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Arthur Flumian Braga: precisamos de um referencial de preços justo para todos na cadeia

Workshop BeefPoint – Estudos de caso sobre pecuária de cria será realizado no dia 18 de junho, em São Paulo, SP. O BeefPoint preparou uma série de entrevistas com cada um dos palestrantes. Confira abaixo a entrevista com Arthur Flumian Braga.

Foto Arthur Flumian Braga

O tema de sua palestra será DNA Agropecuária – nossa experiência na pecuária de cria.

BeefPoint: Fale um pouco sobre o trabalho que você vem desenvolvendo.

Arthur Flumian Braga: Sou engenheiro agrônomo e produtor rural. Trabalho junto com minha mãe Dilce e minha irmã Natália, em nossas propriedades que ficam nos estados de Mato Grosso e Goiás. Temos orgulho de dizer que a família trabalha unida no negócio e sempre procuramos trabalhar da forma mais empresarial possível, sempre estudando e atualizando nossos conhecimentos tanto tecnicamente quanto na gestão do negócio. Trabalhamos com agricultura e pecuária, sempre que possível integrando as duas atividades para melhor aproveitamento dos recursos disponíveis.

Atualmente trabalhamos em uma pecuária de cria um pouco diferente da convencional, nossas matrizes são todas sincronizadas e inseminadas em tempo fixo (IATF). Nossas vacas são, em sua maioria, ou Nelore ou 1/2 sangue Angus/Nelore.

As vacas Nelore são inseminadas com Angus, e as ½ sangue com Wagyu. Os bezerros são tratados com ração à vontade no sistema de creep-feeding e chegam a comer mais de 4 kg/animal/dia a partir do 5º mês de vida. Esses animais são desmamados e vendidos para o confinamento do Marfrig, com quem temos uma parceria no programa Fomento Angus, no qual recebemos valores bem superiores aos pagos no mercado de bezerros comuns. Os machos da raça Wagyu chegam a ser vendidos a mais de R$ 1.200,00, dependendo de seu peso.

BeefPoint: O que você considera mais importante em uma fazenda de pecuária de cria?

Arthur Flumian Braga: A peça chave da pecuária de cria é a vaca. Se as matrizes estão sadias e com boa condição corporal, elas vão emprenhar e conseguir gerar um bezerro saudável e com grande potencial. A partir do nascimento, o manejo com os bezerros tem que ser muito bem feito para garantir a sobrevivência e o desmame dos animais com maior peso possível, pois nossa remuneração vem do peso na desmama desses animais.

BeefPoint: Qual o exemplo de pecuária do futuro na cria, no Brasil hoje? Quem você admira por fazer um excelente trabalho?

Arthur Flumian Braga: Eu considero um exemplo a pecuária de cria que é praticada na nossa região, sem citar nomes para não ser injusto, mas muitos acreditaram nas tecnologias que jovens técnicos traziam da faculdade como cruzamento industrial, inseminação artificial, IATF, superprecoce, inclusão de novas raças como o Angus e o Wagyu, dentre outras inovações.

E muitos começaram bem antes de termos na região um programa de incentivo como o Fomento Angus. Produzíamos um animal com carne nobre, mas recebíamos o preço igual a quem só vendia vaca velha, mas isso vem sendo recompensado pois o trabalho surtiu efeito e hoje vendemos nossos animais a um preço mais adequado.

Ainda pode melhorar muito, mas pelo menos hoje temos o estímulo que precisamos para continuar inovando. Uma das bases desse sucesso na região é a Lageado Consultoria, empresa que começou com Edmundo Rocha Vilela, um veterinário que muitos chamaram de louco no início, e hoje tem uma grande e competente equipe que insemina mais de 150 mil vacas pelo Brasil, e é reconhecida onde se fala em pecuária de alta tecnologia.

BeefPoint: Qual o maior desafio da pecuária de cria no Brasil hoje?

Arthur Flumian Braga: Para a pecuária em geral o maior desafio é garantir competitividade. Em quase todas as regiões do país a pecuária está perdendo espaço para a agricultura, seja de cana-de-açúcar ou grãos, e acaba sempre migrando para áreas marginais com piores terras.

No caso da pecuária de cria o maior desafio é a adoção de tecnologias. Nos dias de hoje ainda vemos muita gente que não utiliza nem estação de monta, quem dirá IATF, creep-feeding, dentre tantas outras que já temos disponível há um bom tempo.

BeefPoint: Em relação a pecuária de cria, qual inovação / novidade na pecuária de corte você mais gostou dos últimos anos? O que estamos precisando em inovação?

Arthur Flumian Braga: O que mais me agradou nos últimos anos foi o advento de programas como o Fomento Angus que nós participamos, que dá uma maior tranquilidade para o produtor investir na sua atividade, pois tem a garantia de compra por parte do consumidor, com critérios pré-estabelecidos. Por muitos anos nós produzimos o animal de qualidade diferenciada e vendemos como se fosse um animal comum, isso desanima qualquer um.

Temos várias tecnologias desenvolvidas que ainda não são viáveis economicamente, como a sexagem de sêmem, por exemplo. Porém, com o tempo, acredito que isso vai melhorar.

BeefPoint: O que você implementou de diferente na sua pecuária de cria em 2012? O que você fez em 2012 que te trouxe mais resultados?

Arthur Flumian Braga: Em 2012 nós desmamamos precocemente os bezerros, com 6 meses, e confinamos por um período de 50 dias. Dessa forma, nós conseguimos diminuir a carga animal nos pastos no período inicial da seca, aliviamos as vacas para que pudessem se preparar para a nova parição que se iniciaria em alguns meses, e conseguimos vender os bezerros no mesmo patamar de peso que vendíamos antes, quando desmamávamos aos 8-9 meses.

BeefPoint: O que você pretende fazer de diferente em 2013, em pecuária de cria? E porquê?

Arthur Flumian Braga: Estamos planejando para a próxima estação de monta eliminar de vez a monta natural. Ao invés de fazer o repasse com touros, faremos uma terceira sincronização, ou seja, serão três IATFs, três chances para que as vacas emprenhem de Wagyu ou Angus, animais esses que vendemos com preços diferenciados do mercado comum.

Na nossa região não podemos ter touros Angus, pois não se adaptam muito bem ao clima quente, por isso acabamos fazendo o repasse com touros Nelore, Guzerá ou Brangus, mas os produtos desses touros não se enquadram no programa de fomento, e acabamos tendo que vendê-los no mercado comum. Portanto, mesmo que nossa taxa de concepção diminua um pouco, acreditamos que é mais vantajoso termos 100% dos bezerros vindos da inseminação artificial.

BeefPoint: Como tornar a comercialização do bezerro mais eficiente? O que falta no Brasil?

Arthur Flumian Braga: O mercado de bezerros ainda é muito informal, regionalizado, feito de produtor para produtor. Isso dificulta o estabelecimento de padrões de preços, preços mínimos, enfim, ferramentas que possibilitem que o criador planeje seus resultados econômicos.

Seria bom se tivéssemos na pecuária, a exemplo da cana-de-açúcar (Consecana), um conselho misto de produtores, frigoríficos, consultores e atacadistas que estabelecesse um referencial de preços que fosse justo para todos os elos da cadeia, preço esse ainda baseado na oferta e demanda de carne e seus derivados no mercado interno e externo.

BeefPoint: O que o setor poderia / deveria fazer para aumentar a competitividade da pecuária de cria no Brasil?

Arthur Flumian Braga: O setor deveria investir na difusão de tecnologias. Em uma pecuária intensiva, com alta lotação nas pastagens e produzindo animais de qualidade, conseguimos competir inclusive com a agricultura. O problema é que, principalmente na cria, impera a cultura do comodismo que faz com que muitos produtores não se atentem para as inovações, e quando acordam já estão sendo empurrados pela cana ou pela soja.

BeefPoint: Qual seu recado para produtores de gado de corte, em especial criadores?

Arthur Flumian Braga: Devemos tratar nossa pecuária da mesma forma, ou até melhor, do que os agricultores tratam suas lavouras. Qualquer agricultor sabe quanto custa seu hectare de soja, enquanto a maioria dos pecuaristas não sabe nem fazer a conta de seu custo de produção.

Há vários níveis de intensificação que podem ser aplicados na pecuária, depende de cada caso. Na intensificação aumentam-se os riscos da atividade com certeza, mas quem quer ganhar mais tem que arriscar mais, o importante é saber fazer a conta e correr riscos calculados.

Confira fotos enviadas por Arthur, da DNA Agropecuária:

Dilce (mãe)

Dilce, mãe de Arthur.

Arthur

bezerros com 6 meses

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Creep-feeding

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Clique aqui para ver a programação completa do Workshop BeefPoint – Estudos de caso sobre pecuária de cria.

1 Comment

  1. ubirajara simini disse:

    Parabens ao Arthur e seus familiares por trabalharem juntos, aquela pecuaria tradicional so serve para quem nao vive da pecuaria, producao caminha junto com tecnologia, produtos diferenciados , preços tambem diferenciados, so assim teremos alguma rentabilidade para poder investir mais e agregar valor a nossa mercadoria.
    Produtor forte , pecuaria forte.

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