Auditores fiscais do Trabalho interditaram nesta segunda-feira o abatedouro de aves da Seara, que pertence à JBS, em Ipumirim (SC). A planta deve ficar interditada até que a empresa comprove a adoção de medidas de proteção aos trabalhadores contra a covid-19. A empresa vai recorrer judicialmente da decisão.
Conforme os auditores do trabalho, 86 funcionários da unidade já tiveram diagnóstico confirmado para o novo coronavírus. Mais de 40 desses trabalhadores, porém, estão curados, de acordo com uma fonte próxima à empresa.
“Os casos confirmados na planta industrial representam aproximadamente 14% dos contaminados em toda a Macrorregião Oeste e Serra, e quase 2% de todos os casos do Estado de Santa Catarina”, informaram os auditores do trabalho.
Segundo o procurador Anderson Corrêa da Silva, do Ministério Público do Trabalho (MPT), os auditores determinaram a interdição da fábrica porque a JBS não teria adotado medidas adequadas para a busca ativa de funcionários com sintomas da doença.
“Houve pelo menos um caso de um trabalhador que trabalhou efetivamente na linha de produção com teste confirmado para covid-19”, afirmou o procurador do trabalho.
Segundo ele, a JBS também não teria implementado as medidas de espaçamento adequado em alguns setores da unidade, que estariam sem anteparos entre os funcionários da algumas áreas do abatedouro da companhia. A empresa também teria se recusado a reduzir o nível de produção, o que permitiria maior distanciamento entre os funcionários.
“Os auditores não tiveram alternativa. A interdição não ocorreu de qualquer jeito. O auditor não chegou botando o pé na porta. Eles ficaram quase uma semana na planta e só interditaram porque não tinha jeito, porque a empresa se nega a negociar”, acrescentou Corrêa da Silva.
O procurador frisou que a decisão é dos auditores fiscais, mas ressaltou que o MPT vem acompanhando o caso de perto. Ele também criticou a postura da JBS de não negociar com o MPT. Outras empresas, como BRF e Aurora, firmaram Termos de Ajuste de Conduta (TAC) com o órgão, estipulando medidas de proteção.
Procurada, a JBS disse, em nota, que “suas operações seguem os mais elevados padrões de segurança para o setor frigorífico e refuta qualquer orientação em contrário bem como as medidas injustificáveis para suspensão das suas atividades, razão pela qual a empresa irá tomar as medidas judiciais cabíveis para retomada das suas operações em Ipumirim”.
Confira a nota da JBS na íntegra:
“A JBS tem como objetivo prioritário a saúde dos seus colaboradores e adota um rígido protocolo de prevenção contra a Covid-19 em suas unidades. Essas medidas seguem as orientações dos órgãos de saúde e do Hospital Albert Einstein, além de especialistas médicos contratados pela empresa para apoiar na implantação de um protocolo robusto e necessário para proteção dos seus colaboradores.
Mediante os protocolos e medidas de prevenção já implantadas, a JBS reitera que suas operações seguem os mais elevados padrões de segurança para o setor frigorífico e refuta qualquer orientação em contrário bem como as medidas injustificáveis para suspensão das suas atividades, razão pela qual a empresa irá tomar as medidas judiciais cabíveis para retomada das suas operações em Ipumirim.
São 25 anos de história dessa unidade com a comunidade de Ipumirim e, somente nessa fábrica, a empresa emprega mais de 1400 pessoas. Diariamente, a unidade de Ipumirim processa 135 mil aves. Com a suspensão dessa operação, é inevitável que a cadeia de produção, incluindo os 240 produtores rurais da região, também tenha que suspender suas atividades, o que poderá trazer graves consequências no
âmbito social, econômico, sanitário e de abastecimento à população. A interrupção das atividades na cidade promove um clima de instabilidade perante todos os colaboradores e comunidade que, de forma direta e indireta, se relaciona e depende do funcionamento da unidade.
Lamentamos profundamente toda essa insegurança e que não reflete a realidade das operações e das medidas implementadas na unidade em Ipumirim. Nossos esforços se somam ao enorme orgulho e confiança em tudo que fazemos e da relevância do nosso trabalho para levar o alimento às famílias do mundo inteiro, especialmente nesse momento tão delicado na vida de todos e em que o alimento é tão fundamental”.
Fonte: Valor Econômico.