No último artigo deste radar (Consumo de matéria seca e desempenho animal em pastagens tropicais) foi ressaltada a importância da estrutura do pasto para maximizar o consumo e o desempenho animal. A estrutura do pasto, por outro lado, também interfere na eficiência de colheita da forragem pelos animais.
O desenvolvimento das hastes favorece o aumento da produção de matéria seca, no entanto, pode ter efeitos negativos sobre o aproveitamento e a qualidade da forragem produzida reduzindo a eficiência do sistema de duas formas: limitando a capacidade de colheita da forragem pelo animal ou reduzindo o seu valor alimentar.
Em gramíneas forrageiras, o alongamento das hastes é, normalmente, concomitante ao florescimento. Nesse período, a relação folha:haste diminui rapidamente, pois além do crescimento das hastes ser maior, o aparecimento de folhas cessa após o lançamento das inflorescências. Além disso, a altura das hastes está relacionada à quantidade de perdas devido ao pastejo. Por fim, o valor nutritivo das folhas cai mais lentamente que o das hastes com o aumento da idade do capim. No início da estação de crescimento o valor nutritivo das hastes e folhas é semelhante, porém a haste apresenta uma queda acentuada de qualidade com o passar do tempo.
A estrutura do pasto pode ser alterada por meio do manejo. Para os capins Tanzânia e Mombaça (Panicum maximum Jacq.), por exemplo, o aumento da intensidade e/ou freqüência de pastejo a partir de fevereiro reduz o número de perfilhos reprodutivos e a participação das hastes e aumenta a participação das folhas na massa de forragem.
No experimento conduzido por Barbosa (2004), o capim-tanzânia foi submetido a duas alturas de resíduo pós-pastejo (25 e 50 cm) e três freqüências de desfolha (90, 95, e 100% de interceptação luminosa).
O autor observou que o maior acúmulo de matéria seca total e de lâminas foliares durante o período experimental ocorreu com o tratamento 25/95, indicando que a rebrota acima de 95% de interceptação luminosa não é interessante para esse capim. Foi observado ainda que no outono, período de maior alongamento das hastes devido ao florescimento, a massa de hastes foi menor e a de folhas maior para o tratamento que combinava pastejos mais baixos e freqüentes (25/90).
No estudo de Barbosa (2004) o pastejo com 90 e 95% de interceptação luminosa correspondeu à entrada dos animais no pasto com uma altura média de 62 e 71 cm, respectivamente. No outono, o intervalo entre pastejos do tratamento 25/90 foi, em média, de 30 dias.
Comentário dos autores: Os resultados obtidos por Barbosa (2004) indicam que aumentar a freqüência de pastejo do capim-tanzânia durante o outono é uma boa alternativa para se controlar o desenvolvimento das hastes. No entanto, esse estudo teve duração de um ano, não sendo possível avaliar os efeitos do manejo sobre as características físicas e químicas do solo e a perenidade do pasto. Estudos mais amplos e de maior duração são necessários para definir o manejo dessas espécies de forma a garantir a sustentabilidade e produtividade do sistema de produção animal.
Bibliografia consultada
BARBOSA, R.A. Características morfofisiológicas e acúmulo de forragem em capim-tanzânia (Panicum maximum Jacq. Cv. Tanzânia) submetido a freqüências e intensidades de pastejo. Viçosa, 2004. 119p. Tese (Doutorado) – Universidade Federal de Viçosa.