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Alex Bastos (AFIN) comenta sobre a visita de Mike Nidd à frigoríficos da Bahia

No início do mês, o BeefPoint publicou uma entrevista com Michael Nidd (Mike), da Nova Zelândia e especialista em indústria frigorífica de carne vermelha sobre sua visita aos frigoríficos baianos. Continuando a abordar o tema, o BeefPoint entrevistou também o Alex Bastos, diretor executivo da AFIN, para podermos ter mais informações e saber qual foi o aproveitamento da visita à Bahia pelo especialista.

No início do mês, o BeefPoint publicou uma entrevista com Michael Nidd (Mike), da Nova Zelândia e especialista em indústria frigorífica de carne vermelha. Mike veio ao Brasil a convite da AFIN (Associação de Frigoríficos do Nordeste) visitar frigoríficos da Bahia, analisá-los e sugerir medidas de melhoria.

Continuando a abordar o tema, o BeefPoint entrevistou também o Alex Bastos, diretor executivo da AFIN, para podermos ter mais informações e saber qual foi o aproveitamento da visita à Bahia pelo especialista.

BeefPoint: Anteriormente à visita do consultor no Brasil, a AFIN foi à Nova Zelândia conhecer o sistema frigorífico daquele país e foi recebida por Mike. Como começou o plano de busca de melhorias para os frigoríficos da Bahia? O que os levaram à Nova Zelândia?

Alex Bastos:  Tudo começou no ano de 2000 quando um amigo meu, uberabense, retornou de uma pós-graduação naquele país, ele só fazia elogios ao sistema de produção e industrialização pecuária da Nova Zelândia.

Em 2003, esse amigo, apareceu na Secretaria de Agricultura do Estado da Bahia (onde eu trabalhei de 2001 a 2009) com um grupo neozelandês, apresentando-os ao Governo Baiano para implantação de um projeto inovador de produção de leite a pasto. Fui escalado pelo então Secretário de Agricultura daquela época para acompanhar todo trâmite de licenças e infraestrutura a fim de possibilitar a implantação do projeto da Fazenda Leite Verde, localizada na Bahia. O resultado do projeto encontra-se hoje no mercado nacional através da marca de leite “Leitíssimo”, um produto diferenciado, com uma qualidade gustativa e sanitária como jamais vi. A indústria envasa somente leite produzido na própria fazenda e não retiram nenhum nutriente do mesmo.

Desde então, observei que esses kiwis (como são intitulados os habitantes das ilhas que formam a Nova Zelândia), eram diferenciados, utilizavam uma automação prática e funcional, mostram-se extremamente focados em resultados econômicos, buscando sempre qualidade, qualidade e qualidade!

Oito anos se passaram e meu contato ainda restringia-se à área relativa à indústria de leite daquele país, até que, em 2011,  em uma reunião da AFIN e SINCAR – Sindicato das Carnes e deriv. da Bahia e Agência de Defesa, mudanças ocorreram em resultado de uma sugestão do Diretor Geral da Agencia de Defesa da Bahia, que havia gostado bastante da praticidade de uma planta frigorífica visitada por ele na Nova Zelândia.

Busquei apoio junto a um ex-cônsul daquele País, o qual tem uma empresa aqui no Brasil que trabalha com a implantação de graxarias nos moldes neozelandês (à baixa temperatura). Organizamos o roteiro para visita em mais de 8 plantas, apresentamos a alguns empresários baianos do setor frigorífico, maioria associados da AFIN  e para lá partimos, sem saber muito o que iríamos encontrar.

BeefPoint: O que mais chamou a atenção nos frigoríficos visitados em relação aos frigoríficos brasileiros?

Alex Bastos: Primeiramente, a praticidade aliada a uma automação funcional. E depois, a mudança de mentalidade. Suponho que, há um tempo atrás, estavam construindo frigoríficos demais por lá, a ociosidade começou a influenciar negativamente e tiveram que se adaptar ao momento e repensar a indústria, reduzindo o número de bovinos abatidos por hora, aproveitando eficazmente a mão de obra – um funcionário fazendo mais de uma operação – e reduzindo os gastos com água e energia. Tudo isso, sem perder em momento algum o foco em melhorar a qualidade do produto final, para aumentar a vida de prateleira do produto.A Nova Zelândia está localizada na Oceania, exporta mais de 80% da produção de carne bovina para o mundo todo, sendo que mais de 90% das exportações vão resfriadas.

Se olharmos somente o rebanho bovino daquele País (aprox. 10 milhões de cabeças), podemos pensar “com este volume é fácil”. Porem existe por lá, um promissor setor ovino, com um rebanho de 32 milhões de ovinos, abatendo quase 20 milhões no ano com uma praticidade e automação inquestionável.

É um país pequeno, a titulo de ilustração, a Nova Zelândia tem tamanho parecido com o estado São Paulo, porém eles conseguem ser o 5º ou 6º maior exportador de carne vermelha do mundo.

BeefPoint: Na entrevista com Mike, ele disse que acredita que o que tem a oferecer “é único no mundo” em relação à tecnologia para indústrias frigoríficas. Após visitar a Nova Zelândia para conhecer o sistema de lá, você também acredita?

Alex Bastos: Realmente parece que é único mesmo no mundo, as metas são focadas em viabilidade financeira da operação de abate e industrialização de carne com redução de custos priorizando a melhoria da qualidade do produto final. Passando pela melhoria da relação trabalhador/boi abatido/dia, espaçamentos das plantas frigoríficas e seus equipamentos, utilização de tecnologias funcionais de mais simples a muito sofisticadas, acompanhamento do rendimento individual de desossa, controle e redução do consumo de água, energia e a principal: aumento da shelf-life (vida de prateleira) do produto final.

Outra tecnologia moderna encontrada por lá, foi a dos bovinos serem insensibilizados por choque elétrico ainda no box de contenção. Nas visitas dos baianos pela ilha da Oceania não foram observadas pistolas ou marretas pneumáticas em nenhuma das plantas visitadas por eles.

Deixa eu me expressar melhor, o que o Mike prega é um ponto de vista industrial que aqui para a Bahia vai ser muito funcional, não estamos querendo dizer com isto que serve para o Brasil. Sendo bem franco, antes de pisar naquele País, se me falassem os números e resultados eu não acreditaria em hipótese alguma! Só indo lá para ver. Lógico, tem coisas que poderemos aplicar aqui, outras nosso status sanitário, dizem que não permite, e, outras, nossa legislação, redigida há um bom tempo atrás não vai permitir.

Lá existe frigorífico que abate mais de 1.000 bois por dia, com velocidade de 130 bois/hora, mas é um ou dois, somente. A maioria está voltada para redução de abate de bovinos por hora, acreditando que a melhor eficiência produtiva está entre 35 a 45 bois/hora, e, por incrível que pareça, potencializando o número de bois abatidos por funcionário dia. O Mike Nidd consegue ter uma visão mundial do setor, ele projetou frigoríficos no mundo afora para abater de 200 a 22.000 ovinos por hora, conhece o Brasil e a América do Sul consideravelmente. Anda por aqui desde 2003, começou no Frigorífico Minerva, depois montou um projeto para o Bertim que ia ser implantado no Acre antes de ser comprado pelo JBS e fez o projeto de uma linha de ovinos para o Marfrig , implantada em Promissão e implantou quatro indústrias de ovinos no Chile.  Na Bahia ele visitou não só frigoríficos Estaduais como esteve em três federais, um deles com dois anos de implantação que acabou de ser ampliado para abate de bovinos, pois antes era apenas para abate de equídeos com habilitação para Comunidade Européia.

De 2003 a 2007, quando o Mike andou pelo sudoeste brasileiro, nossa realidade era outra, só pensávamos em construir plantas enormes, capacidade de 800, 1.000 até 2.000 bois/dia, o “crédito” para o setor estava bem mais facilitado. A realidade atual é outra, até as indústrias grandes estão falando em melhoria na eficiência de resultados, fechando plantas, remanejando pessoal, para viabilizar outras.

BeefPoint: Durante a visita de Mike aos frigoríficos baianos, quais foram os pontos positivos identificados por ele? E os negativos?

Alex Bastos: Positivos:

– Equipe de chão de fábrica;

– Abertura ao uso de novas tecnologias dos proprietários das plantas visitadas;

– Qualidade dos Animais;

Negativos:

– Falta de limpeza dos animais antes de entrarem na sala de abate;

– Número elevado de agentes inspetores do Serviço de Inspeção;

– Limitações da legislação Brasileira (escutou bastante “isso não é permitido aqui”);

– Muita reclamação da concorrência desleal com abates clandestinos;

– Prazo de shelf-life.

BeefPoint: Quais serão as primeiras mudanças a ser implementadas? E a longo-prazo?

Os relatórios das visitas estão chegando com sugestões particulares para cada indústria visitada.

Posso citar duas mudanças unânimes mencionadas em todas as visitas que acreditamos serão as primeiras a serem implementadas. A primeira é a melhoria e automação na esfola, não utilizam o rolete como o nosso, não abrem o couro do antebraço, a cabeça também não tem retirada da máscara na sala de abate, tudo para evitar contato e contaminação. Utilizam um rolete móvel com dois sextos basculantes com indivíduos que acompanham a descida do couro riscando com facas pneumáticas. A segunda é a melhoria na lavagem dos animais, nós utilizamos bicos de aspersão para lavar o animal de cima para baixo, porém a maior sujidade se encontra no peito do animal.

A longo prazo, podemos pensar o Box de atordoamento com insensibilização por choque, melhor utilização de choque para a melhoria da qualidade da carne (muito empregada por lá para melhorias na maciez, aparência, retenção de líquido, pH e maturação), utilização de pistões pneumáticos para liberação das peias e transpasse, implantação de mais plataformas móveis, informatização e automação da desossa com acompanhamento de rendimento individual, informatização e automação da área de resfriamento e congelamento, rastreabilidade cruzada implantada em chips nas carretilhas permitindo o acompanhamento do animal e cortes desde a esfola, desossa, resfriamento e congelamento, implantação do abate invertido de ovinos, com automação da retirada da pele e insensibilização do animal por esteira com choque.

BeefPoint: A indústria frigorífica na Nova Zelândia é preparada para exportar para qualquer mercado mundial, mesmo que ainda não exporte, antecipando assim possíveis oportunidades. Como você analisa o aproveitamento brasileiro em suas exportações?

Alex Bastos: Na Nova Zelândia, eles abatem 100% abate “halal”, enquanto que a legislação brasileira permite o abate “halal” somente para comércio específico para muçulmanos. Além da oportunidade de mercado, no caso dos neozelandês, a inspeção de lá observou que havia um ganho de qualidade, que permitiria a praticidade de oclusão do esôfago, logo após a degola, evitando maiores contaminações.

Acredito que as indústrias brasileiras estão sem dúvida preparadas também para atender qualquer mercado do mundo.

O foco da tecnologia neozelandesa busca na verdade reduzir o custo de produção do produto a ser exportado e aumentar a vida de prateleira do produto, observados em frigoríficos visitados, nos quais o prazo de validade de carne resfriada são de quatro e seis meses.

BeefPoint: Mike comenta que o desenvolvimento de tecnologia no Brasil é limitado comparado ao neozelandês, justificando o maior nível tecnológico dos frigoríficos daquele país. Você concorda?

São modelos diferentes, voltando no início como tudo começou, quando acompanhava a implantação de fazenda leiteira neozelandesa com alimentação prioritariamente a pasto em meados de 2003, muitos produtores de leite brasileiros que tendenciavam para o modelo americano de free stall, com vacas de alta produtividade estabuladas e alimentação a grãos, achavam que o modelo dos investidores da Oceania estavam na contramão, mas o tempo foi prova do sucesso do projeto e da viabilidade do sistema; no setor frigorífico acredito que estamos no mesmo estágio, historicamente focamos que a indústria americana é “o que há”, vamos deixar o tempo nos mostrar o que será melhor para nós.Nosso Brasil é grande, tem espaço para todos, porem mais de 40 industrias não aquentaram a crise do setor de 2008 a 2011.

Uma questão observada foi que a legislação brasileira é um tanto quanto engessada, contribuindo positivamente na excelência de produção em indústria oficializadas, porém, acaba sem querer, ou necessariamente, onerando os custos de produção para se seguir à risca as inúmeras regulamentações; tanto na parte de instalações físicas, equipamentos, procedimentos e controles.

Por outro lado, permite que inúmeras outras “indústrias abatedouras” funcionem no Território Nacional sem nenhum tipo de cumprimento às legislações sanitárias e ambientais vigentes. Ainda há um grande volume de produtos e subprodutos de origem animal sendo processados e comercializados de forma clandestina.

Um ponto observado nas visitas por Mike Nidd, fora as inúmeras vezes em que ele escutou “nossa legislação não permite”, foi a quantidade de agentes de inspeção nas linhas de abate pertencentes ao quadro da inspeção brasileira, o que surpreendeu o consultor neozelandês. Apesar da NZ, ser compostas de ilhas que favorece sua condição sanitária, é necessário lembrar que eles lidam com animais de descarte da pecuária leiteira (maior parte do rebanho bovino de lá). Que por sua vez contam com enfermidades passíveis de acometer em bovinos e ser condenado, citando exemplo da tuberculose e brucelose.

Porém, o número de agentes nas plantas da NZ é muito menor, mesmo com produção infinitamente maior que as nossas, no caso de plantas de ovinos e caprinos, visitou-se indústrias que abatem 3.500 animais/dia e no ano mais de 500 mil ovinos e caprinos são abatidos em um único frigorífico. O foco da Inspeção neozelandesa é o controle do produto final, com uma qualidade e resultado incontestável! Lá deu certo e funciona!”

Leia a entrevista completa com Mike Nidd aqui.

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