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Austrália: conheça o caminho da produção de carne do pasto ao prato do consumidor (MSA)

Comentário BeefPoint: Leia o artigo que nossa equipe traduziu explicando como a Austrália saiu de uma crise e aumentou a qualidade da carne bovina produzida no país, beneficiando produtores, frigoríficos, varejistas e restaurantes. Percebam como é semelhante a situação atual da pecuária de corte brasileira com a da Austrália em 1998.

Com o objetivo de aumentar a procura por carne vermelha no mercado nacional e internacional, produtores australianos fundaram em 1998 a organização Meat and Livestock Australia (MLA). Esta oferece suporte à cadeia produtiva para melhorar sua competitividade, fornecer carne de melhor qualidade e buscar o aumento no consumo de carne.

O apoio baseia-se em investimento em serviços, marketing e pesquisa, tanto para a fase produtiva quanto para a indústria da cadeia produtiva de carne bovina, ovina e caprina.

A necessidade da criação desta instituição veio de uma avaliação que demonstrou os motivos da redução do consumo interno de carne na Austrália, esta confirmou que a falta de qualidade e padronização do produto não eram garantidas, os preços da carne estavam caindo e toda a cadeia de produção estava sendo prejudicada.

Os trabalhos para identificar os motivos desta baixa procura começaram em 1993. Foi feita uma análise sensorial e foram avaliados maciez, suculência, sabor e satisfação geral. Pela análise, observou-se que 46% dos consumidores ficaram insatisfeitos com o produto.

Para mudar essa visão, a organização MLA criou o programa Meat Standards Australia (MSA), um programa de qualidade de carne que classifica a carne fornecida pelos frigoríficos às indústrias de alimentos (redes de alimentação, restaurantes, varejo) conforme suas atribuições para consumo.

A classificação MSA segue a seguinte metodologia: os consumidores são recrutados na comunidade, representando diferentes formações e áreas de atuação. Os avaliadores precisam ter entre 20 e 50 anos, precisam comer carne uma ou mais vezes por semana e devem preferir carne com cozimento médio.

Cada consumidor preenche um escore no papel para cada amostra testada. Isso envolve marcar em linhas escores de maciez, suculência, “flavour” e preferência. Para esse último deve indicar em quatro espaços se a amostra é insatisfatória, ordinária (comum), melhor que a ordinária (comum) e qualidade premium.

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A classificação vem para diminuir problemas relacionados à qualidade e padronização do produto, pois informa as características da carne e o melhor método de preparo para cada corte, dependendo das características da carcaça do animal. A classificação MSA proporciona ao consumidor garantia de qualidade associando o método de cozimento e ensinando aos  consumidores o que eles precisam  saber sobre a compra e preparo da carne.

São avaliados neste método o grau de marmorização, o escore de maturidade ou ossificação, a altura do cupim, o pH, a cor da gordura, a cor da carne e a quantidade de gordura subcutânea.

Classificação quanto ao grau de marmorização

A marmorização é a gordura depositada entre as fibras musculares do músculo longissimus dorsi. O grau de marmorização fornece uma indicação da distribuição de gordura, assim como, a quantidade de marmorização.

O escore varia de 200 a 1.100 com aumentos de 10 e fornece uma indicação da distribuição de gordura, assim como, a quantidade de marmorização, conforme as fotos abaixo:

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Classificação quanto ao escore de maturidade ou ossificação (OSS):

O escore de maturidade fornece uma escala para avaliação da idade fisiológica do animal. O termo refere-se a cartilagem transformando-se em osso nos processos espinhosos em três seções ao longo do osso sacral (cauda), lombar (lombo) e toráxica (cabeça). O processo inicia na região sacral na forma de manchas vermelhas e o processo aumenta tornando os ossos firmes e amarelos. A maturidade é medida no acréscimo de 10 pontos, sendo o menor 100 e o maior 590.

Classificação quanto à altura do cupim

O cupim é medido segurando uma régua paralela às costelas. A régua é movida na posição de maior largura do cupim e inclui toda a carne do topo (dorsal) do Ligamentum nuchae e através do topo (dorsal) na superfície do cupim.

A altura do cupim é usada para verificar o conteúdo de raça tropical que será indicado pelo MSA na declaração de venda.

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Classificação quanto ao pH final

É uma avaliação da quantidade de ácido lático no músculo. A medida é feita com pHmetro antes de cada classificação.

O pH ótimo da carne é 5,3 – 5,7. Com níveis maiores a carcaça é desclassificada (non-MSA product).

O pH é o mais acurado indicador de qualidade e parte essencial para o processo de classificação. Isso é influenciado pelo tratamento pós-abate como a estimulação elétrica e temperatura. O sistema de classificação MSA requer que a taxa de declínio do pH seja controlada.

Classificação quanto a cor da carne

A cor da carne é avaliada no olho de lombo do músculo longissimus dorsi. É medido na carcaça fria e o escore é dado de acordo com o AUS-Meat Colour Reference Standards na área do músculo que demonstra a cor predominante. Cortes escuros (4 ou mais) resultam na desclassificação da carcaça.

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Classificação quanto a cor da gordura

A cor da gordura é mensurada na gordura intermuscular lateral ao olho do lombo. É avaliado na carcaça fria e o escore é dado de acordo com o AUSmeat Fat Colour Reference Standards.

A cor da gordura é medida pela comparação da gordura intermuscular lateral ao longissimus dorsi e adjacente ao músculo iliocostalis. Quando a cor da gordura fica entre dois escores prevalece o escore mais amarelo.

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Classificação quanto a gordura subcutânea: 

A gordura subcutânea é medida em milímetros e a espessura é medida em costela específica. Deve conter no mínimo 3mm da gordura da costela de temperatura na carcaça durante o resfriamento evitando o “cold shortening”.

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No programa MSA os fatores de classificação são independentes dos fatores de produção.

Fatores que desclassificam a carcaça:

• gordura da costela menor que 3mm

• ossificação escore 300 ou mais

• distribuição de gordura (desigual distribuição sobre o lombo, traseiro e dianteiro)

• pH (5,71 e superior)

• cor da carne (4 e superior)

• contusões e hematomas

• temperatura alta (deve ser inferior a 12 °C)

• excesso de danos nos cortes primários

• especificação da empresa

Seguem opiniões dos envolvidos em todo o processo, no caminho da carne bovina do pasto ao prato.

Visão dos produtores

O MSA tem protocolos de prática para produtores. Alguns  já seguiam a maioria dessas diretrizes antes de se registrar no MSA em 1999.

“Já tínhamos um compromisso total em produzir carne de qualidade máxima para o mercado”, disse Alison Cameron, de Walcha, New South Wales. “Por 25 anos, trabalhamos com nosso rebanho a partir do desmame com 8 a 9 meses de idade e um manejo intensivo para garantir que eles ficassem menos estressados durante o manejo e transporte. Essa prática parece funcionar bem para cumprir os critérios do MSA.”

Don e Alisson abatem anualmente mais de 400 novilhos e novilhas predominantemente dente de leite e dois dentes. Eles produzem novilhos da raça doméstica Shorthorn e cruzados Shorthorn-Angus, e compram novilhos comerciais que cumpram com as especificações. Cerca de 50% a 60% de seu gado vão para o Wingham Beef Exports para produzirem a marca ‘Manning Valley… Naturally’, apoiada pelo MSA.

Alguns produtores recebem um retorno detalhado sobre a carcaça MSA de Wingham, que eles usam para ajustar seu programa de cria. Identificamos individualmente todos os animais, reprodutores e reprodutoras, para monitorar o desempenho da progênie.

“Nós também usamos o retorno do MSA para comparar o desempenho de nossos animais com as médias regionais e estaduais, que é uma ferramenta de comercialização dos reprodutores”.

Visão dos frigoríficos

A demanda dos consumidores direcionou o Nippon Meat Packers Australia a adotar a classificação MSA em sua planta Wingham Beef Exports em setembro de 2011. O frigorífico recebeu sinais de que os varejistas locais e os clientes de foodservice estavam buscando mirar no mercado de alta qualidade.

“É importante para nós e nossa marca estarmos alinhados com o MSA, bem como isso apoiar nosso produto”, disse o gerente geral do Wingham Beef Exports, Grant Coleman. Também acreditamos que, dados os recursos de pasto nessa área, sob o MSA, nossa carne a pasto Manning Valley Naturally (MVN), tem a mesma qualidade, se não melhor, do que a carne doméstica produzida com grãos.

Além de adotar a classificação MSA, o Wingham lançou uma marca premium, específica de uma região, a Manning Valley Naturally (MVN), baseada em características específicas: dente de leite e dois dentes, criado a pasto, livre de hormônios promotores de crescimento e rebanho britânico. O frigorífico tem ganhado prêmios por produzir  “alimentos finos” em todo o país.

 The Manning Valley

Como parte do programa MSA, Wingham segregou os animais que têm maior qualidade de consumo baseado na classificação MSA, criando uma gama Platinum da MVN. A gama Platinum oferece filés mignon cinco estrelas MSA, cube rolls quatro estrelas, striploins três estrelas e rumps com requerimentos mínimos de maturação, e visa restaurantes e açougues de alta qualidade.

Para obter e manter o cumprimento do MSA, o Wingham trabalha com produtores para comunicar os benefícios de produzir rebanhos que se encaixem nas especificações do MSA.

Visão do varejista

A classificação MSA resolveu um problema que estava atrapalhando o açougueiro, Robert Trenchard, de 57 anos. Agora dono do Wingham Plaza Butchery, ele vem trabalhando em açougues desde que tinha 10 anos e frequentemente descobriu que a consistência da carne encaixotada era um problema.

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“Você poderia pedir uma caixa de alcatra, por exemplo, e mesmo todas sendo de animais de um ano, você podia ter três classificações diferentes. Com o MSA, elas dão a você uma promessa de que todas as carnes serão a mesma, e é exatamente o que você tem”, afirma.

O Wingham Plaza Butchery tornou-se o último açougue licenciado do MSA no ano passado e cobra um preço premium pela carne classificada pelo MSA, usando o apoio da qualidade do programa como uma ferramenta de marketing junto a seus clientes.

A loja vende a marca Manning Valley Naturally, identificando o produto MSA para seus clientes, usando materiais nos locais de venda com o logotipo “MSA Graded”. Eles também fizeram testes de sabor nas lojas para conscientizar seus clientes sobre o MSA.

Visão dos restaurantes

A carne da marca Manning Valley Naturally é “perfeitamente adequada” para as lanchonetes e restaurantes regionais de Wingham, como a Bento on Food. A dona, Donna Carrier, abriu a loja há oito anos como uma loja para produtores locais em Mid North Coast, e disse que a marca apoiada pelo MSA se adequa à sua filosofia de excelência.

O negócio ganhou 24 importantes prêmios, incluindo dois prêmios nacionais. A MVN também é vencedora de prêmios, produz um produto de alta qualidade, portanto, se adequa perfeitamente com o que fazem.

A Bento on Food e os donos da marca, Wingham Beef Exports, estabeleceram uma relação próxima nos últimos anos. Tem fornecido carne para ser usada em churrascarias às sextas e sábados.

A Bent on Food se tornou licenciada do MSA há dois anos, após ter sido abordada pelo Meat and Livestock Australia (MLA).

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Fonte: beefcentral.com e fmvz.unesp.br, traduzida e adaptada pela Equipe BeefPoint.

1 Comment

  1. O MSA é o programa que garante a qualidade de consumo da carne bovina e ovina da Austrália. Todas as propriedades certificadas no PCAS precisam ser credenciadas pelo MSA. Todos os gados enviados para abate como Certified Pastturefed precisam ser acompanhados por uma Declaração do Vendedor do MSA. Acesse o link para mais informações sobre o MSA.

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