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Aspectos importantes da recria de novilhas

Por Rafael da Costa Cervieri1

A elevada idade em que as novilhas atingem a puberdade e manifestam o primeiro cio fértil, associado ao longo intervalo entre o primeiro e segundo partos, é um dos principais problemas responsáveis pela baixa eficiência reprodutiva do rebanho bovino brasileiro (ANDRADE et al., 1990).

No Brasil a recria é realizada em regime de pasto. Isto determina que o desenvolvimento corporal fique dependente das condições climáticas, apresentando períodos com bons ganhos de peso e outros com crescimento lento ou mesmo perda de peso, tendo como conseqüência direta a maior idade à primeira cria. Não é raro novilhas parirem com quatro anos de idade no Brasil, devido principalmente ao manejo incorreto na recria.

A idade à primeira cria é um parâmetro zootécnico de grande importância, pois é uma medida de eficiência produtiva e reprodutiva de um rebanho. Assim, o objetivo é fazer com que a recria seja mais curta, para que as fêmeas estejam aptas à reprodução o mais breve possível.

Existem sistemas em que novilhas cruzadas são inseminadas aos 15 meses de idade, parindo aos 2 anos. Agora imagine uma fêmea parindo aos 4 anos de idade. Este animal irá passar cerca de 3 anos sem gerar renda alguma para o criador, nenhum bezerro para venda ou reposição.

Neste contexto, não é somente o manejo nutricional que determina a idade à puberdade ou à primeira cria. Existe o componente genético que faz com que determinadas raças sejam mais precoces sexualmente e outras mais tardias, como será discutido a seguir.

Uma novilha atinge a puberdade quando apresenta o primeiro cio seguido de ovulação correspondente, com uma fase luteal normal (ROCHA, 1999). Muitas vezes a novilha não reproduz na primeira ovulação ou apresenta ovulação fértil, mas não demonstra sinais exteriores de cio. Existem consideráveis diferenças entre raças na idade ao primeiro cio, em média, as fêmeas zebuínas são de 6 a 12 meses mais tardias que as taurinas. Esta diferença é atribuída à variações genéticas existentes entre taurinos e zebuínos. Em outras palavras, as novilhas possuem uma idade mínima geneticamente pré-determinada em que atingem a puberdade.

Tanto a idade como o peso são fatores importantes na manifestação da puberdade, sendo que o nível nutricional surge como fator modificador de ambos. Portanto, em níveis nutricionais mais baixos o peso à puberdade será menor e a idade maior. Em níveis nutricionais mais altos, o peso será maior e a idade menor.

Da mesma forma que a idade à puberdade, o peso em que as novilhas atingem a puberdade é geneticamente pré-determinado. Considera-se que uma novilha esteja com peso ótimo para reprodução quando apresenta 60 a 65% do peso adulto (HESS, 2003). Novilhas taurinas (Angus, Charolês, Hereford, Limousin, etc.) alcançam a puberdade com 60% do peso adulto; novilhas taurinas de raças de dupla aptidão (Pardo Suíça) com 55% e novilhas zebuínas com 65% do peso adulto.

Por exemplo: o peso adulto médio de vacas da raça Nelore situa-se em torno de 450 kg, portanto uma novilha, desta mesma raça, só estará apta a reprodução quando atingir cerca de 290 kg (65% do peso adulto, na idade de 20 a 30 meses).

Animais com potencial genético para atingir peso adulto maior (raças continentais) devem apresentar maior peso antes da estação de monta. Salienta-se que as novilhas precisam atingir a puberdade 1 a 3 meses antes da primeira estação de monta (pois os primeiros cios podem não ser férteis), para melhorarem suas chances de concepção.

Tendo em vista tal fato, adota-se o principio de desenvolvimento das novilhas até um peso ótimo como método para garantir que atinjam a puberdade até a estação de monta (PATTERSON et at., 2000). Usando classificações de tamanho, a Tabela 1 apresenta metas de pesos ótimos e taxas de crescimento em que os ciclos reprodutivos são iniciados.

Tabela 1 – Efeitos do tamanho e peso na idade adulta, no peso à puberdade e na taxa de crescimento ótima em novilhas de corte.


Adaptado de FOX et al. (1988).

Os animais de origem zebuína, que formam a base do rebanho comercial brasileiro, são classificados de acordo com a tabela acima, como animais de tamanho 3. São animais mais tardios sexualmente, sendo isto de origem genética, e não devido ao seu tamanho adulto. Com base nos dados da Tabela 1, para que uma novilha Nelore alcance a puberdade entre 18 e 24 meses, esta deve apresentar taxas de ganho diário entre 200 e 300g/dia. No caso de novilhas de maior tamanho adulto (por exemplo, novilhas cruzadas com raças taurinas continentais) as taxas de ganho devem ser mais elevadas, exigindo maior atenção quanto ao manejo nutricional.

Em situações em que o manejo é razoável, é possível obter o primeiro parto de novilhas zebuínas aos 3 anos, conforme esquema abaixo:


Se considerarmos a recria da desmama até a primeira estação de monta, a taxa de ganho médio diário deve ser de 283 g/dia ((330-160)/600 dias). Com manejo adequado da pastagem e sal proteinado (0,1% do peso vivo) na seca, é perfeitamente possível alcançar este objetivo. Programas de melhoramento genético têm conseguido selecionar fêmeas Nelore aptas à reprodução aos 14 meses de idade, com razoáveis taxas de concepção e reconcepção na segunda cria. Desta forma será possível atenuar um dos maiores gargalos de raças zebuínas, que é a menor precocidade sexual.

Supondo a utilização de fêmeas F1 cruzadas, com uma raça de origem britânica, por exemplo, teríamos a seguinte situação:


Para que esta novilha tenha seu primeiro parto aos dois anos, a suplementação na primeira seca (abril a outubro de 2006) deve ser protéico-energética, com consumo de 0,5% do peso vivo (em torno de 1 kg de suplemento /dia). Ganhos de peso acima de 500 g/dia requerem melhor manejo e esquemas de suplementação com maior oferta de alimentos concentrados. A vantagem da fêmea cruzada é a sua precocidade sexual, sendo que aos 12-13 meses de idade já há manifestação de cio, reduzindo substancialmente o período de recria. Porém, o gasto com suplementação será maior.

Embora a fase de recria seja menos complexa do que a fase de cria, ela requer muita atenção do produtor, pois os requerimentos nutricionais do animal em crescimento estão constantemente mudando, em função de alterações na composição de seu corpo. À medida que a idade do animal vai avançando, reduz-se a taxa de formação de ossos e proteína, com aumento acentuado na deposição de gordura.

Do início dessa fase até a puberdade, o monitoramento do ganho de peso diário é fundamental, devendo-se evitar ganhos de peso muito elevados ou acúmulo de gordura excessivo. Este procedimento evita a má formação da glândula mamária (deposição de gordura e menor quantidade de tecido secretor) o que resultará em menor produção de leite para o bezerro e, conseqüentemente, menor desempenho de sua progênie.

Portanto deve-se evitar a superalimentação, pois novilhas muito gordas costumam apresentar cios pouco evidentes, aumento de mortalidade embrionária, menores taxas de prenhez e menor desenvolvimento da glândula mamária. Recomenda-se que as novilhas apresentem um bom estado corporal (escore de 5,0 a 6,0) sem estarem obesas (ROCHA, 1999).

A redução da idade ao primeiro parto parece ser o maior desafio do zebu brasileiro. Face às dificuldades operacionais para implementação de programas de seleção para idade à puberdade, torna-se importante a utilização de características indicadoras de precocidade sexual (por exemplo o perímetro escrotal em machos), que tenham variabilidade genética, que sejam de mensuração fácil e econômica, e que tenham correlação genética favorável com idade à puberdade e outras características economicamente importantes.

Referências bibliográficas

ANDRADE, V.J. et al. 1990. Efeito de diferentes épocas de início da estação de monta sobre o comportamento reprodutivo de novilhas de corte. Arq. Bras. Med. Vet. Zoot., 42(2):93-101.

FOX, D. G.; SNIFFEN, C. J.; and O´CONNER, J. D. 1988. Adjusting nutrient requirements of beef cattle for animal and environmental variations. J. Anim. Sci. 66:1475 – 1495.

PATTERSON, D.J. et al. 1992. Management considerations in heifer development and puberty. J. Anim. Sci., 70:4018-4035.

ROCHA, G.P. 1999. Tipos morfofisiológicos e taxas de maturação corporal. Notas de aula da disciplina Bovinocultura de Corte, FMVZ, UNESP, Botucatu.

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1Rafael Cervieri é zootecnista, Dr. em Nutrição e Produção Animal e Professor da Universidade São Marcos

2 Comments

  1. Aluisio de Alencastro Filho disse:

    É uma artigo importante, apesar de não concordar em colocar novilhas muito novas em reprodução porque isso retarda o crescimento dos animais, onde a novilha vai gastar a energia para crescer na reprodução e não vai desenvolver muito. Mas se você tiver uma boa nutrição, acho que isso poderá ajudar.

  2. Andréia Zussa disse:

    Excelente artigo, pois mostra a importância da relação peso/idade das novilhas para entrada na puberdade, revelando ao produtor que a engorda do seu rebanho de novilhas não significa precocidade sexual, além da preocupação com o ganho de peso, redução da idade á primeira cria e intervalo entre partos das novilhas da raça nelore, pois constitui o rebanho de maior importância econômica do país.

    Parabéns

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