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Após ameaça tarifária, China pode ficar sem opção contra os EUA

A ameaça da China de impor novas tarifas sobre US$ 60 bilhões em produtos americanos pode ser um indicativo de que o presidente Xi Jinping está ficando sem opções, diante do aumento da pressão dos Estados Unidos, para agir num momento particularmente delicado.

A inclusão do gás natural liquefeito (GNL) dos Estados Unidos na lista de produtos a serem sobretaxados em 25% mostra o quanto as relações se deterioraram desde a visita do presidente americano, Donald Trump, a Pequim, em novembro, quando a China fechou a Cidade Proibida para recebê-lo para um jantar privado no local.

Durante a visita, Xi e Trump testemunharam a assinatura de negócios avaliados em US$ 250 bilhões, que Trump classificou de “acordos formidáveis, incríveis e criadores de empregos”.

Mais de 20% desses valores estavam relacionados ao GNL. Pequim agora está enviando um alerta político de que está disposta a desfazer os benefícios alcançados com a viagem de Trump, de acordo com um executivo de uma empresa do setor de energia.

No sábado, Trump usou o Twitter para dizer que está vencendo a batalha e não está disposto a recuar. “As tarifas estão funcionando muito melhor do que qualquer um poderia esperar”, escreveu, citando uma grande queda no mercado de ações chinês e dizendo que Pequim agora “está falando conosco”.

“A China, que pela primeira vez não está se saindo bem em relação a nós, está gastando uma fortuna em anúncios e relações públicas… porque eles estão realmente prejudicando sua economia”, tuitou Trump um pouco mais tarde.

As exportações anuais de GNL dos EUA para a China sextuplicaram para 2,9 bilhões de metros cúbicos em 2017, em comparação com o ano anterior. Somente o México e a Coreia do Sul compram mais. Uma queda nos embarques para a China afetaria os planos de investimentos em novos terminais de GNL nos EUA.

Com as tarifas, o GNL entra para um grupo de bens, juntamente com bebidas alcoólicas e joias, sobretaxados em 25%. Ele deverá ser atingido mais duramente do que creme dental e cadernos de papel, que receberão uma tarifa adicional de 20%, ou a carne de frango e o milho congelado, sobretaxados em 5%.

Mas, mesmo com essa jogada, a retaliação da China representaria apenas uma fração da proposta dos EUA. A administração Trump já impôs ou propôs tarifas sobre um total de US$ 250 bilhões em produtos chineses – cerca de metade dos US$ 505 bilhões em produtos que os EUA importaram da China em 2017. A China agora está mirando um total de US$ 110 bilhões, ou 80% dos produtos importados dos EUA. Washington ainda tem muito espaço para aumentar a pressão, mas Pequim começa a ficar sem alvos.

As mais novas ameaças da China surgem por ocasião do encontro anual das autoridades máximas do Partido Comunista em Beidaihe, na província de Hebei, no qual o desempenho do governo é analisado. A agência de notícias oficial chinesa Xinhua informou no sábado que autoridades chinesas se reuniram com especialistas de várias áreas em Beidaihe, sinalizando que o evento já começou.

A equipe de Xi não teve muita escolha a não ser revidar as novas ameaças de tarifas de Trump, se Xi não quiser transmitir a imagem de fraco em Beidaihe. O governo correu o risco calculado de fazer a jogada com o GNL, ao custo de ter menos poder de fogo posteriormente.

Em editorial publicado no sábado, o jornal chinês “Global Times” desconsiderou os efeitos das tarifas impostas por Trump. “É previsto que a guerra comercial tenha uma ligeira influência sobre o mercado doméstico no segundo semestre do ano, mas nada muito significativo”, afirmou o texto.

“Trump provavelmente se sente encorajado pelo impacto mais visível que as tensões comerciais estão tendo sobre os mercados e a economia da China – até agora – do que nos EUA”, disse Michael Hirson, diretor da Eurasia para a Ásia. “Pequim resolveu que um acordo aceitável não está à vista”, acrescentou.

Mesmo assim, há sinais de que os dois lados querem conversar. Enquanto Washington protesta contra o enfraquecimento do yuan, alegando que a China está usando a moeda como arma na guerra comercial para dar suporte às suas exportações, o banco central chinês anunciou uma medida que poderá acabar aliviando essas preocupações.

A partir de hoje, o banco central chinês vai restabelecer a obrigatoriedade de reserva de 20% sobre os contratos futuros de câmbio dos bancos, com as reservas acumuladas no banco central para evitar a desvalorização da moeda e a fuga de capital que resultaria disso.

O banco central “agiu levando em conta principalmente a estabilidade financeira, mas provavelmente também a intenção de conter as críticas dos EUA”, afirmou Hirson.

Fonte: Valor Econômico.

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