BeefPoint TV: importância da cria para produzir carne de qualidade, por Luciano de Andrade (Marfrig) na Feicorte 2012
20 de junho de 2012
Atacado – 20-06-2012
20 de junho de 2012

Aquecimento global e pecuária: o que todo pecuarista deve saber sobre ele

Por Sergio Raposo de Medeiros (Eng. Agrônomo, Embrapa Gado de Corte)

Poucos assuntos irritam tanto o pecuarista como o envolvimento do boi no aquecimento global. Seu maior desejo seria alguém confirmar que o aquecimento global (AG) é a balela científica do século ou que o boi não tem nada a ver com isso. Iniciaremos esse texto colocando esses assuntos em perspectiva.

Quanto ao AG, ele tem sido estudado no mundo inteiro intensamente há algumas décadas e a maioria dos climatologistas acredita que há evidências suficientes de sua ocorrência e que ele tem relação com o aumento da concentração de carbono (C) na atmosfera causada por atividades humanas. Por ser uma ciência muito complexa e ainda cheia de incertezas, é impossível gerar apenas um cenário futuro, havendo a geração de inúmeras possibilidades. Aqui começam os problemas, pois para quem estiver interessado em criar terror com o assunto, basta selecionar os cenários catastrofistas. De maneira inversa, a quem interessar menosprezá-lo, muitas vezes apenas para ter seus 15 minutos de fama, basta escolher cenários que mostrem pouco ou nenhum efeito. De fato, um dos cenários possíveis nas modelagens do AG, por mais inusitado que pareça, é o esfriamento do planeta! O fato é que esses cenários extremos são os menos prováveis de ocorrerem, o que denota a desinformação ou desonestidade de quem os avoca como cenários prováveis.

Ocorre que, mesmo para os cenários intermediários, pode-se esperar efeitos significativos no clima e, consequentemente, na nossa vida. Os dados climáticos mais recentes tem corroborado a ocorrência do AG. Caso eles se confirmem daqui uns 30 ou 50 anos, não teremos como voltar atrás e apenas sobrará o arrependimento de não termos começado a mitigar o problema desde hoje, como a grande maioria dos cientistas tenta nos convencer.

Já o envolvimento da pecuária no problema está relacionado principalmente ao fato do ruminante, em sua parceria com os microrganismos que habitam seu rúmen e que lhe permite aproveitar materiais fibrosos, produzir metano, gás 25 vezes mais potente que o gás carbônico na retenção do calor. Admite-se hoje, somado aos demais gases de efeito estufa (GEE) como o óxido nitroso proveniente da degradação das excretas, que de 10 a 18% dos GEE gerados pelas atividades humanas são de origem de animais ruminantes.

Portanto, infelizmente, nem o AG é uma farsa, nem o boi não tem nada a ver com ele. Junto com essa verdadeira provação ao produtor de carne decorre outra ainda maior que é o sensacionalismo como o tema é tratado. Mês passado, por exemplo, foi divulgado um trabalho de pesquisadores europeus em que foi apresentado com a seguinte manchete “Produzir 1 kg de carne no Brasil equivale a rodar 1,6 mil km de carro”. A primeira coisa que chama a atenção é que esse dado da reportagem não consta do artigo científico, mostrando já predisposição em macular a imagem do setor. Com relação ao conteúdo do trabalho propriamente dito, apesar da seriedade com que foi feito, ele adota uma abordagem francamente oposta à produção de carne, como se houvesse grande vantagem em reduzir seu consumo e sua produção.

Por conta dessa abordagem, os autores sugerem incluir na “conta” da pecuária o que eles chamaram de “dreno de C potencial perdido”, considerando o C da vegetação natural que retornaria a área em que se produz carne, caso ela fosse vedada. A justificativa, segundo os autores, seria que há pressa em reduzir a concentração de C na atmosfera e que isso daria uma ideia melhor aos consumidores em suas escolhas. O Brasil passaria de 59,0 kg de CO2-eq/kg carne para 335,1 kg de CO2-eq/kg carne!

Há vários problemas graves com o trabalho: Em primeiro lugar, não considera os impactos ao ambiente pela necessidade de aumento de produção de alimentos vegetais e de monogástricos para substituir a carne da dieta. Com essa escolha abre-se mão da produção de proteína de elevada qualidade à partir de capim, com consequente aumento da competição de animais monogástricos por alimentos que servem aos humanos. Esse aumento de competição seria ainda mais exacerbado pois, hoje, boa parte dos nutrientes utilizados pela avicultura são sub-produtos da indústria da carne bovina.

O segundo grave problema é que ele considera que a produção média brasileira por hectare e a área ocupada pela pecuária permaneceria a mesma de hoje até as datas finais projetadas no estudo de 30 e 100 anos. O fato de termos aumentado a produção de 1975 à 2006 em 535% com aumento de apenas 47% de área de pastagem, dá uma ideia de quão errada é essa premissa.

O terceiro grave erro é que, ao fazer as contas de quanto C se acumularia caso as pastagens fossem vedadas, chegaram a valores entre 110-136 t C/ha, ou seja, quase 80% da média do que se encontra na floresta tropical, como a Amazônica (151 t C/ha). Para quem conhece o Cerrado, onde está a maior parte do nosso rebanho, facilmente percebe que esta é também uma grosseira distorção, sendo que valor médio adequado seria 67 t C/ha.

Outra grande falha é justificativa para redução na produção de carne baseada na premissa que a redução do consumo de carne traria a vantagem de uma melhoria da saúde da população. Peço licença aqui para recomendar artigo de minha autoria sobre o assunto que pode ser acessado em http://www.cnpgc.embrapa.br/publicacoes/doc/doc171/DOC171.pdf. Como síntese máxima do conteúdo deste texto, a reafirmação que a carne é uma alimento que ajuda a obtenção de dietas com ótimo balanço nutricional, ajudando a uma melhor qualidade de vida, com saúde.

Chega a ser irônico que os autores, pertencentes à afluente comunidade européia, venham sugerir a redução da produção de carne no mundo, quando exatamente neste momento as populações de países em desenvolvimento começam a ter acesso a ela, ainda em níveis de consumo muito inferiores ao dos países ricos do hemisfério Norte.

Todavia, o maior erro dos autores é, ao fazerem a análise por área, penalizarem nossa pecuária pelo seu maior mérito, que é ser de baixo uso de insumos e, assim, de baixo impacto ambiental. Ainda assim há o mérito desse trabalho ter sido feito baseado em Análises de Ciclo de Vida (ACV), que tenta levar em consideração a totalidade de geração de gases de efeito estufa na cadeia de produção até o consumo (pré-porteira, dentro da fazenda e pós-porteira).

Foi a análise de um desses trabalhos de ACV comparando o impacto ambiental de 1 tonelada de carne produzida no Brasil ou no Reino Unido que primeiro chamou a atenção de como a problemática do AG é, na verdade, uma grande oportunidade para alcançarmos um novo patamar na nossa pecuária. Alguns dos principais dados dele estão no Quadro 1:

As variáveis do Quadro 1 apontam impactos em importantes aspectos ambientais, sendo desejável os menores valores possíveis. Nos quatro primeiros itens, a produção de carne bovina no Brasil leva imensa vantagem, reflexo da menor necessidade de insumos (incluindo energia, que precisa praticamente seis vezes menos). No último, exatamente o relacionado ao AG, o Brasil se sai pior. No próprio relatório do Departamento para Ambiente, Alimentos e Assuntos Rurais do Reino Unido (DEFRA), é apontanda a razão desse resultado: nossos baixíssimos índices de produtividade média.

Assim, nosso pecado em termos de produção de metano é, na verdade, produzi-lo muitas vezes sem a devida contrapartida de produção de carne. Em outras palavras, o problema é o metano produzido em vão por animais sem ganho de peso (ou perdendo peso na seca), bem como aquele emitido por vacas vazias, seja por falha na reconcepção ou pela demora das novilhas entrarem em produção. Produzimos, então, muito metano por quilograma de carne produzida.

O interessante é que, apenas com uma recuperação das áreas degradadas e melhor manejo das pastagens é consenso entre os técnicos que a produção por área no Brasil poderia ser dobrada dos atuais 0,8-1,0 UA/ha. Um bônus adicional da recuperação e manejo de áreas degradadas é que há sequestro de C pelas pastagens no solo, em função do crescimento radicular. Esse é um dos grandes drenos de C que temos para aproveitar.

Outras tecnologias simples, como suplementação estratégica da seca, poderiam aumentar significativamente a produtividade. Enfim, impactando muito pouco nos quatro primeiros itens do Quadro 1, reduziríamos muito o item cinco, o potencial de aquecimento global.

Portanto, bem ao contrário de reduzir nossa produção, temos que intensificá-la, apenas com o cuidado de fazer de forma mais eficiente do que hoje. Conforme já comentado, ganhos em eficiência tem sido obtido constantemente na nossa pecuária há muito tempo. Nosso envolvimento com o AG apenas faz com que nossa velocidade na adoção de tecnologia deva ser mais rápido, para que passemos de “problema” para “solução”.

Nossa eficiência na produção de carne pode ser ampliada enormemente com o uso de sistemas integrados de produção, seja na integração lavoura-pecuária, em sistemas silvipastoris ou na integração lavoura-pecuária-floresta. Outra atividade que pode ser incorporada, em sistemas exclusivos de pastagem ou de integração, é o confinamento que tem-se mostrado a mais eficiente ferramenta em reduzir a emissão de metano por quilograma de carne. Um excelente artigo sobre os efeitos da intensificação na redução da emissão de gases de efeito estufa e sequestro de carbono está disponível no link http://www.cnpgc.embrapa.br/publicacoes/doc/DOC192.pdf.

Para quem advoga, como esses infelizes autores europeus, a redução da produção de carne, vale lembrar que as previsões de necessidade de alimento para uma população projetada para 2050 de 9 bilhões são enormes e não podemos abrir de um alimento nobre, produzida por um animal que pode ser criado em áreas impróprias para a agricultura, usando capim ou resíduos diversos, o que evita a competição por alimentos consumidos por humanos. Não devemos perder de vista que, além de grandes pecuaristas, há bovinos que cumprem a função social de ser a “poupança” de muitos pequenos agricultores no mundo e que, na África, 70% da população pobre dependem da pecuária. Também, que nas Análises de Ciclo de Vida, não deveriam ser considerados apenas a carne, mas todos os subprodutos aproveitados do boi, desde o sebo já usado como biocombustível até a farinha de ossos que, apesar de não ter C em sua constituição, reduz a necessidade do produto industrializado, o qual tem embutido maior necessidade de energia para ser produzido e transportado.

Importante, também, o pecuarista saber que a ciência envolvendo essas assunto ainda é recente e está ainda se solidificando, mas que o Brasil está fazendo a sua parte em determinar seus prórpios índices de emissão e fluxos de C, bem como avaliando estratégias de mitigação. Na semana passada, por exemplo, mais de 50 pesquisadores estiveram reunidos em Campo Grande, na Embrapa Gado de Corte, em um treinamento para determinação de gases de efeito estufa e sequestro de C no solo, referentes a um grande projeto chamado Pecus (http://www.cppse.embrapa.br/pecus/). Junto com o trabalho intenso de Universidades e Institutos de Pesquisa, dados estão sendo gerados e, apesar de ainda preliminares, em breve deveremos ter boas notícias sobre o tema.

Em síntese, o aquecimento global existe e a pecuária está envolvida, mas no nosso caso o que precisamos é intensificar a produção com ganhos em eficiência. O que os economistas da área mostram é que esse é o mesmo caminho para deixar a propriedade sustentável também do ponto de vista econômico. A rentabilidade da atividade está relacionada com o aumento da intensificação.

Para um mundo cada vez mais demandante de carne, temos todas as condições de provermos a carne mais verde do mundo, com abundância e qualidade. O trabalho de cada produtor de carne bovina no Brasil será muito importante para alcançarmos essa situação e o passado recente faz com que a aposta que chegaremos lá totalmente possível.

 

15 Comments

  1. Cássio Rodrigues disse:

    Parabéns pelo excelente artigo, sóbrio e ponderado no meio de tantos extremistas de um lado e do outro.

  2. Marcos Jacinto disse:

    Parabéns pelo texto, apenas gostaria de lembrar ao autor que cometemos um erro em comentar que medimos produção em UA/ha, isto esta errado, pois com manejo de pastagem equivocado podemos colocar 2UA/ha e obtermos um ganho em kg de carne/ha inferior ao de 1 UA/ha , uma coisa é a produção de capim (MS) por ha , outra é transforma-la em carne, ai já depende de regularidade (boi sanfona), manejo do gado e da pastagem, manejo sanitário e principalmente genética.

    No meu ponto de vista , penso que apenas com uso de genética ajustada p/ produção (touros provados, no caso de nelore com CEIP) e ajuste nos manejo nutriconal (mineral, proteicos e estrátégicos na fase de terminação), sanitário , reprodutivo e principalmente no uso da pastagem , podemos dobrar a produção apenas usando os recursos naturais existentes no momento, as nossas pastagens semi degradadas e degradadas existentes, sem uso “ainda” de calcário e adubos, sem aumentar muito o custo de produção, pois o sr. fala em dobrar a produção, ” para quem” vamos vender tanta carne? Temos que tomar muito cuidado com o custo de produção. Mas o que eu queria mesmo dizer era que produçào se mede KG de Carne / ha e não UA/ha , isso é uma medida de lotação e que sózinha não determina a produtividade. Desculpe a correção, mas é importante esta visão ser bem clara…Novamente parabéns pelo texto!

  3. José Tavares de Almeida disse:

    Muito pertinente e de interesse imediato. Para os pecuaristas da região semiárida do BR fez bem em lembrar da necessidade da produção e armazenamento de volumosos para atender os requisitos da alimentação na época seca, uma certeza de todos os anos.

  4. Gilmar Luiz Martins disse:

    Seguem sites atualizados que precisamos estudar para melhor discutir esse assunto que é a FARSA DO AQUECIMENTO GLOBAL. Fato real.
    Os maiores cientistas brasileiros sobre o clima provam com numeros, que são corroborados por cientistas internacionais do próprio IPCC, que o mundo está se resfriando e isso será um grande problema para a produção de alimento, devido a redução das chuvas. é dificil ver um texto só com teorias contrarias ao setor semprovas contundentes como poderão ver nestes sites anexados.

    http://www.linkedin.com/news?viewArticle=&articleID=5619031381238620208&gid=1516777&type=member&item=124615924&articleURL=http%3A%2F%2Fwww%2Eadvivo%2Ecom%2Ebr%2Fblog%2Fluisnassif%2Fa-carta-aberta-de-cientistas-brasileiros-a-dilma%3Futm_source%3Dtwitterfeed%26utm_medium%3Dtwitter&urlhash=R9bj&goback=%2Egde_1516777_member_124615924

    outros sites interessantes.

    http://www.youtube.com/watch?v=winWWplmyMk
    http://www.youtube.com/watch?v=NvSJQQuOtxg
    http://www.youtube.com/watch?v=oJTNJBZxX6E&feature=player_detailpage
    http://www.youtube.com/watch?v=oJTNJBZxX6E&feature=player_detailpage
    http://www.youtube.com/user/VERDADEFINALREVELADA

  5. JOSE AZHAURY MACEDO LINHARES disse:

    Meus cumprimentos pelo artigo. Gostaria que tivesse também difusão na midia para acabar com falsos conceitos

  6. José Olímpio Dias de Faria disse:

    Muito bem!

  7. Ronaldo Zechlisnki de Oliveira disse:

    Belo artigo.Porem vale lembrar que o Aquecimento Global não é um consenso entre os cientistas.Alguns entendem que vamos para um resfriamento futuro.Estes ciclos estão evidenciados na historia do Planeta,e tendem a se alternar como sempre ocorreu.

  8. celso de almeida gaudencio disse:

    Prezado Sérgio Raposo de Medeiros perfeita a análise.
    Noticia-se que a intensificação produtiva bovina beneficia ao meio ambiente, pela diminuição da área de pastagem, necessária para abrigar o mesmo rebanho, por certo essa assertiva esta levando em conta a contribuição fotossintética da pastagem (7,8 t MS/ ha/ ano), produção devido à renovação continua dos tecidos verdes no sistema extensivo com maior área produtiva.
    Caso na propriedade de 58 hectares de pastagem, locar também 17 ha para área florestal de Reserva Legal e Preservação Permanente (RL e APP), totaliza 75 hectares, em que os ambientalistas teimam em aumentar ainda mais, em muitas situações superiores a quatro módulos fiscais (12 a 18 hectares) no Paraná.

  9. celso de almeida gaudencio disse:

    Prezado Marcos Jacinto apresenta comentário importante no que se refere UA, pois se comercializamos 80 cabeças de bovinos pesando em média 540 kg num total de 43200 kg/ peso vivo ou equivaleria 96 UA (450 Kg) pesando 43200 kg, não havendo inconveniência em usar UA, pois o parâmetro é produção de carne e não numero de cabeças, pois o numero de cabeças só serve para indicar a lotação. Mas, quando no inventario de ganho de peso animal/ ha/ ano, com animais de diferentes categorias de idade o prudente é transformar em UA, que por certo não há novidade como fazer.

  10. Sergio Raposo de Medeiros disse:

    Agradecendo as manifestações positivas quando ao texto, esclareço a pertinente preocupação quanto ao aumento de lotação reduzindo o desempenho individual. Esclareço que frente a média de produção brasileira, algo entre 70-90 kg/ha.ano é possível dobrar a lotação e obter entre 140-180 kg/ha.ano, apenas com a recuperação de áreas degradadas e um melhor ajuste de carga. Os 180 kg/ha.ano, em muitos casos, demandaria pelo menos o uso de suplementação de sal com ureia, tecnologia de baixo investimento e usualmente de relação benefício:custo postiva.

  11. Cristiano José Just de Andrade disse:

    Muito bom. É um alívio saber que temos PROFISSIONAIS COMPETENTES, encarando “ambientalistas leigos de plantão”. Parabéns.

  12. Loureno Budke disse:

    Sérgio,
    parabéns pela excelente análise. Em meio a tantos radicalismos, o seu texto reafirma a máxima aristotélica (Etica a Nicomacos) que creio e recomendo, de que “a excelência está no meio termo”. Gostei do “infelizes autores europeus”. Abração.

  13. Humberto Maciel França Madeira disse:

    Caro amigo e colega Sérgio:

    Parabéns pelo artigo.Como em todos os campos do conhecimento, é impossível chegar à verdade absoluta, dadas nossas limitações em apreendê-la e a não revelação completa dessa mesma verdade pelo objeto da pesquisa. De qualquer forma, cabe aos verdadeiros cientistas, os que têm compromisso com a verdade e que não se deixam levar por falácias, nem pelo politicamente correto nem pelo conveniente, para que, baseados em evidências suficientes, possamos chegar a níveis de certeza que nos deem confiança nas tomadas de decisão. Sendo assim, algo tão complexo e de difícil estudo como o aquecimento global, ele se torna terreno fértil para especulações e comentários tendenciosos e mal-intencionados.

    É inegável o aumento das emissões de carbono pela humanidade, principalmente após a revolução industrial. Ainda que seja verdade que o planeta esteja se resfriando, certamente o estaria em nível mais lento do que aquele que seria o “natural”, caso não houve tamanha interferência antrópica. Dessa forma, se considerarmos que a vida do Homo sapiens no planeta se beneficiou das mudanças climáticas naturais através dos tempos, será prudente modificar em demasia a atmosfera? Entendo pessoalmente que não, pois não temos real conhecimento da capacidade “tampão” dela.

    Como produtores e consumidores de carne, devemos, como em qualquer outro ramo da atividade humana, buscar a máxima eficiência energética, pois afinal não podemos reverter a inexorável segunda lei da termodinâmica: o aumento da entropia; a passagem de um nível mais organizado, concentrado, de energia para um mais desorganizado.

    Rebater as críticas exageradas e tendenciosas com base em outras especulações radicais em contrário só nos desacredita. Por essa razão que parabenizei seu artigo, que nos conclama a prudência e a busca científica, não apaixonada, da realidade dos fatos. Sinto esse mesmo problema no debate do Código Florestal e do uso de plantas geneticamente modificadas. Radicais com uma agenda escondida apelam para o emocional e para o conveniente ($) para eles, e os produtores rurais respondem com exageros em contrário. Ou seja, devolvem o mal com mal, tentando vencer a briga da manipulação da opinião pública por meio de frases de efeito e spin-doctoring.

    Se pesquisadores com uma visão sensata como a sua ficarem quietos, serão coniventes com o atual, trise e injusto estado das coisas.

  14. Sergio Raposo de Medeiros disse:

    Prof. Humberto! Muito obrigado pelos elogios e inspiradora resposta! De quebra, aprendi o que é “spin-doctoring”!!!!

  15. Clandio Favarini Ruviaro disse:

    Caro Sérgio, quero parabenizá-lo pelo excelente artigo. Muito bem elucidadas as diferentes abordagens inerentes ao tema do AG. Não poderia deixar passar batido quando o senhor se refere a aplicação e derivações da Avaliação do Ciclo de Vida à pecuária de corte. No Brasil, estamos “engatinhando” no que se refere a aplicação do ACV no agronegócio nacional e, sem dúvida, são necessários vários estudos e adaptações desta metodologia considerando a nossa biodiversidade. Aproveito para enfatizar que a ACV pode em muito contribuir na demonstração do quanto nossa pecuária “bem conduzida” é de baixo impacto ambiental. Faço uso deste espaço para também lhe informar de um artigo que publiquei agora em junho no Journal of Cleaner Production sobre o ACV no setor agrícola brasileiro e internacional (http://www.sciencedirect.com/science?_ob=ArticleListURL&_method=list&_ArticleListID=2044607245&_sort=r&_st=13&view=c&_acct=C000228598&_version=1&_urlVersion=0&_userid=10&md5=c08cbd4a4055f71ac5cdc0a511165486&searchtype=a). Parabéns!

    Clandio Favarini Ruviaro
    Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
    Centro de Estudos e Pesquisas em Agronegócios (Cepan)
    Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (NESPRO)

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