Alvo de duras críticas de produtores, agroindústrias e tradings, a tabela de preços mínimos de fretes rodoviários que aguarda sanção do presidente Michel Temer, estimula um número cada vez maior de projetos que preveem a criação ou o reforço de frotas próprias de caminhões para o escoamento das safras. Para cargas a granel como soja e milho, os valores de fretes para longas distâncias até agora propostos representam, em média, altas de cerca de 30% a 50% em relação aos que vinham sendo praticados, de acordo com estimativas.
Maior exportadora de soja brasileira, a americana Cargill, que desde a primeira versão da tabela de fretes, usada por Brasília para encerrar definitivamente a recente greve dos caminhoneiros, posicionou-se veementemente contra o tabelamento, voltou a sinalizar que poderá investir em uma frota própria para entrar em operação já nesta safra 2018/19.
A paranaense Coamo, maior cooperativa agrícola da América Latina e outra grande exportadora de grãos, tem sobre a mesa um projeto até mais avançado. O grupo, com sede no município de Campo Mourão, acaba de fechar a aquisição de 152 novos caminhões, que já havia sido aprovada para renovar sua frota própria de 280 veículos. Mas a Coamo só decidirá se de fato seguirá o roteiro previsto e venderá um número semelhante ao total adquirido, que estará à disposição até janeiro, depois que uma tabela definitiva de fretes entrar em vigor.
Além dos caminhões próprios, a Coamo opera uma “frota dedicada” de cerca de 600 veículos que pertencem a transportadoras. A cooperativa, que movimenta mais de 10 milhões de toneladas de cargas a granel anualmente, também contrata junto a transportadoras serviços para agilizar o escoamento em picos de colheita e, eventualmente, recorre a fretes no mercado spot. A frota própria, composta basicamente por bitrens de sete eixos, responde por 15% da movimentação total de cargas a granel do grupo.
Maior empresa de proteínas animais do país, a JBS também está se mexendo por causa do encarecimento dos fretes rodoviários. A companhia acaba de fechar a aquisição de 360 caminhões e estuda ampliar essas compras caso os fretes não sejam revistos, disse uma fonte próxima à empresa de carnes. A frota própria da JBS – que, procurada, preferiu não comentar o assunto – representa mais ou menos um terço do número total de caminhões utilizados em suas operações.
Fontes do setor de agronegócios consultadas pela reportagem nos últimos dias afirmaram que é difícil encontrar produtores ou empresas que não estejam avaliando contar com transporte próprio para amenizar a alta dos fretes. Exemplo desse movimento são os laticínios, que reclamam do grande peso dos custos com transporte em suas contas.
Fonte: Valor Econômico, resumida e adaptada pela Equipe BeefPoint.