Exportações de genética bovina cresceram 53% no 1º tri
30 de maio de 2022
Embrapa estuda ‘cardápio’ que reduz emissões de metano pelo gado
31 de maio de 2022

Agro acelera investimentos em previsão do tempo

Entender o clima para identificar o melhor momento para plantar ou colher é fundamental para a sobrevivência da espécie humana. Pergunte a um agricultor brasileiro qual o seu pior pesadelo em relação à lavoura e provavelmente ele falará sobre longas estiagens, chuvas excessivas ou geadas fora de hora.

Não à toa, os serviços de meteorologia movimentam milhões de reais ao ano. E, como tem ocorrido em todo mercado em expansão, surgem startups querendo uma fatia do bolo, como a Weather Service (WS), de São Paulo. A empresa criou um aplicativo cujo carro-chefe é a previsão para as próximas duas horas em cada talhão da lavoura.

Professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) e sócio da WS, Felipe Gustavo Pilau conta que o aplicativo está em fase de validação neste semestre, em um trabalho feito com a participação de 300 agricultores de vários pontos do país. A ideia é lançar a ferramenta comercialmente antes da safra 2022/23, que começa em setembro. A assinatura mensal deverá custar cerca de R$ 30.

O algoritmo da startup é abastecido com imagens de satélite atuais e 30 anos de dados de temperatura e pluviometria localizados, o que garante uma precisão semelhante à de estações meteorológicas. “Decidimos não trabalhar com hardware e estações meteorológicas porque esses são produtos caros, aos quais poucos produtores têm acesso. E, para o aplicativo ser funcional, é preciso que haja conectividade, mais um entrave na maior parte da área rural”, diz.

O aplicativo foi desenvolvido para sistemas operacionais Android e iOS. Nele, os produtores vão abrir um mapa, desenhar os talhões com o dedo e informar qual o tipo de solo e a cultura plantada.

A previsão para as duas horas seguintes, com atualizações a cada dez minutos, é a principal aposta da WS. “A chuva pode prejudicar ou favorecer várias atividades. Em uma adubação nitrogenada, a eficiência pode ser melhor se chover. Se o produtor for aplicar um defensivo químico contra pragas e doenças, pode ocorrer a lavagem do produto, o que reduz a eficiência”, explica Pilau.

A WS está preparando uma nova rodada de captação de investimentos para aumentar seu quadro de funcionários e desenvolver a plataforma e seus produtos. A empresa não disse quanto espera obter, mas conta com ajuda do venture builder WBGI, que já investiu na startup.

O mercado potencial é enorme. A Climatempo, líder em serviços de meteorologia no Brasil, projeta faturar R$ 80 milhões neste ano. Desse total, pelo menos 20% virão de clientes do agronegócio.

No momento, a empresa trabalha em um novo produto em que vai utilizar dados que estações meteorológicas de fazendas captaram para aprimorar as previsões individualizadas de seus clientes. A Climatempo também investiu em quatro radares para monitoramento de clientes de grãos no oeste da Bahia e em Mato Grosso. Com esses equipamentos, é possível acompanhar os indicadores de chuva por talhão, um desempenho melhor do que o obtido com satélites. “É muito comum em grandes propriedades chover em uma parte da lavoura e não na outra”, frisa Willians Bini, head de agronegócios da companhia.

Consolidada no mercado e investindo em inovações internamente, a Climatempo diz não ter medo de perder lugar para startups. “Muitas agtechs nos contratam para fornecer informações. Então, o relacionamento acaba sendo de fornecedor e cliente, e não de concorrentes”, diz Bini.

Também o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), ligado ao Ministério da Agricultura, está debruçado sobre a criação de novos produtos meteorológicos, como o seguro paramétrico, em que o prêmio é calculado com base no risco climático de cada área produtiva. O órgão conduz um experimento com produtores integrados de uma grande usina de cana-de-açúcar.

“Ao fazermos isso com grandes integrações, montamos um quebra-cabeça do país, o que melhora a assertividade e diminui o custo para o setor público”, explica o diretor do Inmet, Miguel Ivan Lacerda. O Instituto também está conversando com grandes empresas de tecnologia para transformar torres de telefonia celular em microrradares meteorológicos.

As empresas podem usar a previsão do tempo de inúmeras formas. Uma rede de restaurantes pode contratar uma empresa de tecnologia para saber como ficarão as temperaturas em determinada área nas próximas horas, por exemplo. Se for esquentar, a rede pode investir em propagandas de sorvete; se a previsão for de frio, em sopas. “Quem mais usa os serviços de meteorologia é o agro, mas isso pode ser ampliado”, diz Lacerda.

Fonte: Valor Econômico.

Os comentários estão encerrados.

plugins premium WordPress