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Alta do preço do milho…Quais alternativas temos? Atuando dentro do sistema de produção

A utilização do milho como fonte de energia em dietas de bovinos de corte confinados desempenha importante papel na produção e eficiência final do sistema, porém em determinadas situações de mercado, podem e devem ser substituídos visando melhor retorno econômico do sistema.

A utilização do milho como fonte de energia em dietas de bovinos de corte confinados desempenha importante papel na produção e eficiência final do sistema, porém em determinadas situações de mercado, podem e devem ser substituídos visando melhor retorno econômico do sistema. Os grãos de cereais têm grande participação na formulação final das dietas, interferindo diretamente no custo final das rações. Uma das alternativas para diminuição dos custos finais do processo é a produção de grãos na propriedade. Dentro dessa perspectiva, temos o sorgo como uma boa alternativa de produção, por possuir menor custo final de produção por tonelada que o milho. Porém, as altas concentrações de tanino nos grãos de sorgo podem diminuir a digestibilidade da dieta total, levando a queda de desempenho dos animais.

O uso da associação de diferentes grãos de cereais pode apresentar efeitos positivos no desempenho de bovinos confinados, como demonstrado em alguns trabalhos de pesquisa. O efeito associativo positivo foi demonstrado por Larraín et al. (2007) com a substituição de 35% do milho da dieta por sorgo.

Larraín et al. (2009) avaliaram os efeitos da substituição, total ou parcial (50%), de milho por sorgo em dietas de bovinos de corte confinados. Foram avaliados a ingestão total de matéria seca, o ganho de peso diário e a conversão alimentar de bovinos sem a inclusão a inclusão de sorgo, substituição de 50% do milho por sorgo, ou a substituição total do milho por sorgo conforme tabela abaixo.

Tabela 1. Dietas experimentais com diferentes níveis de substituição do milho

Polpa cítrica

A polpa cítrica peletizada é uma outra alternativa a substituição do milho em dietas de bovinos confinados, porém com um forte impacto das exportações sobre o preço local do insumo. O número total de contratos firmados à exportação, ditam o valor de mercado brasileiro de polpa cítrica peletizada, variando bastante de um ano para o outro. O principal carboidrato da polpa cítrica é a pectina, um componente que apresenta rápida degradação ruminal, disponibilizando energia de forma rápida no rúmen. Além das características descritas acima, a polpa cítrica possui também alta relação Ca:P (3,5:0,4), com relativos baixos teores de proteína bruta, gordura, fibra detergente neutro (FDN) e fibra detergente ácida (FDA).

Caroço e torta de algodão

A utilização de caroço de algodão e seus derivados como ingrediente na formulação de rações para bovinos de corte confinados é uma constante em todo o mundo, devido às características nutritivas desse material. O caroço de algodão apresenta grande quantidade de óleo, e portanto, alta densidade energética. Além disso, apresenta uma boa atividade de fibra, estimulando os processos de ruminação. O determinante para a inclusão desses ingredientes nas dietas de bovinos são os custos de aquisição e transporte desses insumos, devido a grande variação ano a ano e sua baixa densidade, respectivamente. Em determinadas situações de mercado, com valorização do óleo de algodão, temos um aumento no preço do caroço e queda nos preços da torta de algodão. Alguns aspectos relacionados a aumento da demanda por óleos vegetais para produção de biodiesel, também tem aumentado o preço do caroço de algodão, viabilizando assim a utilização da torta de algodão.

Algumas alterações nas características da carcaça, como a composição do tecido adiposo, foram observadas com a utilização de caroço de algodão para bovinos de corte em confinamento.

Resíduos da produção do biodiesel

Devido ao seu alto valor energético, a glicerina, um subproduto da produção de biodiesel pode ser uma boa alternativa na substituição de grãos de cereais nas dietas de bovinos confinados. Sendo o custo da dieta, o maior percentual dentro dos custos finais de confinamento, a diminuição desses valores tem grande reflexo na viabilidade econômica do sistema. A glicerina é um subproduto da produção do biodiesel, sendo gerada em quantidades significativas dentro do processo. O aumento do percentual de inclusão do biodiesel no óleo diesel programado para os próximos anos, bem como a crescente busca por combustíveis alternativos, nos mostra um cenário de grande aumento da produção de biodiesel e, consequentemente, de seus subprodutos. O principal componente da glicerina é o glicerol, que convertido em glicose no fígado é utilizado como fonte de energia para manutenção e produção no metabolismo animal.

Parsons et al., (2009) avaliaram o efeito da inclusão de diferentes níveis de glicerina na dieta de bovinos de corte confinados sobre o peso inicial, final, ganho de peso diário e conversão alimentar. Foram utilizadas 373 novilhas de corte cruzadas com peso vivo inicial de 421 kg. Os animais foram adaptados a substituição do milho por glicerina por um período de 10 dias, partindo da dieta inicial (sem a inclusão de glicerina), até o valor máximo de 16%.

A inclusão de glicerina até 8% do total de matéria seca, leva ao aumento do peso final de bovinos confinados, porém se a inclusão for de 12 ou 16%, haverá queda do peso final, inviabilizando sua utilização.

O uso da glicerina como substituinte de grãos de cereais em dietas de bovinos pode ser uma boa alternativa na diminuição dos custos de produção, porém os valores máximos de inclusão estão próximos de 10% do total de matéria seca da dieta.

Resíduos de cervejaria

Os resíduos gerados por essa indústria podem ser usados na alimentação de ruminantes, como concentrado protéico a ser introduzido na dieta. Os subprodutos da indústria cervejeira é altamente poluente, causando sérios problemas se for descartado diretamente no ambiente. Dessa forma, a utilização desses resíduos na alimentação de bovinos, além de promover a redução nos custos de alimentação, soluciona os problemas de poluição ambiental da indústria.

A cevada é uma gramínea utilizada há milhares de anos pelo homem, sendo bastante utilizada como fonte de energia na nutrição de ruminantes em países produtores desse cereal. O Brasil é um grande importador desse grão para utilização nas industrias cervejeiras. O resíduo de cervejaria pode se apresentar na forma de resíduo úmido, resíduo prensado, resíduo seco e levedura de cerveja. A composição dessas três formas são apresentadas na tabela 2.

Tabela 2. Composição química do resíduo de cervejaria úmido (RMU), seco (RCS) e levedura de cerveja (LC)

Os resíduos de cervejaria poderão apresentar pequenas alterações na sua composição química, dependendo do processo de utilizado para obtenção da cerveja, havendo portanto a possibilidade de variações de composição entre resíduos de diferentes indústrias. Os teores de matéria seca das diferentes apresentações do resíduo são bastante variáveis, devendo ser avaliado cuidadosamente o custo de cada nutriente em cada caso.

A inclusão do resíduo tanto seco, quanto úmido, pode substituir até 100% do milho da dieta sem haver prejuízos no ganho de peso dos animais. Adyanju (1978) substituiu 100% do milho da dieta, por 90% de resíduo de cervejaria e 10% de melaço, não havendo diferença no ganho de peso, porém havendo diminuição do custo por kg do ganho.

A utilização de resíduos de cervejaria na bovinocultura de corte tem grande potencial, pois pode levar a queda significativa dos custos de alimentação, sem haver quedas nos índices produtivos.

Farelo de arroz

Os subprodutos da industrialização do arroz são resultantes da retirada da casca e limpeza do arroz marrom, necessária para a produção do arroz branco. Na preparação do arroz branco, obtém-se um subproduto chamado farelo de arroz, que pode ser composto por 30% de arroz polido e 70% de farelo. As proporções de arroz polido e farelo de arroz têm um efeito crucial no valor nutricional.

O farelo de arroz integral é oriundo do processo de polimento dos grãos de arroz, quando são removidas as camadas do pericarpo e tegumento, além de partículas remanescentes da casca, normalmente acrescenta-se o “brunido”, constituído da porção amilácea interna e da camada aleurona. A adição da casca ao farelo de arroz integral aumenta seus teores de sílica, lignina e fibra bruta, o que deprecia o seu valor nutritivo. A fim de monitorar o nível de adulteração do farelo de arroz integral pela inclusão de casca, deve-se considerar os seus níveis de fibra bruta e matéria mineral, os quais não devem exceder a 12 e 10%, respectivamente. A presença de elevada quantidade de gordura, constituída principalmente de ácidos graxos insaturados, predispõe a peroxidação, favorece a multiplicação de fungos produtores de aflatoxinas, bem como, a rancificação oxidativa, comprometendo a qualidade do ingrediente e dificultando o armazenamento de grandes quantidades. Estes problemas podem ser minimizados pelo uso do calor, antioxidantes ou pela extração do óleo.

O farelo de arroz desengordurado resulta da extração do óleo do farelo de arroz integral, representando cerca de 82% seu peso. Deve conter no máximo 2% de gordura bruta, 12% de fibra bruta e no mínimo 16% de proteína bruta. A inclusão do farelo de arroz desengordurado na dieta de ruminantes fica limitada a 1,5 kg/dia para vacas em lactação, 20% nas rações para bezerros e até 40% nas de animais em engorda. Como o farelo de arroz, tanto desengordurado como integral, apresenta em torno de 10 vezes mais fósforo (P) que cálcio (Ca), deve-se promover a adição de fontes de Ca à dieta de animais suplementados com estes subprodutos (COSTA et al.2005).

Referências bibliográficas:

ADYANJU, S.A. Replecent value of cane molasses for maize in dry season based on dried for beef cattle. Trop. Anim. Prod., v. 3, n. 2, p. 135-147, 1978.

LARRAÍN, R.E.; SCHAEFER, D.M.; ARP, S.C.; CLAUS, J.R.; REED, J.D. Finishing steers with diets based on corn, high-tannin sorghum, or a mix of both: Feedlot performance, carcass characteristics, and beef sensory attributes. J. Anim. Sci., v. 87, p. 2089-2095, 2009.

LARRAÍN, R.E.; RICHARDS, M.P; SCHAEFER, D.M. Growth performance and muscle oxidation in rats fed increasing amounts of high tannin sorghum. J. Anim. Sci., v. 85, p. 3276-3284, 2007.

PARSONS, G.L.; SHELOR, M.K.; DROUILLARD, J.S. Performance and carcass traits of finishing heifers fed crude glycerin. J.Anim. Sci., v. 87, p. 653-657, 2009.

5 Comments

  1. Neilor Consentino Fontoura disse:

    E o uso da quirera de arroz na alimentação,este alimento possui características nutricionais muito semelhantes ao milho?

  2. André Alves de Souza disse:

    Prezado Neilor,
    A quirera de arroz pode ser uma boa alternativa para substituição do milho, visto que tem realmente uma composição bromatológica semelhante, devendo-se fazer alguns ajustes, como o EE por exemplo. Normalmente, os custos de aquisição da quirera de arroz são mais altos que o milho, devendo-se tb avaliar muito bem esses valores, bem como as quantidades disponíveis e sazonalidade.

    Grande abraço!

  3. Rodrigo Ranieri de Moura e Silva disse:

    Olá André. Sou zootecnista e na minha região no Tocantins, existe a possibilidade do uso do farelo de babaçu com  – 20,68 de PB; 49,38 de NDT. Já vi várias empresas de nutrição aqui no estado usá-lo como substituto ao milho na fabrica~ção de proteinados. Gostaria de saber pela sua experiência se seria uma boa substituição, pois a o Tocantins existe muita facilidade de encontrar esse produto.

    Abraço.

  4. Jaime Henriquez disse:

    En varias ganaderías de leche he venido utilizando el glicerol en reemplazo del maíz y los resultados en condición corporal, proteína en leche y comportamiento reproductivo son excelentes. Utilizamos hasta 2,5 Kg de glicerol por vaca día en los grupos de 35 litros de leche / día.
    En novillos utilizo hasta 1,0 Kg de glicerol en sistemas de pastoreo y las ganacias de peso diaria son de 900 gr.

  5. Marco Aurélio Costa disse:

    Vcs já ouviram falar em Melaço de Soja? Trata-se de um excelente substituto para milho e sorgo nas dietas de confinamento.

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