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Atividade do terceiro trimestre começa modesta, avaliam economistas

Indicadores coincidentes e antecedentes de julho sinalizam que a atividade brasileira iniciou o terceiro trimestre em ritmo modesto. Os sinais para os rumos da economia são mistos. Apesar de as principais métricas para antecipar o desempenho da indústria terem apresentado alta, economistas não descartam queda de produção, porque a confiança do empresário está em níveis baixos, e os estoques estão altos.

O Itaú Unibanco espera que o Produto Interno Bruto (PIB) avance 0,5% no segundo trimestre, mas a trajetória ruim da indústria em maio e junho devem gerar, nas contas da equipe do banco, um carrego estatístico de -0,3% para o terceiro trimestre.

O “cheiro inicial” é de “um PIB um pouco negativo” no terceiro trimestre, segundo Luka Barbosa, economista do Itaú. “Você vem com um carrego negativo, vê os dados para julho e agosto e fica com a visão de que o PIB vai cair no terceiro trimestre, ainda que seja preliminar”, diz.

A projeção inicial do Itaú para a indústria é de um recuo de 0,5% em julho, ante o mês anterior, e de mais 0,5% em agosto. Barbosa cita, por exemplo, dados da balança comercial, como a importação de bens intermediários. Em julho, as compras subiram 1,4%, na comparação mensal com ajuste sazonal, mas caíram 1% na primeira semana de agosto.

Além disso, o índice agregado de confiança do empresário, divulgado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), segue em nível baixo (93,9 pontos), apesar da alta de 0,9 ponto em julho. De acordo com o Itaú, o indicador tem alta correlação com a criação de empregos formais medida pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

“A confiança do empresário sair de 80 para 90 pontos não quer dizer que a atividade econômica vai crescer, apenas que vai contrair a taxas menores”, diz Barbosa. Ele afirma que o nível de confiança do empresário está baixo e é consistente com um crescimento anualizado do PIB de 0,7%. “A economia cresce perto de 1% há mais de dois anos e o dado da confiança não indica grande aceleração”, afirma.

Carlos Kawall, economista-chefe do Banco Safra, chama a atenção também para o estoque elevado na indústria. Reportagem do Valor mostrou que 6 de 14 segmentos pesquisados pela FGV estavam com mercadoria parada em excesso em julho. O Safra também prevê queda de 0,5% para a indústria em julho.

Mesmo dados positivos apontam para um crescimento modesto da indústria no começo deste trimestre, observa Rodrigo Nishida, economista da LCA Consultores. Números dessazonalizados pela consultoria mostram que a produção de veículos e máquinas agrícolas, calculada pela associação que representa as montadoras, a Anfavea, cresceu 5,31% em julho, ante o mês anterior. O estoque de veículos, no entanto, voltou a subir (1,4%), para 320,4 mil unidades. O fluxo pedagiado de veículos pesados, estimado pela associação das concessionárias de rodovias.

Já a produção de papel ondulado, da Associação Brasileira do Papelão Ondulado (ABPO), cresceu 2,9% em julho, interrompendo dois meses seguidos de queda. A LCA observa, porém, que na série da média móvel de três meses, a tendência ainda é de baixa.

A consultoria projeta alta de 0,3% na produção industrial de julho, em relação ao mês anterior. Na comparação com julho de 2018, no entanto, a previsão é de queda de 0,6%. Nishida ressalta que os dados interanuais do mês passado já trazem uma clareza maior sobre a economia, porque sofrem menos com o efeito da greve dos caminhoneiros sobre as bases de maio e junho do ano passado.

Pelo lado da demanda, Barbosa, do Itaú, menciona a queda nas vendas de veículos. O ajuste sazonal do banco para dados da associação dos concessionários (Fenabrave) aponta que os emplacamentos de carros de passeio e veículos leves caíram 4% em julho, em relação ao mês anterior.

O Itaú espera queda de 0,4% para o varejo restrito em julho e de 0,8% para o ampliado (que inclui veículos e material de construção).

A confiança do consumidor, da FGV, também recuou, 0,4 ponto em julho, para 88,1 pontos. O consumidor responde a percepções de inflação e emprego, segundo Paulo Picchetti, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre). “Se, por um lado, a inflação vem ajudando, por outro, um dos motivos para esse comportamento favorável é exatamente a reação muito lenta do mercado de trabalho.”

O Indicador Antecedente Composto da Economia Brasileira (Iace), publicado pelo Ibre e pelo The Conference Board (TCB), subiu 0,5% em julho, para 117,6 pontos. “O resultado indica que não deve haver reversão de ciclo, de entrada em recessão, mas a recuperação segue muito lenta e sujeita a volatilidades”, diz Picchetti.

Na avaliação preliminar da LCA, o PIB do terceiro trimestre pode avançar 0,7% em relação aos três meses imediatamente anteriores. Mas mesmo essa variação mensal é considerada tímida. “Talvez, uma variação na margem mais forte seja observada apenas no quarto trimestre, e não no terceiro”, diz Nishida.

Com a perspectiva de liberação de saques do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) a partir de setembro, Kawall, do Safra, vê a possibilidade de o PIB do terceiro trimestre avançar 0,4%. “Podemos começar a ter algum efeito marginal com o FGTS, embora isso deva ficar mais para o quarto trimestre e uma parte para o ano que vem.”

O ambiente econômico, segundo ele, tende a melhorar também com a sinalização positiva da aprovação de reformas, mas ainda há vetores que seguram a recuperação, como a construção civil “muito deprimida”. O Safra projeta alta de 0,8% para o PIB neste ano e de 2% em 2020.

A expectativa para o ano que vem, no entanto, depende, entre outras coisas, de como vai se comportar a Argentina, importante destino para exportações industriais do Brasil. O mercado financeiro não reagiu bem à possibilidade de um kirchnerista vencer a eleição presidencial deste ano. “O cenário é incerto. Se aprofundar a desaceleração por lá, pode tirar de 0,1 a 0,2 ponto do PIB do ano que vem”, diz Kawall.

Barbosa observa que a guerra comercial entre EUA e China tem potencial de impacto maior sobre o Brasil do que a crise no país vizinho. “O cenário de fraqueza no Brasil está ligado à desaceleração global. O que ocorre na Argentina reforça, mas não é o mais importante”, diz. O cenário externo adverso já está na conta do banco para o PIB de 2020 — uma alta de 1,7%, abaixo da mediana de 2,1% do último Boletim Focus.

Fonte: Valor Econômico.

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