As startups agrícolas receberam mais investimentos em 2017 do que nos dois anos anteriores combinados, em meio ao confronto cada vez mais evidente entre grandes grupos de agricultura e investidores de capitais de risco do Vale do Silício dispostos a virar de ponta-cabeça esse setor multibilionário. Foram injetados mais de US$ 700 milhões em “agtechs” no ano passado, segundo a empresa de análises de mercado CB Insights, ante US$ 332 milhões em 2016 e US$ 233 milhões em 2015.
A onda de investimentos nessas startups, que usam avanços como os da robótica ou da ciência de dados para tornar a agricultura mais eficiente, contrasta com a situação financeira na zona rural dos EUA.
A renda das fazendas vem caindo desde que a tendência de alta das commodities chegou a seu pico no início da década de 2010 e resultou em excesso de produção e queda dos preços.
Segundo o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), os produtores enfrentam o terceiro ano consecutivo de declínio na renda.
A situação encoraja investimentos que podem elevar a eficiência do setor. O aumento do dinheiro levantado pelas startups nas rodadas de investimentos em estágios mais avançados indica que o setor de tecnologia agrícola está amadurecendo, diz Rob LeClerc, da AgFunder, plataforma especializada no setor. Ele destaca os US$ 203 milhões da rodada de investimento da série D fechada em dezembro pela Indigo, empresa de Boston que pretende usar micróbios para melhorar a saúde e produtividade das plantas.
Quase 25% dos investimentos no agronegócio foram feitos por grandes grupos ou seus veículos de capital de risco, como os da Monsanto e Syngenta, alta de 7 pontos percentuais em relação a 2016. Isso levanta dúvidas se os grandes conglomerados são inimigos ou aliados dos novatos que querem sacudir o mercado.
Uma dessas startups, a Farmers Business Network (FBN), que levantou US$ 110 milhões do braço de capital de risco do Google e de outras empresas em 2017, diz ajudar os agricultores a evitar que sejam enganados por fabricantes de insumos agrícolas, após fusões gerarem temores sobre oligopólio.
A rodada de financiamento da série D na FBN foi encabeçada pela T Rowe Price e pelo fundo soberano Temasek, de Cingapura. Também injetaram mais dinheiro investidores já existentes, como a GV, braço de capital de risco do Google, Kleiner Perkins e Acre Venture.
As grandes companhias agrícolas não estão sentadas sem fazer nada. Só a Bayer investiu entre US$ 600 milhões e US$ 700 milhões nos últimos 18 meses em empresas de ciências da vida, apostando em projetos como o ao lado da Ginkgo Bioworks, empresa de biotecnologia avaliada em mais de US$ 1 bilhão, que pretende criar sementes pré-revestidas com um fertilizante microbial.
A Monsanto Growth Ventures encabeçou rodada de aportes da série C, de US$ 30 milhões, da NewLeaf Symbiotics, empresa do Missouri que tenta usar bactérias para ajudar no crescimento das lavouras. Em dezembro, a Syngenta Ventures liderou rodada da série B de US$ 12 milhões na Asilomar Bio, que busca melhorar o rendimento do campo.
Os grandes grupos também vêm fazendo aquisições diretas. Um dos maiores negócios de 2017 foi a compra da Blue River Technology, startup do Vale do Silício que usa técnicas de aprendizado das máquinas para tornar mais precisos os equipamentos de pulverização, pela Deere & Co., por US$ 305 milhões. A DuPont comprou a Granular, firma de San Francisco que faz softwares para agricultores, por US$ 300 milhões.
Ben Belldegrun, do Pontifax Agriculture Technology Fund, prevê que as grandes empresas vão continuar gastando para se sintonizar com mudanças tecnológicas, o que deverá fazer de 2018 outro ano positivo para as agtechs.
Fonte: Valor Econômico, resumida e adaptada pela Equipe BeefPoint.