Alimentos alternativos: caroço de algodão

Marcelo de Queiroz Manella¹ e Celso Boin²

Mais um subproduto da agro-industria que a muitos anos vem sendo utilizado como alimento para bovinos de corte e leite é o caroço de algodão. Existem relatos de que o caroço de algodão é utilizado na alimentação animal desde meados do século passado nos EUA. Sua utilização é interessante em sistemas de produção, pois pode diminuir os custos com a alimentação animal, que por sua vez refletirá em menores custos de produção.

O caroço de algodão apresenta na sua composição bromatológica cerca de 23% PB, 44% de FDN, 96% de NDT, e cerca de 20% de extrato etéreo, o que confere ao produto característica protéico-energética. A proteína do caroço de algodão apresenta lenta degradabilidade, e o tempo de permanência no rúmen é maior (caroço com línter). Esta característica pode ser vantajosa para a otimização da síntese de proteína microbiana, ou seja, em associação com fontes energéticas de lenta degradabilidade (ex: casca de soja, farelo de milho, etc.), possibilitando a sincronização da liberação de amônia (degradação da proteína) e da cadeia de carbono (degradação da fibra), de forma mais homogênea ao decorrer do período.
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O caroço pode ser fornecido na forma crua quebrado ou inteiro, sendo este último mais interessante por estimular a ruminação, principalmente se a dieta apresentar altos níveis de concentrado. A sua inclusão em até 30% da matéria seca em dietas concentrada não afetou o consumo, coeficientes de digestibilidade, ou a produção de proteína microbiana.

Em trabalho conduzido no Paraná no IAPAR, Moletta (1999) comparou a utilização do caroço de algodão com grão de soja no desempenho de 19 bovinos mestiços Canchim, com 12 meses de idade, por um período de 1 ano. O volumoso utilizado foi silagem de milho misturada aos concentrados: Grão (69% milho moído + 20% de grão de soja +10% de farelo de soja) ou Caroço (61% milho moído + 20% de caroço de algodão +18% de farelo de soja), ambos ajustados para 1% do peso vivo

O autor relata que quanto ao desempenho dos animais no confinamento não houve diferença para consumo de matéria seca, desempenho ou conversão alimentar (Tabela 1). O peso de carcaça quente e o rendimento de carcaça não foram estatisticamente diferentes, porém observou-se tendência para o caroço de algodão apresentar maior rendimento de carcaça.

Tabela-1: Desempenho de novilhos em confinamento recebendo caroço de algodão ou grão de soja

É possível concluir que a utilização do caroço de algodão não prejudica o desempenho animal, sendo que a sua utilização depende da sua disponibilidade e custo durante o ano.

Comentário BeefPoint: As principais limitações do uso do caroço de algodão estão relacionadas ao elevado teor de gordura (20%) e a presença de um composto fenôlico chamado gossipol (1,2 a 1,4% MS). A gordura em excesso pode causar efeito inibitório da microflora ruminal, prejudicando a digestão do alimento. O gossipol prejudica o desempenho reprodutivo de touros, não sendo recomendado o uso de caroço de algodão para esta categoria. Em relação às fêmeas, há algumas especulações sobre seu efeito prejudicial quando alimentadas por longo prazo. A ingestão máxima tolerável de gossipol está em torno de 24g/d, ou seja, 2,5 a 3 kg de caroço de algodão por dia. A maior disponibilidade e os menores custos do produto ocorrem por volta da colheita do algodão (Março a Maio), isto faz do armazenamento uma prática comum ao produto. O armazenamento do caroço de algodão é bastante simples, porém é necessário manter o produto com baixa umidade para evitar a contaminação por fungo e o supere aquecimento. O uso do caroço de algodão é uma boa estratégia, principalmente quando aliado a outros subprodutos de lenta degradabilidade. Devido às restrições quanto à sua utilização, se faz necessário a acessoria de consultores especializados .

Literatura citada

MOLLETA, J. L. Utilização da soja em grão e do caroço de algodão na terminação de bovinos de corte em confinamento. REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA Anais (Cd-Room), Porto Alegre, RS. 1999.

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¹. Doutorando, Ciência Animal e Pastagens, ESALQ/USP
². Eng. Agr., PhD, Prof. Convidado, ESALQ/USP, Consultor