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Aumentar a proximidade na pecuária de corte vai ser fundamental

No final do workshop BeefPoint sobre mercado do boi, realizado em maio, um dos participantes veio me falar sobre a palestra do JBS-Friboi. O comentário que esse participante me fez foi muito interessante. Ele disse: "Nós (produtores) criticamos, brigamos e nos colocamos contra o Friboi em muitas e muitas situações. Temos eles como nossos inimigos. Na maior parte do tempo estamos contra eles. E é incrível ver tudo isso que eles estão fazendo. Há muita coisa boa. Há muita coisa que eles fazem que precisamos aplaudir. Eles estão trabalhando (e muito) para vender melhor a nossa carne". Essa necessidade de melhorar e ao mesmo tempo mostrar que melhoramos será mais rapidamente alcançada se a troca de informações, se a proximidade e o contato entre produtor e indústria aumentarem. Que esse comentário sirva de reforço de que já existe muita coisa boa sendo feita, precisa ser melhor contada aos envolvidos na produção de carne bovina no Brasil.

No final do workshop BeefPoint sobre mercado do boi, realizado em maio, um dos participantes veio me falar sobre a palestra do JBS-Friboi. Flávio Saldanha, gerente de marketing do frigorífico, tinha apresentado o trabalho de marketing que a empresa faz em diversas frentes: publicidade, eventos, treinamentos com varejo e cliente final. Uma série de ações muito interessantes e que a maioria das pessoas ali presentes não sabia que eram feitas. O final da palestra foi um vídeo making-of das ações em bares e restaurantes.

O comentário que esse participante me fez foi muito interessante. Ele disse: “Nós (produtores) criticamos, brigamos e nos colocamos contra o Friboi em muitas e muitas situações. Temos eles como nossos inimigos. Na maior parte do tempo estamos contra eles. E é incrível ver tudo isso que eles estão fazendo. Há muita coisa boa. Há muita coisa que eles fazem que precisamos aplaudir. Eles estão trabalhando (e muito) para vender melhor a nossa carne”.

O mais interessante é que esse participante é um representante de produtores muito combativo, inteligente e crítico em relação a todas as ações dos frigoríficos, em diversas áreas, incluindo preço do boi, concentração da indústria, pedidos de recuperação judicial e sustentabilidade. A pessoa é bem informada e estava surpresa e elogiava a iniciativa do maior frigorífico brasileiro.

Essa situação pontual pode nos ajudar a discutir uma questão mais ampla dentro da cadeia da carne: a aproximação e troca de informações.

Produtores e frigoríficos têm uma série de pontos divergentes. Há a constante disputa de preço no mercado. Há a questão da concentração da indústria e aumento do poder de barganha. Houve o processo no CADE contra a cartelização dos frigoríficos. Há a percepção de que o lucro do frigorífico vem da compra do boi barato. Alguém já disse, há muito tempo: “Não existe realidade, apenas percepções”. E isso se aplica a cadeia da carne. A rastreabilidade e sustentabilidade também tem sido pontos de divergência entre produtores e frigoríficos. E com o tempo, pelas divergências aparecerem muito mais, incomodarem muito mais, parece que tudo é divergência. Parece que em todas as questões, a relação produtor-frigorífico é um jogo de soma zero: onde o onde o frigorífico ganha e o produtor perde ou vice-versa.

A verdade é que existem inúmeros pontos de convergência. Inúmeras questões onde produtores e frigoríficos ganham juntos. Isso precisa ser mais lembrado, mais divulgado e mais discutido. Há muitos pontos onde os interesses dos dois elos são iguais, onde os dois ganham, ou os dois perdem.

A defesa e promoção da carne bovina pode e deve ser feita por todos os elos da cadeia. Em outros países, produtores também financiam essa iniciativa, não por altruísmo, mas por interesse próprio. E o investimento e dedicação tem trazido resultados financeiros comprovados. Aqui no Brasil pouco tem sido investido nessa área por qualquer elo da cadeia. Vale frisar que a cadeia da carne vem passando por um crescente de ataques de todas as frentes, no Brasil e no exterior. Ataques relacionados a nutrição, vida saudável, bem-estar animal, meio ambiente e até mesmo trabalho escravo e lavagem de dinheiro. Esse ativismo contra a carne precisa ser enfrentado pró-ativamente. Como disse um especialista em comunicação, “Não comunicar cria um vácuo que é preenchido por maldade, desinformação e mentira”. Infelizmente, por uma falha do setor como um todo em contar sua história, isso tem acontecido muito. O SIC (Serviço de Informação da Carne) está sendo reforçado para aumentar seu alcance e poder de ação, e vai precisar do financiamento de toda cadeia.

Essa aproximação pode trazer outros benefícios. A maior proximidade aumenta a empatia entre as partes. Apenas por sermos mais próximos, temos a tendência de aceitar, entender melhor o outro. Essa é uma característica do ser humano. Isso pode ser mais exercitado por todos.

Essa maior proximidade pode melhorar a troca de informação. Ainda falta informação básica por exemplo sobre qual o boi ideal desejado pela indústria. São várias características e é claro há variações, dependendo do mercado almejado, do cliente que se deseja atender. Explicar essas variações mostrando os alvos mais desejados (podem e devem ser vários) poderia ser feito com mais intensidade. Acredito que a indústria ainda não dedicou todo empenho possível nessa área, tendo optado por focar eficiência e produtividade. A crise econômica, problemas de caixa e pedidos de recuperação judicial atrasam ainda mais o avanço nesse tema.

Há outra informação que vai ser cada vez mais valiosa, para produtores e para frigoríficos. São os exemplos, os casos de sucesso de fazendas altamente produtivas, fazendas que são exemplos em qualidade, gestão, lucratividade e também em relação a sustentabilidade e em atender segmentos de mercado mais específicos e exigentes.

Isso será muito importante para produtores que queiram também melhorar suas atividades, em diversos sentidos. Alguns vão mirar a eficência, outros a qualidade, outros a questão sustentabilidade como primeiro ponto. Isso vai depender do mercado, da vontade individual do produtor e da vocação de cada propriedade. O ponto aqui é o uso de exemplos para inspirar e guiar no avanço mais rápido rumo a meta estipulada. O uso de referências para comparação e avaliação ainda vai crescer muito na pecuária e vai ser usado de forma muito mais ampla.

Por outro lado, essas informações de fazendas de sucesso, fazendas modelo, podem ser usadas de forma magnífica para mostrar a nova cara da pecuária. Para mostrar o que temos de melhor na pecuária e que esse melhor cresce a cada dia, se torna mais presente na realidade brasileira. Acredito que essa será a melhor forma (pró-ativa por definição) de mostrar a situação atual da pecuária e para onde estamos caminhando. Isso vai ser muito vantajoso para frigoríficos, e para todo o setor.

Essa necessidade de melhorar e ao mesmo tempo mostrar que melhoramos será mais rapidamente alcançada se a troca de informações, se a proximidade e o contato entre produtor e indústria aumentarem. Que a passagem relatada no início desse artigo sirva de reforço de que já existe muita coisa boa sendo feita, precisa ser melhor contada aos envolvidos na produção de carne bovina no Brasil.

0 Comments

  1. Denio Altivo de Oliveiro disse:

    Acho muito “glorioso” o trabalho feito pela gigante JBS, que com recursos do governo vêm a todo momento apertando a margem dos concorrentes para que num futuro próximo possa recuperar em dobro o que vem perdendo, e muito,com suas ações no mercado,principalmente o interno.

    Com sua política de ser o todo poderoso,majoritário e de preferência o “único”, financiado pelo governo, sabe-se lá a que custos, usando o dinheiro de uma instituição (BNDS) que deveria ajudar a todos para que a concorrência aumentasse,e só assim o produtor poderia se sentir seguro e confiante para tocar a sua vida,investindo em melhoramentos,sem a desconfiança que ficará a mercê de um grande e só poderoso.Desconfio que após derrubar todos os seus concorrentes ele (JBS) passe a ditar o preço de mercado,e após esta fase partir(como já faz) a produzir gado para seu próprio sustento e seu próximo passo deverá ser concorrer com os próprios produtores com dinheiro do governo para também ficar sozinho neste seguimento.

    Gostaria que nem todos os produtores caíssem nesta armadilha e fizessem um exame de consciência,valorizando os seus parceiros de anos e lutem com todas as forças para não virarem como no passado escravos de bancos,que é o que não passa o já conhecido JBNDS. Desculpem meu desabafo e muito obrigado.

  2. Luiz Augusto Ribeiro do Valle disse:

    estou me cansando dos modernosos.
    é melhor você ler Adam Smith.

  3. Keila C. Guimarães disse:

    Sim, eu acredito que o fluxo de informações na cadeia pecuária no Brasil deveria ser maior ordenado. Tanto de governo para produtores, produtores para frigoríficos, cadeia para o consumidor e tudo isso vice-e-versa.
    Porém, gostaria de frisar um ponto mto importante: apenas gestão de informação não muda cenário algum.
    Às vezes, há outros fatores que emperram o desenvolvimento.
    Como dizia uma das minhas professoras: a informação não salva a pátria. Ela é apenas um dos pés do tripé da gestão.

  4. Miguel da Rocha Cavalcanti disse:

    Olá Keila, obrigado pelo comentário.

    Realmente a informação é apenas uma parte. É preciso método de trabalho e liderança para fazer acontecer.

    A informação também não será a solução de todos os problemas, mas será fundamental para buscar mais eficiência, qualidade e diferenciação.

    Abs, Miguel

  5. Mario Wolf Filho disse:

    Olha Muguel o JBS é tão bonzinho que com o nosso capital esta oferecento juros subsidiando o nosso produtor a 2% ao mes não a o ano acredito que seja tão mais baixo que os js. dos EUA, Australia etc.
    Fico orgulhoso que em Diamantino no MT tem uma unidade com capacidade de abate de 3400 bovinos dias e esta para colaborar com nos pecuarista somente abatendo 800 cabeças dias deve ser seus proprietarisos que estão bancando com essa ociosidade e não o BENDES.
    O produtor faz manqueira com rampa reta para entrar na carreta do Frigorifico para evitar contuzões, e la dentro é um sobe e desse que pareçe uma mantanha russa, mas e a Ind. que perde na hora da faca tirar as peças contundidas/
    Por toda essa generosidade pecuarista deixe de ser otario, vamos fazer uma campanha de boi na balança do produtor podem até exigir balança eletronica. vamos aderir a essa ferramenta de vendermos nosso boi através da b b m com 90% atecipado chega de calote quem garante que um gigante desse numa crise não pode dar o calote.

    mario wolf filho
    Pres. do Sind. Rural de Nova Canaã do Norte.

  6. Luiz Paulo Piotto disse:

    Realmente gostaria de ver uma ação para produtores e frigoríficos si unirem e crescer juntos.

    Espero que todos da cadeia vejam isto antes que seja tarde.

    Nossa pecuária está morrendo.

    Na minha região o eucalípto está tomando conta e muitos vizinhos já sucumbiram aos valores oferecidos por suas terras.

    Será que a oferta vai diminuir e os preços vão reagir?
    Já pensei isto antes, mas daí fecha um frigorífico aqui, outro alí… já sabemos como funciona.

    Por que aqueles que plantam eucalípto tem dinheiro para comprar terras de pecuarístas?

    Simples:

    NOSSA PECUÁRIA NÃO É LUCRATIVA!!!
    Se fosse, NUNCA venderiamos nossas terras!

    Estamos sendo engolidos pelos grandes do jeito que eles querem.
    Aos poucos vão nos abafando e comprando nossas terras.

    Os monopólios do mundo inteiro já estão aqui, e a muito tempo.

    ACORDA BRASIL!!!!

    Obrigado e sorte a todos.

  7. Evándro d. Sàmtos. disse:

    Fico satisfeito em ver um dono de frigorífico tendo coragem de colocar a cara para fora e falar o que muitos pensam,mas temem ousar falar,parabéns Denio.

    Relativo ao que o JBS faz….um pingo no oceano,visto a enormidade de capital depositado nesta empresa pelo glorioso BNDEs.(“s” minúsculo proposital)

    Muitíssimo mais deveriam fazer,mostrar um cadinho do pouquíssimo que fazem já gera elogio!?

    Uma empresa que se tornou em curtíssimo espaço de tempo no que esta empresa se tornou,e ainda com o raciocínio totalmente voltado para commodities,é muito pouco!E só é permitido a quem recebe dinheiro fácil do glorioso BNDEs.Observamos,com inúmeros exemplos,que já não é mais possível se administrar e ou gerir uma empresa frigorífica como esta ainda faz,só quem tem as costas tão largas ainda pode administrar desta forma.

    O JBS fala e tenta promover o açougue SWFIT,mas quantos,serão,dentro desta empresa lutam para tentar,ainda que em parte,descommoditizar a carne?

    E quantos,muitos,remam em sentido oposto a decommotização dentro desta empresa?

    O que se faz nesta empresa para valorizar os cortes (carne),o boi,o pecuarista?

    É como alguém já disse “em terra de cego quem tem um olho é rei.”

    Compraram o Bertin que era seu contra ponto,aonde se vê o Espaço Bertin,contra ponto do Açougue Swfit?

    E como anda a carne do Bertin?

    Abram os olhos,não se enganem com o canto da sereia.

    Saudações,

    EVÁNDRO D. SÀMTOS.

  8. Paulo Cesar Bastos disse:

    Prezado Miguel Cavalcanti

    Mais um editorial que aborda um tema polêmico e que merece reflexão. A emoção não deve tomar o lugar da razão. O nosso papel deve ir além das porteiras das fazendas, daí a importância dos diversos comentários e opiniões sobre os aspectos de uma maior aproximação entre produtores e abatedores.Cidadania e democracia.

    Convivemos com uma nova realidade, a era do conhecimento, da velocidade da informação, o tempo global da competitividade. Capacitação, cooperação, comunicação, compromisso e confiança são as ferramentas para construir uma nova estrada para a boiada.Inovar,começa por aí.

    Assim, o fortalecimento do produtor rural não poderá vir das ações isoladas e solitárias. Precisamos de união para inovar e renovar lideranças setoriais.Cabe lembrar que produtores são milhares ou milhões , grandes frigoríficos podem chegar às dezenas.Produtores precisam de assembléias para reuniões ,proprietários de abatedouros resolvem seus problemas nos almoços festivos.

    Acredito, no entanto, saudáveis e necessárias as atitudes de aproximação entre os integrantes da cadeia da carne, uma modernização no relacionamento entre produtores e frigoríficos. Para isso, é importante a revisão dos conceitos tradicionais e uma conscientização para implementar o modo negocial do ganha-ganha, voltado para resultados coerentes e satisfatórios para todos.

    Essa negociação, essa aproximação, deveria contar com a participação de outros integrantes da cadeia produtiva, como a distribuição e o varejo. Vale a pena acreditar e tentar.Não se constrói nada sozinho.

    É fundamental uma busca permanente dos melhores caminhos para continuarmos na atividade pecuária,em todos os níveis e portes, setor imprescindível para o bem estar sócio-econômico do País, gerando trabalho e renda, em todos os rincões, o que minimiza o êxodo rural e o inchamento urbano com as suas consequentes mazelas de desemprego, favelização e violência. Vamos comentar, participar e avançar.

    PAULO CESAR BASTOS
    Engenheiro civil e produtor rural.

  9. Evándro d. Sàmtos. disse:

    Sabe,eu acho curioso que para tema tão importante como este,o frigorífico a ser mencionado seja justamente o imperioso JBS.

    Realmente acho que os pecuaristas precisam se aproximar dos frigoríficos,mas não dos impérios,se os pecuaristas se aproximarem mais deles irão acabar como os avicultores e suinocultores.

    Penso que é melhor não chegar muito perto destes,o perigo é real.

    Saudações,

    EVÁNDRO D. SÀMTOS.

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