Ativistas bloqueiam depósitos do McDonald’s no Reino Unido contra destruição da Amazônia
24 de maio de 2021
Sincronização de estro – Parte 1
24 de maio de 2021

Aporte na BRF será coberto com geração de caixa, diz Molina

Um bote cirúrgico e sem alarde até os 45 do segundo tempo. Liderada por Marcos Molina, a Marfrig comprou 24% da BRF por cerca de US$ 830 milhões (R$ 4,4 bilhões), o que lhe dá uma capacidade inédita para influenciar no destino da dona das marcas Sadia e Perdigão – uma septuagenária e outra octagenária.

Para um empresário de 51 anos que foi emancipado aos 16 para criar uma distribuidora de carne e só começou a montar um império frigorífico em 2000, a ascensão da Marfrig dá uma medida do estilo. 

Descrito como habilidoso e inquieto, Molina está de volta, ainda que passivamente, aos negócios de frangos e suínos, de onde precisou sair em 2013 para ajustar as contas da Marfrig, que tropeçava em dívidas e teve de vender a Seara à JBS – o negócio mais doloroso da carreira. 

A fase árdua levou anos, e outras vendas foram necessárias para que a empresa parasse de queimar caixa. Mas o jogo virou radicalmente há três anos, quando Molina adquiriu a National Beef – a quarta maior indústria de carne bovina dos EUA. A operação americana se converteu numa cash cow que, em apenas dois trimestre, pagará a aposta que a Marfrig fez na BRF. A Marfrig não antecipa números, mas quem conhece os negócios garante que a geração de caixa deverá superar US$ 500 milhões neste segundo trimestre.

Em entrevista exclusiva ao Valor ontem à noite, Molina fez indicação parecida, ainda que sem dar as cifras. “Grande parte do investimento será absorvido com a geração do segundo trimestre e outra no terceiro, o que equivale a seis meses de geração do National, no máximo”, assegurou o empresário. De acordo com ele, a Marfrig mantém os planos de acelerar a redução da dívida bruta e continuará a pagar dividendos. 

Considerando os números do primeiro trimestre, o índice de alavancagem (relação entre dívida líquida e Ebitda em doze meses) da Marfrig subiu 0,45 ponto com a compra das ações da BRF, saindo de 1,78 para 2,23, um patamar ainda confortável. 

A aposta na BRF, aliás, já estaria com retorno positivo, se a Marfrig fosse um fundo de investimento, valendo cerca de US$ 1 bilhão. O custo médio de compra dos papéis da dona da Sadia, uma questão que despertou curiosidade de investidores e analistas, ficou entre R$ 23 e R$ 24, disse Molina. O intervalo foi calculado a partir do fechamento do dólar na sexta-feira (R$ 5,35) porque parte da posição foi feita com a compra de ADRs (recibos de ações nos EUA). 

Conforme Molina, a posição na BRF começou a ser montada em abril, exclusivamente via ADRs, até a segunda-feira, quando atingiu uma participação de 4,99%. Na terça-feira, chegou aos 5%, patamar obrigatório para informar à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) – a autarquia abriu uma investigação para averiguar porque a Marfrig não divulgou imediatamente a informação que havia atingido a fatia de 5%.

Questionado pelo Valor, Molina sustentou que a companhia teria três dias para informar sobre o atingimento do percentual mínimo. Segundo ele, a empresa que teve as ações compradas é que tem a obrigação de divulgar ao mercado a informação assim que recebe do investidor – o que foi feito pela BRF na sexta-feira, quando a Marfrig comunicou ter chegado aos 24,2%. 

O empresário disse que não pretende unir as empresas. “Não tem nada no plano. As operações precisam estar focadas”, afirmou, lembrando que a Marfrig está concentrada em carne bovina e a BRF, em aves e suínos. Para ele, o investimento é de longo prazo e fazia sentido também porque a dona da Sadia é o principal cliente, comprando hambúrguer, quibe e almôndega produzido em Mato Grosso pela Marfrig. “As duas empresas são amigas”. 

Em linha com o fato relevante de sexta-feira, Molina reiterou que terá uma gestão passiva na BRF, e não proporá qualquer alteração no conselho comandado por Pedro Parente ou na gestão do CEO Lorival Luz. Em abril de 2022, quando o mandato do conselho da BRF vence, ele avaliará se uma indicação da Marfrig para o board faz sentido, caso agregue à dona das marcas Sadia e Perdigão. 

“Estamos tranquilos com nosso investimento. Não entramos em uma companhia que é um problema”, ressaltou Molina, acrescentando que a BRF teve um bom resultado em 2020 e que as ações ficaram baratas em razão da preocupação do maior custo com grãos, o que afeta todos os grupos do segmento. 

Entre investidores de peso, a entrada de Molina foi bem vista. Com 5% da BRF, a Kapitalo manteve sua participação e vê no movimento da Marfrig um endosso da sua visão. “É alguém que entende do negócio que comprou essa participação, o que só mostra o quanto a empresa está barata e pode alcançar um valor maior”, disse Bruno Mauad, sócio da Kapitalo. A Previ, histórica acionista, vendeu à Marfrig 3%, embolsando um lucro de R$ 651 milhões. A fatia do fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil caiu para 6%.

Fonte: Valor Econômico.

Os comentários estão encerrados.

plugins premium WordPress