Antonio Carlos Silveira, da UNESP Botucatu, fala sobre terminação de bovinos superprecoces

Professor Antonio Carlos Silveira, da UNESP Botucatu, pioneiro na técnica de engorda conhecida como superprecoce, conversou com o BeefPoint sobre o uso dessa tecnologia no Brasil, os aspectos fisiológicos da produção de animais precoces e a demanda por esse tipo de produção.

“Nós introduzimos o superprecoce no país em 1992, em uma fazenda em Araxá/MG, começando com a raça Simental. De lá pra cá, esse sistema cresceu e se desenvolveu.”

“Conseguimos verba da Fapesp, fizemos um confinamento experimental na fazenda Lageado, e já fizemos estudos de cruzamento industrial com quase todas as raças, exceto Wagyu, por falta de exemplares.”

“Estabelecemos certas regras para o superprecoce: animal deve ser abatido com cerca de 500kg, a coloração de carne deve ser vermelho cereja, e deve haver no mínimo 4 mm de gordura.”

“O bezerro é um animal que se estressa com facilidade. São três fatores estressantes: desmama, transporte e a chegada ao confinamento. Nessa fase, ele fica exposto a novos patógenos e está com o sistema imune em baixa, há uma verdadeira batalha, que pode resultar em morte ou comprometer todo o desempenho posterior.”

“Com o estresse a parte hormonal é modificada e o organismo começa a produzir determinadas citocinas que fazem o fígado produzir proteínas de fase de estresse; assim a proteína que deveria ser usada para crescimento e engorda é desviada para criar essas proteínas de defesa do organismo contra patógenos.”

“Esse estresse que o bezerro sofre é responsável por até 40% na variação de ganho de peso de indivíduos em confinamento.”

“É necessário preparar o animal para minimizar os efeitos negativos.”

“As medidas que podem ser tomadas são: creep feeding, que funciona desde que se faça certo, ganho em animais cruzados é de 30 a 45 kg ao final da desmama; se os bezerros não atingirem 240kg, pode se fazer um pré-confinamento de 40 a 90 dias, para que eles se adaptem. Não adianta colocar o animal não adaptado no confinamento, fornece-se concentrado, com nutrientes que ele não vai absorver, se for feita essa passagem, seja através do pré confinamento, seja através do creep feeding, ele já entra adaptado no confinamento”.

“A média de conversão alimentar de um confinamento de superprecoce é de 5,5 kg de MS para cada quilo de carne, enquanto num confinamento de boi erado é preciso 8 a 9 kg de MS para se obter o mesmo quilo de carne, sem mencionar as qualidades da carne do boi novo.”

“Na minha opinião, nós precisamos abater bois mais novos devido a carência de alimento no mundo.”

“Quando se consegue produzir bezerros de extrema qualidade o mais rápido possível, o pecuarista ganha mais, o consumidor ganha mais e podemos exportar carne de qualidade.”

“O animal só cresce em uma determinada época de sua vida, depois para de crescer.”

“O confinamento deve ser visto como uma estratégia, que toda fazenda deveria ter para ser usado quando necessário, como para acelerar a recria ou a venda, melhorar animal para leilão, liberar pastagem em época de escassez. Não é preciso ter uma estrutura de confinamento, é suficiente que o boi ande menos e coma corretamente.”

“O bezerro sai da desmama, em que ele recebia alimentação materna, e com a chegada do inverno, entra numa pastagem ruim. Isso prejudica o crescimento, pois quando ele mais precisa não está recebendo comida. A solução é suplementar nessa época e assim adiantar o ciclo.”

“Quando você aumenta concentrado ocorre uma produção de metano muito menor, porque o que produz metano é o ácido acético, [proveniente da digestão do volumoso] quando se fornece mais concentrado aumenta o ácido propiônico e diminui a produção de metano.”

“A tendência do boi é ser suplementado com concentrado, onde tem grão o boi vai atrás.”

“Temos expectativa que esse ano o mercado esteja mais firme que ano passado, em Mato Grosso e Goiás será possível fazer uma alimentação mais barata. O frete no país é muito difícil e caro o que impede a expansão da produção de um boi de mais qualidade.”

O desenvolvimento deste projeto só foi possível graças ao apoio da Allflex, In Vitro Brasil e Pioneer Sementes, que confiaram no trabalho da Equipe BeefPoint e viabilizaram a produção das entrevistas gravadas na Feicorte 2010.