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Alta do boi reduz margem de frigoríficos

A safra de balanços dos frigoríficos terminou com sinais de que as contas ficarão mais apertadas para quem produz e, sobretudo, comercializa carne bovina no Brasil. Sem o benefício do câmbio favorável, que agrega margem para a operação, as vendas no mercado doméstico dão retorno negativo. 

Frigoríficos de médio porte, normalmente com estrutura de capital mais frágil, enfrentam dificuldades para absorver a disparada do preço do boi gordo, que bateu recorde na última quarta-feira. Em doze meses, o preço subiu cerca de 40%, de acordo com o indicador Esalq/B3.

“A operação está no vermelho”, disse ontem um empresário ao Valor. De acordo com ele, mesmo na exportação a situação não é simples. Com a recente valorização do real, as margens na exportação caíram, embora a China permaneça como um mercado remunerador. 

Líder na produção brasileira de carne bovina por larga margem, a JBS sinalizou ontem que a perspectiva é “desafiadora” devido ao preço da matéria-prima – o boi gordo responde por 80% do custo de produção de um abatedouro. No setor, a avaliação é que a oferta de gado permanecerá restrita em 2021. 

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a oferta de gado é menor. Ontem, o órgão informou que os abates de bovinos com algum tipo de inspeção sanitária totalizaram 7,58 milhões de cabeças no terceiro trimestre, diminuição de 10,8% ante igual período do último ano. 

À frente das operações da JBS na América do Sul, Wesley Batista Filho disse ontem, em teleconferência com analistas, que vê o mercado de carne bovina “mais desafiador com os atuais preços do gado e a perspectiva de oferta para o ano que vem”. 

Em comparação com as concorrentes com ações na bolsa – Marfrig e Minerva -, a JBS é relativamente mais afetada pelo cenário adverso para a oferta de gado porque vende proporção maior de carne bovina no mercado interno. Marfrig e Minerva também produzem carne bovina em outros países da América do Sul que não apenas o Brasil, o que as favorece na comparação com a concorrente. Em dólares, o boi argentino, uruguaio e paraguaio é mais barato. 

No terceiro trimestre, a margem de lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) da unidade que reúne as operações de carne bovina da JBS no Brasil foi a que mais caiu. No período, a margem alcançou 7,5%, redução de 6,3 pontos na comparação com a margem de 13,8% reportada no trimestre imediatamente anterior. Na operação sul-americana, a margem Ebitda da Marfrig recuou 3,4 pontos na mesma comparação, para 10,5%. Na Minerva, diminuiu 2,6 pontos, para 10,8% Na comparação entre as empresas, é preciso ponderar que a unidade JBS Brasil incorpora a operação de couro e novos negócios, que podem ter impactos negativos sobre as margens. 

Em entrevista ao Valor na última quarta-feira, o CEO da Marfrig, Miguel Gularte, avaliou que o atual nível de preços do boi no Brasil é temporário. A tendência é que o mercado corrija a “distorção” existente na comparação com os demais países da América do Sul. “Não faz sentido ter boi a US$ 3,5 por quilo quando vale US$ 2,9 no Uruguai e US$ 2,84 na Argentina”, disse o executivo. Na avaliação dele, o clima seco ajudou a impulsionar as cotações do gado no mercado brasileiro. No entanto, ele está confiante em uma correção, ainda que o animal permaneça em um patamar médio mais alto do que no último ano. “É de se esperar que a correção aconteça e volte a um valor mais razoável”, afirmou.

Outro fator que pode mexer com o boi é o futuro do auxílio emergencial. Se o pagamento acabar a partir de 2021, o preço da matéria-prima dos frigoríficos pode ceder, conjecturou Gularte. A avaliação está ancorada no fato de que mais de 70% da produção no Brasil é destinada ao mercado doméstico. E, por mais que a China mexa com o mercado com sua demanda explosiva, o peso interno na formação dos preços do boi gordo não pode ser ignorado. 

Do ponto de vista global, a pressão de margens que Marfrig e JBS sofrem no Brasil não deve alterar a tendência de resultados favoráveis. Ambas obtém a maior parte do faturamento e da geração de caixa nos EUA, onde a perspectiva de margem segue positiva graças à boa oferta de gado. Segundo o CEO da JBS USA, André Nogueira, a produção americana de carne deve crescer no ano que vem e ficar estável em 2022, garantindo mais dois anos de bons retornos.

Fonte: Valor Econômico.

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