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Atlas do Agronegócio – publicação reúne fatos e números sobre as corporações que controlam o que comemos

A Fundação Heinrich Böll Brasil e a Fundação Rosa Luxemburgo lançaram no dia 4 de setembro o  “Atlas do Agronegócio: fatos e números sobre as corporações que controlam o que comemos”.

A publicação é a versão brasileira do Atlas publicado na Alemanha em 2017. O Atlas do Agronegócio possui artigos originais de autores brasileiros, que falam sobre a concentração do setor, entre outros temas como agrotóxicos, qualidade do alimento, conflitos no campo, lobby do agronegócio, biofortificação, condições do trabalho, resistência e agroecologia.

Carne, o domínio das grandes empresas

Gigantes amplamente conhecidas como Monsanto, Cargill, Bayer e DuPont dominam os mercados globais de sementes, cereais e agrotóxicos. Frequentemente, simbolizam o controle corporativo do sistema alimentar mundial. Mas outro grupo poderoso de megaempresas permanece sem qualquer escrutínio público: as que controlam a produção, o processamento e o comércio de carne bovina, de aves e de suínos no mundo todo.

De acordo com o Instituto para Agricultura e Política Comercial (IATP, sigla em inglês), o “Complexo Global da Carne” é uma rede de empresas altamente concentrada, horizontal e verticalmente integrada que controla os insumos, a produção e o processamento de um amplo número de animais. Algumas dessas corporações ocupam todos os elos fundamentais na cadeia global da carne. Cargill, a mais conhecida, é a principal fornecedora de grãos, a segunda maior fabricante mundial de alimentos e a terceira maior processadora de carne em termos de vendas de alimentos. Outras, como o CP Group, da Tailândia; a New Hope Liuhe e o Wen’s Food Group, da China; e a BRF, do Brasil, estão liderando o ranking de fabricantes de ração animal e processadores de carne.

Este tipo de agronegócio se expandiu nos últimos 40 anos, especialmente desde 2000. JBS, Tyson Foods, Cargill e Smithfield, agora parte do grupo WH, da China, são as maiores empresas produtoras de carne do mundo. A brasileira JBS sozinha processou mais de dez milhões de toneladas de cabeças de gado em 2009-2010. Este montante representa mais do que a soma de todas as empresas que ocupam as posições de 11 a 20 no ranking mundial.

Cada corporação usa uma combinação de várias estratégias, incluindo fusões e aquisições, integração vertical de suas cadeias de suprimentos, diversificação de produtos, vendas no atacado e no varejo e lobby em torno dos acordos de comércio e de investimento de modo a facilitar o acesso aos mercados estrangeiros.

O poder absoluto dessas empresas obscurece o fato de que apenas 9,7% de toda a carne produzida no mundo é negociada internacionalmente: a maioria das empresas produz para o consumo doméstico. No entanto, os dez principais frigoríficos transnacionais de carne dominam o setor, sendo que as vendas de alimentos dos três maiores (JBS, Tyson Foods e Cargill) superam em pelo menos duas vezes as vendas das empresas que estão em 4o (Smithfield/ WH Group) e 5o (BRF, anteriormente conhecido como Brasil Foods) lugares.

Cada uma dessas corporações expandiu-se através da compra de empresas menores, criando uma situação em que os criadores de gado tinham poucos compradores e eram obrigados a aceitar qualquer preço que a corporação ditasse. Os criadores de gado reagiram com a expansão dramática da produção, espremendo grandes quantidades de animais em espaços limitados, ou abandonando completamente a criação de gado. Nos Estados Unidos, 85% do processamento de carne é controlado por apenas quatro empresas. No Canadá, até 90% é controlado por duas corporações (JBS e Cargill). Os agricultores europeus tiveram um destino parecido.

Em 2010-2011, de acordo com a empresa de pesquisa da indústria Gira, as cinco principais empresas de carne da Europa eram Vion (Países Baixos), Danish Crown (Dinamarca), Tönnies (Alemanha), Bigard Group (França) e Westfleisch (Alemanha). Metade da produção de carne e vitela na França, quase dois terços na Alemanha e mais de dois terços no Reino Unido foram capturadas por quatro ou cinco players do mercado.

A União Europeia (UE) está preparada para produzir e exportar um volume recorde de carne vermelha em 2017. No caso da carne bovina, isso ocorre porque o agronegócio europeu pressionou exitosamente a UE para eliminar a cota leiteira da região. Sem limites para o fornecimento de leite, os preços dos produtos lácteos despencaram, expulsando muitos pequenos produtores do mercado. À medida que os produtores de leite continuam a vender o seu gado, a produção de carne bovina da União Europeia aumentou.

Paralelamente, os comerciantes de porco veem novas oportunidades de exportação. A UE é a maior exportadora de carne de suínos do mundo desde 2013; impulsionada pela crescente demanda chinesa, as exportações da UE atingiram níveis recordes e as empresas se aproveitaram das vendas.

Em 2013, a Smithfield Foods, uma empresa estadunidense com amplas operações na Europa, foi comprada pelo Grupo Shanghui chinês (que posteriormente mudou seu nome para WH Group). Atualmente, suas subsidiárias na Polônia e na Romênia estão lucrando com a crescente demanda da China. A WH Group também controla quase três quartos da Shuanghui Development.

O setor de aves é o segmento de carne que cresce mais rapidamente em todo o mundo. Em 2017, o Brasil, os Estados Unidos e a União Europeia foram responsáveis por quase 77% das exportações de aves do mundo. O mesmo punhado de empresas (JBS, Tyson, BRF) lucra com a expansão do c mércio. A locação de ativos de concorrentes e as guerras de licitação são estratégias essenciais para chegar ao topo e permanecer lá.

Quando a empresa francesa Groupe Doux – que já foi a maior produtora de aves da Europa – mergulhou em dívidas em 2012, a JBS interveio para operar as unidades da Doux no Brasil, a Frangosul. Se antes a JBS estava limitada à carne bovina no Brasil, este acordo de locação possibilitou sua penetração nos mercados brasileiros de carne de frango e de carne de porco.

Em 2013, após uma série de novas locações de ativos e aquisições, a divisão de aves da JBS foi significativamente fortalecida com a criação da JBS Foods. Os produtos dessas unidades terminam nos supermercados da Europa e de outros lugares.

Esta expansão, no entanto, tem custos sociais reais. Em 2016, a organização alemã Christian Initiative Romero (CIR) iniciou uma campanha sobre nuggets de frango visando aos principais supermercados alemães, como Rewe, Edeka, Lidl, Netto e Aldi. A campanha destacou as condições análogas à escravidão impostas aos avicultores nas cadeias de suprimentos da JBS e da BRF.

Desde outubro de 2016, cerca de 40 países enfrentaram uma nova onda de gripe aviária altamente patogênica que matou pessoas na China. A gripe dizimou tanto as populações de aves selvagens quanto as de criação – custando aos agricultores e ao público milhões de dólares e aumentando o risco desta doença mortal infestar também os seres humanos.

Os impactos ambientais deste sistema industrial de produção de carne incluem a gripe aviária patogênica, a resistência a antibióticos, a poluição da terra, da água e do ar, bem como as mudanças climáticas. Sem o apoio do governo, por meio de fundos públicos e políticas que permitem a continuação dessas práticas, a ascensão fenomenal desses gigantes da carne não teria sido possível.

Confira abaixo o relatório na íntegra:

Fonte: Fundação Heinrich Böll Brasil e a Fundação Rosa Luxemburgo.

1 Comment

  1. Leonardo da Costa disse:

    É um belo documento para o combate ao capitalismo opressor. Livro de cabeceira para quem quer lutar pela revolução e promover um mundo mais justo no campo.

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