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Aonde a carne é realmente fraca – Por Marcelo Pereira de Carvalho

Constatando a operação e si e, mais do que ela, a repercussão nas mídias sociais, na imprensa e dos mercados, o ponto que chamo a atenção aqui é aquele que trata do nosso verdadeiro calcanhar de aquiles: imagem. Não só da cadeia da carne, mas do agronegócio como um todo.

Vi pessoas inteligentes, esclarecidas, formadoras de opinião em suas respectivas áreas de atuação, usando esse episódio, ainda mal explicado em sua totalidade, como uma desculpa para martelar novamente o estereótipo formado ao longo dos últimos 20 anos: o do agricultor ou pecuarista que explora o trabalho, agride o meio ambiente e não se preocupa com a qualidade do que se produz. O retrato representado pela “bancada ruralista”, termo pejorativo que caracterizou políticos do Congresso que atuam defendendo os interesses do setor, hoje suavizado em “frente parlamentar da agricultura”.

Com uma população 84% urbana, o hiato entre o meio rural e o meio urbano só aumenta, principalmente nos municípios e capitais nos quais a produção agropecuária é pouco relevante. Nesse cenário que a cada ano se intensifica, é particularmente notável como os estereótipos equivocados e superficiais são prevalentes quando se pensa no agronegócio brasileiro. Não há meio termo: temos apenas duas “personas” que produzem alimentos: o sitiante desassistido e explorado, e o latifundiário (para usar um termo comum quando eu estava na escola) explorador, poluidor, inconsequente, que presta um desserviço ao país e atende pelo nome de “agronegócio”.

Na visão de grande parte da população (diga-se, do consumidor), o agronegócio é isso. Os recordes de produção, exportação, eficiência, itens abstratos para o cidadão comum, foram e são obtidos graças a comportamentos nocivos à sociedade, anti-éticos e assim por diante.

Daí, muito natural considerar que a produção desses produtores seja processada por empresas igualmente danosas, configurando uma cadeia produtiva marcada pelo atraso. Qando um episódio como o “Carne é Fraca” vem à tona, essa cadeia de pensamento é reforçada. Em outras palavras o estereótipo se materializa e se consolida quando algumas empresas lançam mão de práticas ilegais, sem aqui entrar no mérito da validade/correção da operação.

Isso tudo com um agravante muito significativo nos dias de hoje: com as mídias sociais, o movimento é irrefreável e o efeito disso é incalculável.

Disso, deriva-se dois pontos principais: primeiro, grandes marcas e uma cadeia inteira não podem correr riscos como os expostos pela Operação Carne Fraca. Não, BRF, JBS: vocês não podem sequer ter casos isolados (alguém duvida que, caso o problema ficasse restrito ao Pecin ou Larissa, teríamos no máximo uma pequena nota de rodapé?). Vocês são muito grandes para errar assim.

A partir do momento em que, ainda que de maneira “isolada” ou mal explicada, grandes marcas e grupos que basicamente representam a própria cadeia produtiva são envolvidos, todo o sistema é colocado sob dúvida. Nessa situação, não tem como separar o “joio do trigo”, como quer o Ministro Blairo Maggi. Não é o Pecin; é a BRF, ainda que em uma planta apenas, e em condições não totalmente explicadas; é a JBS, com o Tony Ramos e a Fátima Bernardes alardeando sua qualidade aos quatro cantos.

O segundo ponto é que a enorme competência do agronegócio brasileiro termina quando o tema é dialogar com a sociedade. Esse é um problema histórico, agora potencializado em uma época em que cada cidadão é um formador de opinião. Não adianta comprar espaço na Globo e colocar o Antônio Fagundes falando bem do agronegócio. Esse mundo não existe mais! O consumidor não engole essa conversa e, possivelmente, isso só reforçará a visão de um conglomerado forte, capaz de investir em mídias caras, com celebridades, em uma ação “top/down”.

O que precisa – e isso não é fácil – é mostrar para o consumidor comum quem é que está por trás da produção de alimentos. O que é a produção de alimentos no país. Mostrar que o agronegócio não é formado por empresários sem alma e sem moral, mas sim (em sua enorme maioria) por pessoas que ralam para produzir a comida de qualidade que compramos todos os dias; que temos um dos códigos florestais mais rigorosos do mundo; que não temos subsídios e, ao contrário, crédito escasso e caro; que temos empresas sérias e assim por diante.

Temos que trabalhar para mudar a “persona” que representa o agro, até porque essa “persona” estereotipada não representa, na prática, o grosso das milhões de famílias que compõem a produção de alimentos.

Hoje, da forma como atuamos, é fácil bater no agro: ninguém irá nos defender, mesmo sendo responsáveis pelo superávit comercial do país e qualquer outra medida de sucesso que queiram colocar. O agro não tem nome, normalmente não tem rosto e, quando tem, ele é feio, muito feio. Parece que somos uma espécie de “Geni” da economia!

Não adianta falarmos para nós mesmos; isso tudo nós já sabemos. É preciso dialogar com o consumidor, e nisso temos sido francamente incompetentes. É precisamente nessa frente que, não só a carne, mas todo o agro, é fraco. Muito fraco!

Por Marcelo Pereira de Carvalho, fundador e CEO da AgriPoint.

3 Comments

  1. Pedro de Moura Brito disse:

    Eu, como vários produtores da minha região, já estive no agro negócio, diga-se produção de leite. A verdade: éramos explorador pelos laticínios do momento, condenavam o nosso leite, em parte ou todo o montante do dia, para, por trás, recolherem-no, neutralizar o azul de metileno que nele colocavam. Enfim, tivemos que criar uma cooperativa, com todos os gastos processuais, para nos livrarmos destes laticínios!. Aí veio a concorrência, a corrupção entre nossos funcionários, valor irrisório do leite,ao produtor, enfim, a nossa cooperativa acabou sendo comprada por um grande laticínio, pois as dívidas se acumularam, e não houve mais solução!… Da minha parte, saí do negócio, vendi o rebanho, selecionado ao longo de 20 anos e a custa do sacrifício, até mesmo da minha profissão de médico). Esse era, há 30 anos atrás, o perfil do ramo deste agro negócio!… Hoje, pelo que leio e vejo nos tele jornais, parece que algo tenha mudado para melhor, porém acredito que os grandes laticínios são, realmente, quem ganha dinheiro com o leite, a ver pelos preços do mesmo e derivados, encontrados nas prateleiras dos supermercados!…..

  2. Marco Machado disse:

    Complicado!
    Alguns fiscais agropecuários, ligados as intervenções de políticos “párias” (que infelizmente é comum), aliados a ação de diretores de empresas querendo somente ter lucro fácil fizeram esta lambança. Ainda devemos denunciar uma ação DESPREPARADA de uma policia federal.
    E, nos(produtores) colocam nesta fotografia. Nessa somos INOCENTES. Nossa culpa se poderíamos dizer é ficarmos passivos e não cobrar ações para lapidar os atores deste episódio.
    Onde estão nossas lideranças?
    Se é que temos!

  3. Luis Goldman disse:

    A AMBEV aproveitou o dia primeiro de Abril para desmentir um vídeo que circulava na internet denegrindo a sua imagem junto aos consumidores. Porque o agronegócio não faz o mesmo? É necessário um contra ataque na mídia para reforçar ao consumidor que o alarde foi feito com casos isolados. Ninguém exporta para mais de 160 países se não tiver um produto de qualidade e preços competitivos!

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