Amigos, Trump e Shinzo Abe se preparam para tensões no comércio

A carne bovina dos EUA estava no cardápio enquanto o presidente Donald Trump e o primeiro ministro japonês, Shinzo Abe, comiam juntos em Tóquio no fim de semana. Mas a atmosfera de convívio provavelmente dará lugar à indigestão nos próximos três meses.

As tensões sobre o comércio agrícola entre os EUA e o Japão aumentaram desde que a Parceria Trans-Pacífico entrou em vigor sem a participação dos EUA no início deste ano. O acordo comercial significa que a carne bovina dos EUA continua a pagar uma tarifa de 38,5%, enquanto a carne bovina australiana, canadense e neozelandesa é taxada em 26,6% – uma taxa que irá cair para 9% nos próximos 16 anos.

Durante a última década, o Japão se tornou o maior mercado para as exportações de carne bovina dos EUA, representando cerca de um quarto do total de vendas no exterior.

Uma das primeiras ações do governo Trump foi retirar os EUA do TPP. Em vez disso, a Casa Branca quer um acordo bilateral. As negociações preliminares finalmente começaram em abril, mas Trump prometeu esperar pelas análises do Senado japonês, em julho, antes de chegar às negociações.

Infelizmente, isso significa que os números do comércio do Japão no segundo trimestre serão divulgados assim que as conversas estiverem ficando sérias. Os dados podem provocar tarifas ainda mais altas para os produtores dos EUA. O Japão tem um chamado gatilho de salvaguarda para as importações de carne bovina, projetado para proteger os produtores domésticos, que entrará em vigor caso os volumes de importação subam 17% ou mais no trimestre atual, em comparação com o mesmo período do ano passado. Os membros do TTP estão isentos.

O gatilho aumentaria automaticamente as tarifas japonesas sobre a carne bovina de 38,5% para 50% aos países fora do acordo comercial do Pacífico. Isso atingirá os produtores dos EUA praticamente sozinhos, azedando o tom das negociações. Nos primeiros três meses do ano, as importações de carne congelada já subiram 21% em comparação com o mesmo período do ano passado, de modo que um aumento de 17% no segundo trimestre é bastante plausível.

Isso levanta a questão sobre o que os EUA podem ameaçar em retaliação se não conseguir o que quer na agricultura. O Japão é um dos países mais afetados se a Casa Branca optar por impor tarifas sobre as importações de automóveis. Essa decisão, que foi recentemente adiada por seis meses, fornecerá o pano de fundo para discussões sobre agricultura.

As fotos amigáveis de Abe e Trump assistindo a um torneio de sumô neste fim de semana desmentem o drama que está prestes a acontecer. No final do verão do hemisfério norte, é provável que Washington e Tóquio sejam os lutadores.

Fonte: Valor Econômico.