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Alimentos (inclusive carne) de laboratório estão próximos e é a solução para a fome, segundo colunista inglês

Existe muita força por trás desses projetos, por causa da certeza de que 9 bilhões de humanos não poderão comer alimentos, especialmente carne, produzidos de forma tradicional. O planeta não vai aguentar.

Em uma sala branca e gelada da Universidade de Tecnologia de Eindhoven, há um steake tartare de fibra de carne bovina produzida in vitro. Existe também um sushi verde e rosa que vem de um peixe geneticamente modificado vegetariano chamado Biccio e que tem a carne verde e rosa listrado. Para acompanhar, existe um vinho tinto programável: com um pulso de micro ondas, você pode transformá-lo, desde Montepulcioano até um Syrah. Para as crianças, existem grilos fritos doces, colas programáveis e “almôndegas mágicas”. Isso é feito de carne artificial gerada a partir de células tronco: contendo Omega 3 e vitaminas.

Nada disso está pronto para comer. As almôndegas da mostra de alimentos do futuro de Eindhoven são feitas de Plasticina; o bife de malha é feito de lã vermelha. Porém, as ideias não são de fantasia. Koert van Mensvoort, professor assistente da universidade, as chama de “quase possíveis”. Van Mensvoort, que também é o cérebro por trás do site www.nextnature.net, sobre neófilos tecnológicos, uniu seus estudantes de design industrial com engenheiros de biotecnologia, especialistas em marketing e filósofos morais, pedindo a eles que fizessem amostras de alimentos que tecnologicamente já estão em nossa porta.

A verdade, no entanto, é que a carne artificial ainda está distante. Os recheios de pizza estão mais próximos. A estrela da pesquisa holandesa sobre carne in vitro, Mark Post, prometeu que o primeiro hambúrguer artificial, feito a partir de 10 bilhões de células em laboratório, estaria pronto para ser grelhada no final de 2012. No momento, isso ainda não está pronto. Post (que anteriormente produziu válvulas para cirurgia cardíaca) e outros cientistas holandeses estão atualmente trabalhando no problema de como transformar a “carne” de pedaços de gelatina em algo aceitavelmente estruturado: um músculo à moda antiga. Choques elétricos podem ser a resposta.

Esta busca é a chave para o futuro dos alimentos. Não é o que pode ser feito, mas o que aceitaremos. Alguns cientistas alertam que tentar copiar as carnes com as quais os humanos estão acostumados é inútil – outro sintoma de nossa nostalgia ignorante e insustentável sobre alimentos. “É simplista dizer ‘natural é bom’, rejeitar a globalização e voltar ao passado mítico quando o alimento era ainda ‘verdadeiro e honesto’”, disse a intelectual holandesa, Louise Fresco, ex-chefe de pesquisa em inovação em alimentos e conselheira das Nações Unidas.

“É a coisa padrão que se faz, experimentar e replicar o que você conhece”, alertou van Mensvoort. “Não é como você inova. Começamos com carruagens sem cavalos, mas no final, o que conseguimos foram carros. ‘Natural’ é o maior golpe de marketing e o mais bem sucedido de todos”.

Os problemas tecnológicos de produzir novos alimentos tecnológicos não são nada comparados com o problema que a indústria está tendo com os consumidores – o “fator eca”, como os cientistas de tecnologia de alimentos do mundo gostam de falar. A sensibilidade dos compradores se voltou às corporações de alimentos, para quem o real dinheiro para pesquisa e desenvolvimento terá que vir, muito cauteloso, e supersecreto sobre seu trabalho como geneticamente modificado na América.

Existe muita força por trás desses projetos, por causa da certeza de que 9 bilhões de humanos não poderão comer alimentos, especialmente carne, produzidos de forma tradicional. O planeta não vai aguentar. As companhias de alimentos holandesas precisam lidar com uma população que come mais carne suína do que qualquer outra na Europa, mas elas não financiam publicamente o trabalho de Koert van Mensvoort em Eindhoven, ou qualquer pesquisa de carne artificial. Isso é feito pelo governo da Holanda.

Van Mensvoort desdenha do nervosismo das corporações de alimentos, especialmente quando tanto está em jogo, dizendo que “se a indústria vir uma palavra como ‘sushi farmacêutico’ dirá ‘você não pode colocar nosso nome perto disso’. Eles estão com medo”. Eu tive uma experiência com isso em primeira mão: em uma conferência científica sobre alimentos e nanotecnologia (engenharia a nível sub-molecular), um executivo de uma grande companhia de alimentos da Europa me implorou para não divulgar o fato de que ele estava lá.

Isso é tudo culpa da Monsanto. “Foi um erro histórico que os organismos geneticamente modificados (GMO) começaram com herbicidas e que o Governo dos Estados Unidos deu às corporações a liberdade de introduzi-los”, disse o professor Fresco, que quer alimentar não somente os ricos, mas as pessoas com fome em todo o mundo do futuro, de 9 bilhões de pessoas. A Monsanto, certamente gerou publicidade espantosa sobre seu insensível e descuidado marketing de pesticidas para espécies geneticamente modificadas nos Estados Unidos e na Índia. O colapso subsequente público da fé na ciência de biotecnoligia, disse Fresco, não somente colocou freios nos novos alimentos para o mundo rico. Isso também prejudicou a luta pelo fim da fome. Centenas de milhões de africanos que dependem de alimentos básicos não confiáveis, como mandioca, foram privados de tecnologia que poderia tornar o alimento livre de doenças e pestes. O arroz geneticamente modificado pode aumentar a produtividade em 40%.

“Cientistas africanos disseram, ‘não se atrevam a nos excluir dessa tecnologia’”, disse Fresco. Existem riscos, ela concorda, mas ela acredita que estamos mais capazes de monitorá-los do que jamais estivemos antes. Apesar dos cientistas da Holanda evitarem o termo geneticamente modificado, o consenso silencioso é que a tecnologia está chegando, o mundo precisa dela e a Europa precisa cair na real sobre isso ou será deixada de lado.

As preocupações éticas poderão no final das contas direcionar a aceitação pública de novas tecnologias de alimentos? Cor van der Weele, professora de filosofia humanística da Universidade Wageningten, está convencida de que esse é o caso, pelo menos, com a carne artificial. “As pessoas verão os benefícios morais de carnes cultivadas. Tirar células tronco de um suíno ao invés de matar milhões de animais em frigoríficos já é uma ideia mais atrativa aos consumidores”. Ela citou estudos da viabilidade de produção de carne em “bio-reatores” movidos à luz solar colados em áreas de deserto: a redução nos recursos é impressionante. “Isso requereria 1% de terra e apenas 2% da água que a produção tradicional de carne usa. E isso envolveria a redução de 90% dos gases de efeito estufa”.

Comer carne de verdade em 2035 poderia ser tão moralmente questionável quanto comer foie gras – e quase tão caro quanto. Post disse: “um consumidor de carne com bicicleta é muito mais prejudicial ao meio-ambiente do que um vegetariano com um Hummer”.

O que sabemos com certeza é que as refeições futuras serão mais caras e não virão em uma pílula. Esse trabalho é tecnicamente impossível: mesmo o departamento de pesquisa e desenvolvimento do Pentagono desistiu de tentar colocar 2.000 calorias em uma cápsula (ela pesaria cerca de meia libra ou 226 gramas). Além disso, nós gostamos de comer. E apesar de a indústria alimentícia ser brilhante em nos vender coisas que não precisamos, o cliente ainda é o rei.

Nossos desejos por alimentos são paradoxais. Amamos novidades, mas somos presos por nostalgia e tradição. Queremos pagar menos, enquanto temos cada vez mais qualidade. Queremos natural e saudável, embora as duas coisas não sejam necessariamente o mesmo. Queremos comer melhor do que as gerações anteriores, mas reverenciamos o que essas gerações comiam. Nostalgia, neofilia, hipocondria e esnobismo direcionam os caçadores de hoje, tudo temperado com um profundo ceticismo com a ciência, supermercados e maquinações do “complexo alimentício-industrial”.

Nada disso deverá mudar nos próximos 25 anos. Porém, o que mudará é a oferta de alimentos – mais radicalmente do que em qualquer período durante o século XX. A mudança climática e o fim da era dos combustíveis fósseis baratos para transporte e fertilizantes estão alterando o sistema de alimentos. As três culturas mais importantes de alimentos – arroz, trigo e milho – estão principalmente sendo cultivadas em países com mais risco de aumento na temperatura e as previsões são desoladoras. O milho, por exemplo, não pode ser cultivado acima de 30oC.

Todos os futurologistas de alimentos concordam que não podemos continuar comendo da forma como fazemos. Porém, apesar do lobby de orgânicos estar convencido de que voltar ao básico pode resolver os problemas do mundo, nenhum cientista sério acredita que a produção rural tradicional sozinha funcionará. Então, teremos que aceitar o novo e “não natural” se quisermos continuar comendo. O público já aceita muitas coisas como natural que não são – desde o lodo gerado por bactérias que dá uma grande quantidade de maionese com pouca gordura até químicos que tem sabor mais real do que a coisa real.

O autor Josh Schonwald descobriu que pesquisadores de biotecnologia dos Estados Unidos já estão muito à frente com a nutrição do futuro. Como ele revela em seu livro, The Food of Tomorrow, os laboratórios da Universidade da Califórnia-Davis, estão unindo genes para criar “uvas fortificadas com água viva, tomates fortificados com carpa” e alface que durarão na prateleira por semanas. Podem ter suínos geneticamente modificados para crescerem cinco vezes mais rápido. Notoriamente – e isso é assunto de uma campanha do Greenpeace – existe um tomate feito para durar mais usando genes do peixe Linguado do Ártico, enquanto em Israel, um manjericão limão cruzado com um tomate teve bom resultado com os consumidores.

Na visão de Schonwald, tudo o que a indústria espera é um relaxamento da regulamentação do Governo que tornaria o desenvolvimento desses alimentos financeiramente possível. Enquanto escrevia seu livro, Schonwald se converteu. Ele se tornou tecnocético: agora ele considera que a rejeição categórica de geneticamente modificados é “imprudente, perigosa e desumana”. Trata-se da promessa de adaptar colheitas para fornecer vitaminas essenciais para milhões de crianças pobres que o convenceu sobre os geneticamente modificados.

Porém, historicamente, a alta tecnologia parece desapontar os pobres. Fertilizantes químicos e pesticidas criaram dependência e poluição. Avanços médicos são para o mundo rico: companhias de medicamentos gastam mais pesquisando sobre disfunção erétil do que sobre malária. Porém, criar e mudar espécies de alimentos, seja em laboratório ou na fazenda, é o único plano convincente que qualquer pessoa tem para alimentar o mundo todo.

Alguma coisa tem que acontecer em nossa atual cultura de alimentos. Não parece possível que o alimento possa ser tão barato quanto era no ano 2000. Na Europa Ocidental, gastamos entre 10% e 15% da renda familiar em alimentos – há 60 anos, isso era 60%. Tim Lang, professor de politicas alimentícias da Universidade da Cidade de Londres, disse que alimentos baratos não são realistas, porque no momento, não pagamos realmente seu preço real. “Nós externalizamos o custos no meio-ambiente, locais distantes e mão de obra barata nas cadeias de produção alimentos”.

Somente o crescimento da população deverá pressionar os preços dos grãos; a Organização para Alimentos e Agricultura das Nações Unidas (FAO) avalia que o planeta precisará produzir 40% mais em 2050, enquanto a mudança climática já está afetando a produção de alimentos do mundo. Lang falou ao Governo do Reino Unido que a cultura alimentícia dependente de petróleo já era e que o comércio de biodiversidade para justiça alimentar “levará ao Armadeggon”. Quando o futuro chegar, a maioria de nós não terá nenhuma opção sobre o que comer.

O texto é de Alex Renton, para o joranl britânico The Observer.

1 Comment

  1. Otávio Heinz disse:

    Isso é uma tentativa deste cruzamento de vegans com cientistas malucos de imporem sua visão de futuro assustando a opinião pública sobre uma imaginada escassez de alimentos e assim garantirem polpudos financiamentos para suas pesquisas. O futuro depende das escolhas que fizermos. Se escolhermos um futuro de tecno-foods, é isto que teremos. Mas é perfeitamente possível escolhermos alimentar o mundo com alimentos de verdade, produzidos de forma ecologicamente responsável, não necessariamente orgânicos, mas sem excluí-los; desde que as pessoas estejam dispostas a pagar por isto e entendam que isto é mais importante que trocar de celular todos os meses.

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