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Aumenta temor com uma possível falta de carne na América do Norte

Os trabalhadores de uma unidade de processamento de frango da Wayne Farms no Alabama recentemente tiveram que pagar à empresa US$ 0,10 por dia para comprar máscaras e se proteger do novo coronavírus, segundo um funcionário da área de inspeção da companhia.

No Colorado, cerca de 30% dos trabalhadores de um frigorífico de carne bovina da JBS USA estavam ausentes há duas semanas por preocupações com a segurança no trabalho, depois que um colega com 30 anos de empresa morreu por complicações relacionadas ao vírus [a unidade foi fechada ontem, como informa a matéria JBS paralisa unidade nos Estados Unidos].

E, desde que um frigorífico de carne suína da Olymel no Quebec suspendeu as atividades, em 29 de março, o número de funcionários que testou positivo para o coronavírus no local quintuplicou e chegou a mais de 50, segundo o sindicato que os representa.

Assim, mais de uma dezena de instalações na América do Norte fecharam temporariamente ou reduziram a produção nas últimas duas semanas em razão da pandemia, o que tem interrompido cadeias de abastecimento e dificultado o trabalho de suprir a demanda do varejo.

Segundo mais de dez fontes entrevistadas nos EUA e no Canadá, incluindo funcionários, líderes sindicalistas e analistas, a falta de equipamentos de proteção e a natureza “cotovelo a cotovelo” do trabalho – que exige funcionários trabalhando lado a lado para desossar frangos, cortar carnes e fatiar presuntos – agravam os riscos e limitam a produção, já que alguns optam por abrir mão do emprego, de baixos salários. As empresas, que têm intensificado a limpeza e promovido um maior distanciamento entre os trabalhadores, entre outras ações, dizem que essas medidas tornam o ritmo mais lento.

No domingo, a Smithfield Foods, maior processadora de carne suína do mundo, comunicou o fechamento de uma unidade por tempo indefinido e alertou para o fato de que outras paralisações vêm empurrando os EUA “perigosamente para perto do limite” do fornecimento de carnes para os supermercados.

As medidas de confinamento para impedir a disseminação do coronavírus já vêm impedindo agropecuaristas mundo afora de levar sua produção aos consumidores.

Milhões de trabalhadores também não estão conseguindo ir aos campos para colher e plantar, e há poucos caminhoneiros para o transporte.

EUA e Canadá estão entre os maiores fornecedores mundiais de carne bovina e suína. Mas a produção de alimentos em geral continua fluindo, já que os governos tentam assegurar um fornecimento adequado mesmo enquanto fecham amplos setores da economia.

Os fechamentos de frigoríficos e a crescente ausência de funcionários contribuíram para declínios nos preços do gado vivo. Desde 25 de março, o contrato futuro de primeira posição de entrega do suíno magro caiu 35% em Chicago, enquanto o do gado vivo teve queda de 15%.

A demanda por carne na América do Norte caiu 30% nos últimos 30 dias, uma vez que a queda nas vendas de cortes para restaurantes, como filés e asas de frango, supera o aumento na demanda de varejistas por produtos como carne moída, segundo Christine McCracken, analista do banco holandês Rabobank.

As instalações de armazenamento refrigerado para carnes congeladas nos EUA continuam cheias, mas podem ter uma diminuição gradual, à medida que aumentem as exportações para a China. “Mas há um grande risco de mais fechamentos de frigoríficos”, disse McCracken.

[Antes de fechar a unidade], a JBS teve que reduzir a produção em Greeley, Colorado, porque entre 800 e mil funcionários por dia estavam deixando de trabalhar desde o fim de março, segundo Kim Cordova, presidente do sindicato Trabalhadores Unidos dos Setores de Comércio e Alimentos (UFCW), que representa os funcionários.

Saul Sanchez, funcionário do frigorífico, conhecido carinhosamente como “vovô” pelos colegas, testou positivo para o vírus e morreu em 7 de abril, aos 78 anos, segundo sua filha, Beatriz Rangel. Ela disse que ele apenas ia de casa para o trabalho antes de apresentar sintomas, como febre baixa.

A companhia informou que Saul não estava trabalhando desde 20 de março, o mesmo dia em que a JBS retirou as pessoas com mais de 70 anos de suas instalações, como precaução. Ele nunca teve sintomas enquanto estava trabalhando e nunca trabalhou doente, disse a empresa – que negocia com governos federais e estaduais obter testes para todos os funcionários de seus frigoríficos.

O condado de Weld, onde a planta está localizada, tem o quarto maior número de casos de covid-19 entre os condados do Colorado, segundo números divulgados na sexta-feira.

No frigorífico de frango da Wayne Farms em Decatur, Alabama, alguns funcionários estão descontentes porque a empresa os fez pagar pelas máscaras, segundo Mona Darby, que inspeciona peitos de frango na unidade e é líder local de centenas de funcionários no Sindicato de Varejo, Atacado e Lojas de Departamento (RWDSU).

A Wayne Farms, com vendas anuais superiores a US$ 2 bilhões, tenta obter máscaras para distribuir aos funcionários, mas o fornecimento é limitado, de acordo com o porta-voz Frank Singleton. Ele disse não ter conhecimento de nenhum caso em que os funcionários tenham sido cobrados pelas máscaras.

Funcionários da unidade de processamento de carne de frango da Tyson Foods em Shelbyville, Tennessee, compraram suas próprias máscaras quando as do frigorífico se esgotaram, segundo Kim Hickerson, que trabalha carregando o frango em caminhões e é líder sindical.

A Tyson, maior produtora de carnes nos EUA, está empenhada em conseguir mais equipamentos de proteção pessoal para os funcionários, disse o porta-voz Worth Sparkman. A empresa intensificou a higienização das instalações e tenta distanciar os funcionários em seus locais de trabalho, medidas que podem tornar a produção mais lenta, segundo um comunicado.

Na Olymel, os funcionários perderam a confiança na empresa depois de a pandemia de coronavírus ter fechado a unidade em Yamachiche, Quebec, de acordo com uma porta-voz sindical, Anouk Collet. “Eles não consideram que a empresa tenha tomado todas as medidas que poderia para mantê-los seguros”, disse.

Richard Vigneault, porta-voz da empresa, disse que a unidade reabrirá nesta terçafeira com novas medidas em vigor, como painéis de separação, máscaras e visores.

Nesse contexto difícil, Marc Perrone, presidente internacional do sindicato UFCW, disse que os funcionários de frigoríficos de carne vêm pesando cada vez mais a preocupação quanto à própria saúde e a responsabilidade de produzir alimentos. “Se não cuidarmos do fornecimento de alimentos, a população americana entrará em pânico”, disse.

Fonte: Valor Econômico.

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