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As vantagens da consorciação de capins com leguminosas

Thea Tavares – Redatora da Embrapa Gado de Corte

Pasto de melhor qualidade, maior ganho de peso animal, economia nos gastos com adubação nitrogenada, recuperação de áreas degradadas, maior cobertura de solo e melhor proteção, além da garantia de um processo não poluente e ambientalmente correto. Estas são algumas das vantagens da consorciação de capins com leguminosas em pastagens no cerrado brasileiro. Não se trata de nenhuma novidade para o pecuarista, embora o emprego desta técnica, anteriormente, tenha implicado em limitações até pela própria falta de tradição e conhecimento dos pecuaristas e técnicos em usar e manejar adequadamente as pastagens consorciadas.

O uso de leguminosas consorciadas com capins em pastagens de regiões de clima temperado é secular. Nessas regiões, leguminosas como o trevo branco e o cornichão são capazes de fixar 600 Kg/ha/ano de nitrogênio. Nos trópicos, caso brasileiro, a consorciação tem se mostrado eficiente no fornecimento de nitrogênio a baixo custo, com maiores taxas de ganho de peso animal na seca e nas águas, maior longevidade do pasto e com oferta de forragem de boa qualidade, levando em conta a digestibilidade e a quantidade de proteína e minerais da planta. Em pastagens tropicais, leguminosas como a soja perene, Centrosema, Siratro, cultivares de desmodium e de estilosantes, em condições favoráveis, fixam de 50 a mais de 250 Kg/ha/ano de nitrogênio. Em Leucena, já foi registrada a fixação biológica de até 650 Kg/ha/ano desse nutriente. O estilosantes Campo Grande, que está sendo lançado pela Embrapa Gado de Corte – uma das 40 unidades da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, vinculada ao Ministério da Agricultura e do Abastecimento -, é apropriado para solos arenosos de média a baixa fertilidade, apresenta altas taxas de produção de sementes, cuja colheita pode ser mecanizada, tem a capacidade de fixar, em estande puro, até 180 Kg/ha/ano de nitrogênio e sua concentração de proteína bruta gira em torno de 22%.

Algumas limitações – a prática da consorciação já foi tentada exaustivamente em diversas regiões brasileiras, nem sempre com êxito. Uma das razões é que muitas leguminosas exigem solos de alta fertilidade e porque certas variedades são susceptíveis a doenças provocadas por fungos e nematóides ou, ainda, por estas não se adaptarem às regiões de implantação. Nesse último caso, especialmente, as leguminosas não resistem às baixas temperaturas típicas do inverno em várias regiões brasileiras.

Apesar disso, as leguminosas continuaram a ser usadas na pecuária com relativo sucesso. É o que acontece com a Leucena em solos profundos e sem problemas de excesso de alumínio; do Guandu em Mato Grosso do Sul; da Puerária e do Calopogônio no Norte do País, bem como do Ovalifolio e Centrosema em regiões de clima quente e úmido. Para a recuperação de pastagens degradadas no Cerrado, a Embrapa já lançou o estilosantes Mineirão e, mais recentemente, o Campo Grande.

Conceito – como consorciação de pastagens entende-se o plantio simultâneo de gramínea (capim) e leguminosa, que crescem juntas e são consumidas pelo gado sob pastejo ao mesmo tempo. Pastagens compostas por dois ou mais capins não são consorciadas, mas misturadas, e, de um modo geral, não são indicadas ao produtor devido à tendência de domínio de um capim sobre o outro. A consorciação com leguminosas, por sua vez, implica em equilíbrio do sistema do ponto de vista biológico e econômico.

Dentre os nutrientes mais necessários às plantas forrageiras, o nitrogênio é um dos que pesam no bolso do pecuarista, ao lado de fósforo e potássio. Os três elementos são escassos nos solos da região de Cerrados, mas o nitrogênio, após a implantação da pastagem, é indispensável para sua manutenção. Apesar de ser abundante na atmosfera, o nitrogênio é um elemento que quase sempre falta no solo, de onde é retirado pelas raízes das plantas. Vital ao metabolismo vegetal (nos processos de crescimento, produção de tecidos e formação de proteína, entre outros), o nitrogênio deve ser fornecido ao solo obrigatoriamente, sob pena de afetar seriamente a produção, qualidade e estabilidade dos pastos e a produtividade animal. A forma mais rápida de fornecer nitrogênio ao solo é via aplicação de fertilizantes químicos nitrogenados, que, por sua vez, são muito caros – já que estes são produzidos a partir do petróleo – e, em grande quantidade, podem causar problemas ambientais, como a contaminação dos lençóis freáticos do subsolo.

É aí que reside a principal vantagem das leguminosas. Por meio de nódulos que se formam nas suas raízes (sob a ação de uma bactéria denominada Rhizobium), o nitrogênio atmosférico é fixado pelas leguminosas. Essa capacidade os capins ou não possuem ou a desenvolvem com baixa eficiência e por meio de outros mecanismos.

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