Terceirização irrestrita é ‘grande avanço’ para produtores rurais, diz SRB
3 de setembro de 2018
Balizador de Preços do Boi Gordo GPB – Boletim de 03-setembro-2018
3 de setembro de 2018

Argentina lança pacote para segurar a cotação do peso

O governo de Maurício Macri vai anunciar na manhã desta segunda-feira uma série de medidas que visam gerar um choque de confiança política e econômica. Fonte do governo confirmou ao Valor que a corrida ao dólar ocorrida na última quinta-feira foi a gota d’água para “embaralhar as cartas e repartir de novo”. Tudo indica que o ajuste necessário nas contas públicas será via aumento de receita e não com cortes nos gastos.

Haveria quatro focos nos anúncios: mudanças em alguns impostos, como os de exportações que voltariam a ser cobrados; maior intervenção no mercado de câmbio com presença robusta do banco central; apertar o cinto para se aproximar de um déficit fiscal zero em 2019; e reduzir para 10 os atuais 21 ministérios, incluindo a chefia de gabinete, equivalente à Casa Civil brasileira.

Ao assumir o governo, o presidente Mauricio Macri criou cinco ministérios que provavelmente serão absorvidos: Agroindústria, Modernização, Energia, Ambiente e Comunicação. Também seriam absorvidos os ministérios de Saúde, Trabalho, Ciência e Tecnologia, Cultura e Turismo.

Um dos 10 empresários mais ricos do país, Eduardo Eurnekian, presidente da Corporación América, disse que “não adianta nada mudar nomes [dos ministérios] se o governo não muda a política e os conceitos”.

Para um importante empresário da indústria automotiva, reduzir a quantidade de ministérios é “jogar para a arquibancada” porque não reduz o tamanho da máquina pública. Segundo ele, “essa redução não significa um corte de gastos sério. É só uma maquiagem”.
Por outro lado, o empresário afirmou que se a medida de taxar exportações for confirmada, “será um péssimo sinal para o país porque é um imposto que causa distorção e mostrará que o problema fiscal é tão grave que vai primar sobre a sensatez de não prejudicar as exportações”. Também qualificou que seria “uma derrota muito grande para Macri porque vai contra o rumo que ele havia traçado”.

Em compasso de espera, a economia argentina perdeu os preços de referência e está praticamente paralisada desde a quinta-feira da semana passada. Naquele dia, o banco central elevou os juros de referência de 45% para 60% ao ano e fez um leilão de
US$ 500 milhões para acalmar o mercado de câmbio.

As distribuidoras de alimentos e bebidas foram as primeiras a cancelar suas entregas por volta das 11h da manhã, à espera de novas listas de preços. No fim de semana já era possível ver algumas prateleiras vazias nos supermercados. As grandes lojas de eletrodomésticos cancelaram promoções com pagamentos à prazo.

As concessionárias de automóveis e motocicletas seguiram o mesmo caminho e algumas já remarcaram os preços. Outros tipos de comércio com componentes de produtos importados também sofrem as consequências da incerteza.

“Estava esperando peças, acessórios e algumas bicicletas na manhã da sexta-feira, e como não chegaram liguei para o fornecedor. Ele disse que, por uma semana, não vai entregar nada até ver como vai aumentar os preços”, contou o dono de uma loja de bicicletas na província de Buenos Aires.

A proprietária de um buffet que também prefere manter o anonimato afirmou que os serviços contratados para a próxima semana terão que ser revistos porque “estamos sem preços de referência”. Indagada sobre se a comida e bebida oferecida por sua empresa eram importadas, ela disse que não, mas que todos seus fornecedores operam baseados na cotação do dólar.

“As pessoas só conseguem pensar em dólar neste país, mesmo que o vinho seja nacional e que os alimentos também seja”, ilustrou um executivo brasileiro.

“O clima social está esquentando e se o ajuste for pelo lado de aumentos de impostos, toda a sociedade paga o preço”, alertou um executivo do setor financeiro. Segundo ele, somando as supostas medidas à retirada de subsídios das tarifas, mais a inflação que está mais perto de 40%, o risco de convulsão social é grande.

Após o anúncio do pacote de medidas, previsto para às 9h45, o ministro da Fazenda, Nicolás Dujovne, viajará à Washington para negociar com o Fundo Monetário Internacional (FMI) o pedido de antecipação de desembolso do pacote do acordo assinado em junho. O pacote prevê ajuda de US$ 50 bilhões com uma meta de déficit de 1,3% do PIB no próximo ano.

Enquanto a situação não for clara, não só a economia de curto prazo está parada, mas os investimentos que já estavam sendo analisados com cautela desde maio, agora estão na gaveta.

Fonte: Valor Econômico.

Os comentários estão encerrados.

plugins premium WordPress