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As 5 boiadas depois do último plano, por André Bartocci

Por André Bartocci, pecuarista e formado em Direito. Realiza recria e engorda com Integração Lavoura e Pecuária na Fazenda Nossa Senhora das Graças, em Caarapó – MS.

Um pecuarista que iniciasse suas atividades em 1994, e não mudasse seu sistema, nos últimos 20 anos teria abatido 5 boiadas, uma a cada 4 anos.

No inicio da década de 90, o Brasil sofria com uma hiper-inflação crônica. As orientações acadêmicas para aumentar a produtividade por hectare, investir em genética, adubação e pastejo rotacionado, não combinavam com a real economia do país onde os preços eram corrigidos a mais de 40% ao mês. Por incrível que pareça em alguns momentos abater um animal aos 5 anos era mais rentável que abatê-lo aos 3 anos.

Nossa economia não seguia uma lógica!

A pecuária a partir da década de 80 tinha desenvolvido um novo modelo de sobrevivência para aquele período de exceção. Composta por animais zebuínos, altamente rústicos e pastos de brachiaria, o sistema produtivo era simples. Como a @ era praticamente indexada em dólar, criar bois se tornou uma atividade segura para a época. Neste período entender de genética, manejo e estratégias de produção eram tão importantes como entender de inflação. Donas de casa, advogados, médicos, jornalistas se tornaram “bons pecuaristas”, eles precisavam somente respeitar uma regra de ouro: Compre antes venda depois!

As pessoas colocavam suas economias em bezerros, em novilhas, em vacas, como hoje se aplica na poupança. Toda cidade do interior do Brasil tinha uma ou mais empresa leiloeira de gado, e todos os dias da semana havia um leilão na região para transformar boi em dinheiro e vice-versa (quase um caixa rápido).

Este período também perpetuou a imagem do pecuarista como especulador e da pecuária como atividade segura, pelo simples fato de que especuladores de outros ramos tinham resultados semelhantes com os dos pecuaristas experientes. Mérito da nossa esquizofrênica economia!

A doença inflacionária deste período prejudicou muito a atividade, tivemos retrocessos nas questões sanitárias, o desenvolvimento de novas tecnologias e da genética não foi estimulado e a cadeia de produção estagnou. Paralelamente a eficiência e a produtividade não evoluíram. Ainda hoje as cicatrizes deste período são vistas em algumas regiões e alguns pecuaristas, em extinção, não se curaram.

Em meados de 1994, com a URV em plena atividade, o Brasil começou a desconfiar que o novo “Plano Real” poderia vingar. Apesar disto o impacto na pecuária somente foi assimilado quase no fim do século XX.

Um dos primeiros sinais foi a constatação de que a pecuária especulativa não dava mais resultados. O preço da @ variava de acordo com as leis naturais do mercado e não com as brisas inflacionárias. E os lucros, quando vinham, eram da competência e sabedoria de seus produtores. Era o início do fim dos especuladores da boiada.

Novas tecnologias que visavam à intensificação da atividade começaram a ser difundidas. EMBRAPA, ESALQ, FAZU entre outras entidades de pesquisa e tecnologia tiveram um grande papel nestas mudanças. A genética Nelore desenvolvida no Brasil aliada a brachiária se provou competente e soberana, alavancando o grande salto de qualidade e quantidade do seu rebanho.

A pecuária aproveitando a vocação do nosso País-Continente foi a atividade que mais se expandiu nos campos.

A lógica da economia voltou ao setor e o foco passou a ser a produção e não mais a especulação. A genética fluiu das centrais de tecnologia para os pastos. Inseminação, suplementação e sanidade se transformaram. Em 1990, os bois brasileiros eram abatidos aos 5 anos, hoje abatemos animais com menos de 3 anos.

Em vinte anos o Brasil passou de eventual importador à maior fornecedor mundial de carne bovina, nosso rebanho passou de 150 milhões para 200 milhões de animais, construímos um dos maiores parques frigoríficos do mundo e o principal: o bife continua a freqüentar a mesa de cada habitante do país na ordem de 35 kg por ano.

O Plano Real implantado pelo então ministro da fazenda Fernando Henrique Cardoso estabeleceu um ambiente de estabilidade proporcionando que provássemos a grande competência de nossos profissionais e o valor do nosso exclusivo sistema de produção: A Moderna Pecuária Brasileira de Pasto.

Hoje a pecuária Brasileira é um setor de grandes oportunidades, e em franca evolução, mas é um lugar para profissionais, os especuladores e aventureiros devem manter certa distancia de bovinos se o objetivo for o lucro.

Em 1994 a @ do boi era vendida por CR$380.000,00, em 2014 ela vale R$120,00 apesar da diferença a pecuária e a sociedade brasileira agradecem muito as grandes mudanças proporcionadas pelo Último Plano.

Em 1994, tivemos a sorte de contar com lideres de coragem que 20 anos depois, colocaram a Produção e o Brasil em uma situação privilegiada. Quais decisões estamos tomando para os produtores de 2034?

Por André Bartocci, pecuarista e formado em Direito. Realiza recria e engorda com Integração Lavoura e Pecuária na Fazenda Nossa Senhora das Graças, em Caarapó – MS.

8 Comments

  1. Francisco Antonio Penteado Cardoso Filho disse:

    André

    Muito boa sua explanação, sobre o mercado do gado,ao longo dos anos, mostrando a grande importância para pecuarista de se manter atualizado e competitivo.
    Agora é a vez da competência, tecnologia, dentro da fazenda e não da especulação como no passado.
    abs
    Francisco Penteado Cardoso Filho

  2. Julio Freitas Lima disse:

    Uma análise interessante a do André.Só esqueceu de mencionar e analisar que quem pagou a conta do plano Real foi o produtor endividado,ou seja o empreendedor,investidor que teve suas dívidas multiplicadas em uma noite e seus ativos desvalorizados pela metade na mesma noite.Além destes os poupadores também pagaram esta conta com a redução das suas poupanças.Certamente aos especuladores da pecuária e aos bancos restou somente um novo aprendizado de como ganhar dinheiro.Nos custou caro esse canetaço para resolver a incompetência da GESTÃO PUBLICA..

  3. Ronaldo Zechlisnki de Oliveira disse:

    Excelente análise feito pelo Dr.André Bartocci, Passei por estas cinco boiadas , e com as devidas adaptações ao extremo sul do RGS, foi bem assim aconteceu Na época da inflação, se vendia boi de 7 anos com 700 kg. A conta era feita em dólares. Ou seja,boi gordo na invernada ou dólares no cofre.
    abrs.
    Ronaldo Zechlisnki de Oliveira

  4. Marlice andrade disse:

    Muito importante sua explanação é isso aí acompanhar a evolução para sobreviver

  5. Nano Jurgielewicz disse:

    André
    O Brasil luta para continuar a fazer pecuaristas que buscam produzir kg de carne por hec. Vamos divulgar técnicas produtivas e valorizá-las pois para produzir bezerros de qualidade esses tem que ser bem remunerados

  6. CARLOS PERES disse:

    Francisco Penteado Cardoso Filho agora temos que mostrar competência.

  7. ivo lemes disse:

    muito importade o comentario.pois alerta o quanto o pecuarista tem de estar atento as mudanças economicas do nosso pais e do mundo. o que nos leva a fazer uma pecuaria moderna para se tornar cada vez mais efeciente

  8. Vagner Rocha disse:

    André,
    Gostaria de deixar o meu comentário, mas antes minha posição que não tem absolutamente nada com GADO/Agro-negócio, minha formação é em Análise de Sistemas e atuo em SP, e venho deixar minha opinião sobre a conclusão deste projeto com a Pecuária, meu interesse pelo assunto vem da convivência dos meus Pais com o ramo, um primo daí mesmo em Caarapó(JAIME-Cartório) que tbm atua na área. Voce sabiamente descreveu… qualquer área faz-se necessário ter profissionalismo ” – mas é um lugar para profissionais”; estamos deste lado só consumindo o nosso Beef de cada dia, e não vimos os esforços e todo Planejamento envolvido para chegar às nossas mesas! PARABÉNS PELO RESULTADO! Quem sabe um dia quando estiver em Gl. de Dourados-MS onde tenho parentes possa chegar até Caarapó; para visitar este monumento que fornece ao nosso e este MUNDÃO A FORA! Vagner Rocha

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