRA, I. D.; FISCHER, V.; DORNELES SOARES, G. J. Relação entre o genótipo e o temperamento de novilhos em pastejo e seu efeito na qualidade da carne. Revista Brasilera de Zootecnia, v.35, n.2, p.519-526, 2006.

BURROW, H.W.; SEIFERT, G.W.; COBERT, N.J. A new technique for measuring temperament in cattle. Proceedings of Australian Society of Animal Production, 17: 154-157, 1988.

FIGUEIREDO, L. G.; PEREIRA ELER, J.; BARRETO MOURÃO, G., STERMAN FERRAZ, J.B.; CARVALHO BALIEIRO, J.C.; CHICARONI DE MATTOS, E. Análise genética do Temperamento em uma população da raça Nelore. Livestock Research for Rural Development 17 (7), 2005.

FORDYCE, G.; BURROW, H.M. Temperament of Bos indicus bulls and its influence on reprodutive efficiency in the tropics. Bull fertility Proceedings of a workshop held at Rockhampton. Queensland, 1992.

GRANDIN, T. Principios de comportamiento animal para el manejo de bovinos y otros herbívoros en condiciones extensivas. Temple Grandin (Comp.) Livestock Handling And Transport. Cabi Publishing, Wallingford, Oxon (Reino Unido), Capítulo 5 (pp. 63-85), 2000.

PIOVESAN, U. Análise de fatores genéticos e ambientais na reatividade de quatro raças de bovinos de corte ao manejo. Jaboticabal-SP, 1998, 51 pp. Dissertação (Mestrado em Zootecnia), Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista, 1998.

VASCONCELOS SILVA, J. A. II.; MATSUNAGA, M.E.; PEREIRA ELER, J.; STERMAN FERRAZ, J.B. Análisis genético de la distancia de fuga en un rebaño de raza Nelore (Bos taurus indicus). Información técnica económica agraria. Vol. 99 A Nº 3: 167-176, 2003.

3 Comments

  1. Rogerio Faria disse:

    Excelente artigo! Existe a necessidade de mais estudos nesse sentido.

  2. Natalia Aguilar disse:

    Muy buen trabajo

  3. cezar Gonçalves santos disse:

    Tabalho muito bem elaborado.

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