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Alguns motivos porque às vezes a sincronização de cios com prostaglandina não fornece bons resultados

A sincronização do estro, através da aplicação de agentes luteolíticos, como a prostaglandina-F2α (PGF2α), ou seus análogos, tem sido amplamente utilizada, tanto em casos de monta natural, inseminação artificial, como na técnica de transferência de embriões (TE), para qual é imprescindível.

A sincronização do estro, através da aplicação de agentes luteolíticos, como a prostaglandina-F2α (PGF2α), ou seus análogos, tem sido amplamente utilizada, tanto em casos de monta natural, inseminação artificial, como na técnica de transferência de embriões (TE), para qual é imprescindível. Trata-se de um método prático e que induz um estro de fertilidade comparada ao natural. Porém, um ponto de estrangulamento é a grande variação nos resultados, relatada nos diferentes locais onde esta técnica é aplicada.

O efeito luteolítico dos produtos a base de prostaglandinas sintéticas, como o cloprostenol, está bem documentado. O que ocorre então, quando estes produtos são aplicados e não se obtém o resultado esperado? Dois aspectos principais devem ser considerados ao se avaliar os resultados deste tipo de procedimento:

1.Estas substâncias, as prostaglandinas, atuam num local específico, no sistema genital da fêmea. Para funcionarem, agem provocando regressão de estrutura que pode estar presente no ovário de vacas que estão em atividade reprodutiva (ciclando), chamada Corpo Lúteo. Esta estrutura, quando ativa (funcional) produz um hormônio chamado progesterona, que quando existe em altas concentrações, não permite que o animal entre em cio. Ao contrário do que muita gente imagina, as prostaglandinas não provocam cio!!!. O que elas fazem é destruir uma estrutura que está produzindo um hormônio que pode bloquear o cio. Portanto sua ação é indireta, é somente vai funcionar em vacas que possuam corpo lúteo. Para complicar ainda mais, existem alguns períodos nos quais o corpo lúteo está presente, mas não é sensível às prostaglandinas.

2.A eficiência destes produtos, as prostaglandinas, deve sempre ser avaliada pelo seu efeito principal, ou seja, provocar luteólise, ou regressão do corpo lúteo. Quando avaliamos os resultados pelo percentual de animais que são vistos em cio após a aplicação temos que admitir que isto está relacionado com uma situação que nada têm com a eficiência do produto, que é a capacidade de observação. Nestes casos, mesmo que o produto tenha eficiência de 100%, se a capacidade de observação de cios for ruim, o resultados final será também ruim.


Figura 1: Corpo Lúteo. Estrutura dos ovários onde as prostaglandinas sintéticas usadas para sincronização de cio podem agir.

Estas duas situações mostram que se os animais não forem selecionados adequadamente, ou seja, não estiverem ciclando e principalmente com a presença de um corpo lúteo em um dos ovários as prostaglandinas não têm como agir. Além disto é um erro querer comparar a eficiência destes protocolos de sincronização em propriedades diferentes, simplesmente pelo número de animais que respondem manifestando cio após a aplicação. Mesmo considerando que os animais foram selecionados de forma semelhante, que têm sensibilidade ao produto também parecida, se a capacidade de observação for diferente, pode-se concluir erroneamente que a eficiência do produto é variada.

Num trabalho para avaliar a eficiência relativa, medida pelo percentual de cios observados e eficiência real, medida pela redução nas concentrações de Progesterona, após a sincronização de cios utilizando uma prostaglandina sintética, o cloprostenol (Ciosin® – Schering Plough), pode-se observar claramente a diferença nestas duas formas de avaliação.

Nas duas propriedades foram selecionados animais semelhantes, que se encontravam sabidamente entre o 6 e 17o dia do ciclo estral (após cio natural). Isto indica a presença de um corpo lúteo, numa fase sensível a prostaglandina. Os resultados estão no gráfico abaixo.


Em ambas as propriedades, A e B a eficiência real de luteólise foi semelhante, ou seja, acima de 95%. Quando esta eficiência foi avaliada pelo percentual de vacas que apresentaram cio após a aplicação, os valores foram muito diferentes. Esta diferença ocorreu apenas pela eficiência de observação, não por qualquer efeito relacionado ao produto.

Assim sendo, conclui-se que a eficiência da sincronização de cios utilizando-se prostaglandinas dependem de vários fatores, como sensibilidade dos animais no momento da aplicação e eficiência de observação de estro. Muito dos resultados ruins obtidos quando se utilizam estes produtos podem estar relacionados a isto, não a real eficiência dos mesmos.

Vale lembrar que é sempre interessante consultar um técnico e proceder a avaliação criteriosa dos animais e treinamento de quem observa cios para que se consiga boa eficiência e não se tenha maiores problemas. Estas substâncias são abortivas em qualquer fase da gestação. Se por engano for aplicada numa fêmea com uma gestação que não se conhecia, esta têm grandes chances de abortar.

Bibliografia consultada

ANDERSON, L.E., WU, Y., TSAI, S., WILTBANK, M.C. Prostaglandin F2α receptor in the Corpus Luteum: recent information on the gene, messenger ribonucleic acid, and protein. Biology of Reproduction, v. 64, p. 1041-1047, 2001.

BAIRD, D.T. Luteotropic control of the corpus luteum. Animal Reproduction Science, v.28, p. 95-102, 1992.

COLAZO, M.G., MARTINEZ, M.F., KASTELIC, J. P., MAPLETOFT, R.J. Effects of dose and route of administration of cloprostenol on luteolysis, estrus and ovulation in beef heifers. Animal Reproduction Science, v.2295, p. 1-16, 2002.

DISKIN, M.G., AUSTIN, E.J. ROCHE, J.F. Exogenous hormonal manipulation of ovarian activity in cattle. Domestic Animal Endocrinology, v.72, p. 211-218, 2002.

FERNANDES, C.A.C., TORRES, C.A.A. & COSTA, E.P. Comparação entre doses e vias de aplicação de cloprostenol para sincronização de estro em bovinos. Rev. Bras. de Reprod. Animal, Belo Horizonte, v.18, n.34, p.105-109,1994.

GREGORY, R.M. & RODRIGUES, J.L.; Efeitos da prostaglandina na sincronização de cios de doadoras e receptoras de embriões em bovinos. Rev. Bras. Reprod. Animal, Belo Horizonte, v.6, n.34, p.9-11, 1982.

LEVY, N.; KOBAYASHI, S.; ROTH, Z.; WOLFENSON, D.; MIYAMOTO, A.; MEIDAN, R. Administration of prostaglandinF2α during the early bovine luteal phase does not alter the expression of ET-1 and its type A receptor: a possible cause for corpus luteum refractoriness. Biology of Reproduction, v.63, p.377-382, 2000.

MEIDAN, R.; LEVY, N. Endothelin-1 receptors and biosynthesis in the corpus luteum: molecular and physiological implications. Domestic Animal Endocrinology, v.23, p.287-298, 2002.

MILVAE, R. A .; HINCKLEY, S. T.; CARLON, J. C. Luteotropic and luteolytic mechanisms in the bovine corpus luteum. Theriogenology, v.45, p.1327-1349, 1996.

0 Comments

  1. Julio Cesar da Cunha disse:

    Artigo muito bom. Além destas considerações, deve-se levar em conta as condições de escore corporais dos animais principalmente. Visto que estes debilitados não respondem muito bem à aplicações hormonais, assim como animais com uma carga excessiva alimentar, muito gordos.

  2. Irezê Moraes Ferreira disse:

    Este assunto merece total atenção por parte dos técnicos envolvidos com reprodução. Tive o prazer de ter o autor como professor do meu curso de Pós-graduação e muito contribuído com a minha formação profissional.

  3. Aluisio de Alencastro Filho disse:

    A maioria das pessoas que utilizam a sincronização com prostaglandina geralmente não obtém bons resultados porque a maioria dos animais que entram na estação de monta estão com escore corporal muito baixo, sendo assim as empresas que mexem com sincronização de cio mandam técnicos que sincronizam animais muitos magros pois não sabem, e assim o resultado fica abaixo do esperado, os animais podem ate dar cio mais não emprenham devido ao escore estar muito baixo.

    Ótimo artigo

  4. Ewerton disse:

    Parabéns pelo artigo, pois você falou sobre uma parte que é difícil de explicar. Algumas pessoas chegam a pensar que somente aplicando a prostaglandina já se vai obter o cio, e com uma explicação dessa se percebe que para um bom aproveitamento reprodutivo do animal precisa se ter a avaliação de um técnico especializado para saber a hora de usar, e qual hormônio se utilizar. Dependendo da fase do ciclo estral em que se encontra o animal temos que fazer uso de outros hormônios ou análogos, pois se aplicar prostaglandina sem CL vai estar jogando dinheiro fora.

  5. gildelandes rodrigues de freitas disse:

    Bom dia Srs,

    Sou pequeno produtor de gado nelore (Vale do Jequitinhonha), atualmente possuo 32 Novilhas de minha produção, com bom padrao de linhagem, com média de 11@ pesadas em Fev/2008, todas nascidas no Ano de 2006. Gostaria de informações para ter o controle natural de monta, preocupo em produzir lotes de bezerros com mesma idade, tamanho e peso (Padronizado) como fazer? Deverei aplicar algum medicamento para ter este controle? Quando aplicar? Qual medicamento? Gostaria de receber informação técnica sobre esse assunto.

    Grato.

  6. Cássio Fernando Carollo disse:

    Parabens pelo artigo!

    Com poucas palavras “fala muito”.

  7. luis domingos silva moreno disse:

    Além dos efeitos danosos já citados das prostaglandinas, existem outros decorrentes do uso excessivo tanto em gado de corte, como em gado de leite. A indução repetidas vezes pode provocar algum desequilibrio endocrino nos animais tendo em vista que uma parte dos profissionais possui apenas conhecimentos básicos e não são criteriosos na indicação e recomendação da dose.

    Resposta do autor:

    Prezado Luis Domingos Silva Moreno

    Sinceramente não vejo efeitos danosos na utilização das prostaglandinas. São substâncias, que como qualquer outra podem provocar efeitos indesejáveis apenas quando não usadas corretamente. Pessoas que desconhecem todos os efeitos, não deveriam indicar ou aplicar qualquer produto em qualquer animal.

    Usada corretamente é uma das principais ferramentas terapêuticas que existem para melhoria da eficiência reprodutiva em bovinos.

    A disposição

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