Relação boi gordo GO x SP tem diferencial recorde – por Rodrigo Albuquerque, pecuarista e leitor BeefPoint
29 de outubro de 2012
Sucuri X Garrote [foto]
29 de outubro de 2012

Associações de pecuaristas – na medida do impossível

Miguel Cavalcanti – BeefPoint

Li há poucos dias essa frase – na medida do impossível – e me lembrei que representava uma sensação que venho tendo em cada um dos workshops que estamos realizando esse ano. Em cada encontro, pelo menos um dos 20 palestrantes vem e conta uma experiência, um aprendizado ou algo que vem fazendo que eu considerava impossível. No workshop BeefPoint sobre associações de pecuaristas não foi diferente. Em dois dias pude aprender com 20 dos mais ousados e inovadores produtores de carne bovina do Brasil que acreditam e vivem a realidade de se construir uma associação eficaz.

O Brasil é grande e tem muitas diferenças. E tem muita coisa boa acontecendo por esse país afora. Nesse ano de 2012, fiz viagens de estudo, para conhecer mais sobre a pecuária dos EUA, da Austrália e da Europa. Posso afirmar com certeza, a melhor pecuária do mundo está no Brasil. O “detalhe” é que essa pecuária não é a norma, não é o comum, não é o padrão. Nossa média é baixa, mas o que temos de melhor é o melhor do mundo. Precisamos fazer com que mais e mais gente tenha acesso ao melhor do mundo. Muitas vezes, mais do que aprender a fazer, é preciso antes acreditar que é possível fazer. E conhecer exemplos na prática de gente que consegue fazer, no Brasil, é a melhor forma que conheço para inspirar e quebrar paradigmas.

Depois que você vê alguém contando seus erros e acertos de uma coisa que você considerava impossível, não pode mais chamar de impossível, apenas de difícil. Nesse encontro sobre associações, pude aprender muita coisa que pode ser considerada impossível.

Carlos Viacava contou sobre a experiência de criar e lançar uma marca de carne de propriedade de uma associação de criadores, em 1999. Se hoje isso é difícil, há 13 anos, era considerado pelo menos um desperdício de tempo ou falta de foco. Viacava contou como uma marca de carne ajudou a promover a raça Nelore.

Silvia Morgulis apresentou a experiência do Núcleo Feminino do Agronegócio, um grupo de mulheres do agro, que se reúne uma vez por mês para aprender e ensinar. Para trocar experiências. E mostrou quanto já realizaram, mesmo sendo um grupo considerado “improvável”. Pode ser uma surpresa para você, mas há muitas mulheres que querem conversar sobre como melhorar seu negócio agro, e por falta de um ambiente propício e especial para isso, criaram seu próprio espaço.

Paulo Castro Marques mostrou que hoje existem 600 restaurantes McDonalds no Brasil promovendo a raça Angus. Imagine o impacto de ter 600 lojas nos melhores pontos comerciais do país divulgando seu produto.

Guilherme Dias contou do trabalho da associação de Hereford, mostrando também como fomentar a juventude, como trazer novas pessoas para a associação. E como sempre é bom ter energia e sangue nos olhos, terminou sua apresentação dizendo: prepare-se para ficar mais exigente (depois de provar nossa carne).

A Conexão Delta G contou como conversa, como escuta o mercado e como usa esses relacionamentos e aprendizados para buscar melhores condições comerciais para comprar e vender. E também explicou quanto trabalham para formar profissionais.

E esse foi mesmo o ponto mais falado no workshop associações: educação. É incrível como há muitos e muitos exemplos de treinamentos acontecendo no Brasil afora. Mão de obra é um dos fatores mais importantes no custeio de uma fazenda de gado de corte e pouca gente está preocupada de verdade com isso. Vimos excelentes exemplos de gente fazendo acontecer.

Além de educação, é essencial trabalhar a comunicação. Contar a história do produtor, da pecuária, da produção de carne. Foi muito bom ver o trabalho de entidades como a Faeg, de GO, que conduz diversas iniciativas. Uma das que mais gostei foi a do Agrinho, que procura ensinar sobre o agro para crianças em idade escolar.

Quanta coisa boa andam fazendo pelo Brasil, que eu não conhecia.

Pude conhecer mais sobre o trabalho das Alianças Mercadológicas do Paraná. Quanta coisa “impossível” eles fazem. Conseguiram, em mais de uma região, fazer contratos de longo prazo diretamente entre produtores e o varejo (redes de supermercado no estado). Além disso, conseguiram agregar valor também no dianteiro, ter contratos que dão estabilidade nos preços ao longo do ano e um rendimento de carcaça superior ao que estamos acostumados.

Uma das coisas mais interessantes que aprendi com as Alianças Mercadológicas é que o mais importante para um técnico hoje é a capacidade de ensinar, de resolver a parte comercial, a parte de mercado de qualquer projeto de produção pecuária. Mais importante do que saber como produzir, é preciso saber como você vai vender aquele determinado produto. E em todos os casos que vi de comercialização diferenciada, sempre havia 3 pilares para o sucesso: 1- gado de qualidade, 2- alta capacidade negocial do produtor (ou seja, era bom de “negócio”, de negociação) e 3- o produtor conseguiu criar, desenvolver um bom relacionamento comercial com o frigorífico (por mais difícil que isso pareça).

Com a Associação de Novilho Precoce do MS, aprendi como é importante o relacionamento interpessoal. Os associados vêem a Novilho MS como uma família. Há grande frequência nas reuniões semanais, e no evento anual que organizam em Bonito, MS. Nos dois eventos, se vai para encontrar amigos, para conversar, para aprender e ensinar. Conseguiram criar um clima em que todos querem participar e que ganham por fazer parte. Outra conquista muito importante da Novilho MS foi a negociação diferenciada com o JBS, o que ainda é raro.

Euvaldo Foroni veio de Rondônia contar o que fizeram de impossível por lá. A Cooperocarne é uma cooperativa de pecuaristas que construiu um frigorífico, que conseguiu financiamento num banco público. Operaram por vários meses, e quando o mercado mudou, conseguiram vender a planta para o Bertin (depois JBS) e finalizar suas operações com lucro. Ou seja, sonharam, construíram, operaram, fecharam, tudo isso sem dever nada para seus cooperados. E ainda mais, têm dinheiro em caixa e estão estudando o que vão fazer de diferente em 2013. Sabem que o mundo mudou de 2003 para cá, mas querem aproveitar as oportunidades e enfrentar os desafios de hoje. Tudo está diferente, mas o aprendizado foi grande e a vontade de fazer e dar certo continua. Mais um exemplo inspirador de associação de pecuaristas.

Yara Suñé contou a experiência do CITE 27, um formato de associação muito interessante, que existe no RS. Imagine um grupo de 12 produtores de uma região, que se encontram uma vez por mês. Cada mês visitam a fazenda de um dos membros, onde conhecem o que está sendo feito lá, onde podem perguntar com abertura e sinceridade o que está dando certo e o que está dando errado. E por se conhecerem há tempos, por terem respeito e confiança mútua, podem dizer o que pensam, o que estão vendo de bom e principalmente de ruim. Ou seja, há um círculo de aprendizado constante. Imagine como sua fazenda melhoraria se você participasse (ativamente) de um grupo assim. Um detalhe, o tema da palestra da Yara era: As cercas devem dividir as propriedades, não os homens.

Todos esses exemplos tinham muita coisa única, muita coisa diferente de cada um. Mas tinham muito em comum.

Todos esses grupos precisaram e precisam de coragem e de ousadia para fazer. Para fazer diferente, para acontecer. Todos esses grupos precisaram e precisam de muita vontade e de muito trabalho. E todos esses grupos precisaram e precisam de flexibilidade, pois tudo muda e com certeza seu plano inicial não vai dar certo.

Fico com a conclusão de que podemos muito mais. De que a pecuária brasileira pode fazer muito mais, precisando apenas buscar aprender, melhorar e se inspirar nos exemplos reais que já temos por esse Brasil afora, de gente que faz o difícil pois não sabia que era impossível.

Para fechar o artigo, uma frase que gosto muito, para pensar no que é impossível, no que é difícil e no que precisamos para melhorar nossos negócios: “Para ter um negócio de sucesso, alguém, algum dia, teve que tomar uma atitude de coragem”. Peter Drucker, 1909-2005.

Muito obrigado a todos vocês, que me mostram, como fazer na pecuária as coisas acontecerem na medida do impossível.

7 Comments

  1. Leydiluce Resende disse:

    Muito Interessante o artigo em questão. Hoje vivo a outra parte da cadeia da pecuária que é a do frigorífico, todavia me preocupo muito com os rumos da pecuária brasileira, principalmente no estado do MS e fico feliz em saber de tantas ações e trabalhos em prol do crescimento do setor.

  2. Cristiano José Just de Andrade disse:

    Parabéns Miguel. As suas observações são absolutamente oportunas. Levantam a moral de qualquer produtor rural. Parabéns a equipe BeefPoint pelo presente diário.

  3. marcio de castro porto disse:

    Parabens pela iniciativa . Acho que antes de sermos desunidos somos descrentes de que hajam caminhos melhores para ganharmos dinheiro na pecuaria . Uma hora é o governo , outra hora são os frigorificos , invasões , midia contra nós , o mercado , etc…e o que fazemos ? vamos levando e acabamos nos esquecendo que antes de nos unir temos que conhecer e conviver com os colegas para saber o que podemos fazer juntos .

  4. Paulo E F Loureiro disse:

    Bacana ver seu entusiasmo Miguel, é por isso que as coisas “acontecem” ao seu redor.

    Vai em frente e coloque o Brasil junto, gente de todo lado na mesma sala, que as lições começam a fluir.

    Um abraço do amigo,

    Paulo Loureiro

  5. Miguel da Rocha Cavalcanti disse:

    Olá pessoal, muito obrigado pelos comentários.
    O caminho é árduo e cheio de dificuldades. Mas tenho tido o privilégio de conhecer e aprender com quem faz um trabalho de pioneiro.
    Abs, Miguel

  6. Rafael Souza disse:

    Com esses comentarios penso que esta chegando a hora de entrar para o mercado.
    Quero empreender e depois da tecnologia é esse meu novo rumo.

  7. Liodeir Rodrigues Carvalho disse:

    Peter Drucker, fez muito. Fez durante todo o tempo, e o tempo todo.

plugins premium WordPress