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Agrifatto: O que sabemos sobre a suspeita de EEB no Brasil e quais as possibilidades a partir daqui?

Confira abaixo o conteúdo do podcast Agrifatto Cast sobre a suspeita de um caso de  encefalopatia espongiforme bovina (EEB). Participaram desse episódio a CEO da Agrifatto, Lygia Pimental, além da consultora pecuária, Laura Rezende, do consultor para mercados agrícolas, Stefan Podsclan, e do analista em mercado pecuário, Yago Travagini.

A notícia sobre o caso suspeito de encefalopatia espongiforme bovina (EEB), conhecida como doença da “vaca louca”, no Brasil, já está sendo divulgada na grande mídia, tanto do Brasil, quanto de fora. Assim, é preciso que o setor enfrente essa questão de frente, segundo Lygia Pimentel, analista da Agrifatto.

Em resumo, uma fonte não confirmada do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) disse que há suspeita de um caso de EEB que está sendo investigado. Normalmente, o procedimento oficial é: o frigorífico identifica o animal, aciona o inspetor, colhe-se material desse animal, que é enviado para análise. No entanto, é preciso haver uma contraprova dessa análise feita por um laboratório internacional de confiança. Após alguns dias, chegam os resultados dessa contraprova que confirma ou não se trata-se de EEB. Há a possibilidade de não ser, já que sintomas neurológicos podem advir de outras doenças, como raiva, por exemplo. 

Porém, pode ser o mal da “vaca louca” típico, que seria bem ruim, pois seria contaminação viral, ou atípico, que é um acometimento degenerativo do animal, como a doença de Alzheimer no ser humano, em uma comparação grosseira, ou seja, não se trata de contaminação viral.

Enquanto isso, o Brasil fecha o mercado para os clientes internacionais para não correr o risco de mandar produto contaminado, já que a EEB é uma zoonose grave. São enviadas as provas e contraprovas aos mercados internacionais, espera-se para ver como eles interpretam essas informações e, em um segundo momento, o mercado se abre novamente, se for um caso atípico.

Em 2019, o Brasil também passou por esse problema. Pimentel afirma que está sentindo falta de informações por parte do Mapa, já que em 2019, as informações foram mais rapidamente divulgadas. Ontem, saiu uma nota de esclarecimento no site Notícias Agrícolas:

NOTA  DE ESCLARECIMENTO: 

Como membro da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), o Brasil adota os procedimentos de vigilância, investigação e notificações recomendadas pela instituição. Casos em investigação são corriqueiros dentro dos procedimentos de vigilância estabelecidos e medidas preventivas são adotadas imediatamente para garantir o controle sanitário. Uma vez concluído o processo em investigação, os resultados serão informados.

Portanto, está sendo feita uma investigação e é preciso esperar os resultados.

Em 31 de maio de 2019, saiu a nota oficial sobre o caso de EEB no Brasil, mas o mercado já estava se movimentando alguns dias antes. O caso foi em uma vaca mais velha, de 17 anos, de uma fazenda de Nova Canaã do Norte, Mato Grosso. Nessa ocasião, tratou-se de um caso atípico que foi logo confirmado pelo Mapa. A queda no mercado, em porcentagem, foi a mesma naquela época em comparação com a que aconteceu agora, embora em números absolutos houve diferença por causa dos preços atuais. 

Atualmente, o mercado está se adaptando ao ocorrido, mas, por enquanto, faltam informações para atitudes mais certeiras. Pimentel explica que um informante do Mapa falou com o jornal Valor Econômico, informando que está sendo analisado e que é um caso corriqueiro, o que pode significar que não é o primeiro caso analisado esse ano, mas que acabou vindo à tona em um momento de fraqueza do mercado.

Ontem o boi caiu em 5,75% na Bolsa, chegando perto do limite de baixa, pois todos estão fugindo do risco e os especuladores estão vendendo para aproveitar o movimento, o que é normal. No final do dia de ontem, o indicador do boi caiu mais 2,52%, vindo para R$ 305,50, saindo de R$ 313,14, de acordo com dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). Não sabemos se isso é passageiro, mas o prejuízo foi irreversível para quem comercializou o boi ontem.

Frigoríficos cancelaram embarques de carne para o exterior e também a compra de bois, ou seja, já ocorreram prejuízos e agora precisamos das informações sobre o animal que está sendo analisado, o que deve ocorrer nos próximos dias.

Dentro disso, esse movimento de queda respingou sobre o milho também, ou seja, o mercado ficou muito nervoso e todos que tinham operação em Bolsa tiveram prejuízos. O milho entrou em uma vertente de queda no final de agosto e começo de setembro, porque está entrando na etapa final da colheita, e está começando a aparecer mais milho no mercado. Assim, a princípio o prejuízo maior é para o boi, pois o mercado já vinha em uma relação de troca boi:milho muito pressionada para o lado do pecuarista. Mesmo com essa queda do milho, a queda maior do boi ajuda a piorar o cenário.

Em 2019, o efeito não foi tão impactante, porque a situação do mercado era diferente. Tinha milho em alta disponibilidade a preços em praticamente um terço dos preços de hoje, de forma que o mercado não sentiu tanto nas operações relacionadas a milho. Porém, há uma apreensão, pois talvez por conta do encarecimento do milho, possamos pontuar que em momentos em que a nutrição animal encarece muito (farelo de soja ou milho), podem ser usados outros produtos que não são indicados e são até proibidos para alimentação bovina, como é o caso de cama de frango, farinha de osso.

Tivemos esse ano algumas notícias, como ocorreu na semana passada, sobre um laudo técnico da Defesa Agropecuária do Estado de São Paulo sobre um caso na região próxima de São José do Rio Preto de um lugar de abate clandestino que usava cama de frango, tinha carcaça de animal em exposição. Isso acontece e todos sabem disso. 

Pimentel afirma que esse pode ser um alerta importante para a saúde do agronegócio, pois mesmo esses alimentos sendo proibidos, estão sendo utilizados por algumas pessoas que colocam todo um setor em risco. Ou seja, não se trata de um problema individual, mas sim, coletivo, além de ser um problema de saúde pública, já que se trata de uma zoonose.

Já estamos vivendo um cenário com a peste suína africana (PSA), que começou na China, foi para a Europa e agora já está no continente americano, especialmente República Dominicana e Haiti. Temos também notificações pontuais de gripe aviária. Assim, o problema vai além de cuidar de questões relacionadas à produção. É preciso pensar nesse risco biológico, que está embutido na produção animal e vegetal. Esse caso de EEB no Brasil pode estar relacionado ao aumento de custos com a alimentação animal e o uso de produtos proibidos para reduzir os custos.

O Brasil tem muita disponibilidade de pasto e não tem tanta demanda de animais confinados, o que é um fator de risco para transmissão da EEB. Isso é um ponto positivo. O risco do Brasil para EEB perante a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) é insignificante, mas mesmo assim ocorreram esses casos e isso afeta todo o mercado. 

Pensando no mercado externo, o Brasil aumentou sua participação, com o País exportando 30% da produção, com 54% em média indo para a China esse ano, que é um país muito criterioso para essas questões sanitárias. Em maio de 2019, o Brasil não exportava para a China o mesmo volume que exporta hoje e a PSA não estava ainda impactando muito no mercado chinês. Então, o cenário de mercado era diferente.

Hoje, temos que ter em mente que se for EEB típica é muito grave e não tem como prever as reações, pois nunca vivemos esse tipo de cenário, devendo ocorrer um bloqueio geral até conseguir baixar esse risco novamente. Se for EEB atípica, é possível traçar algumas conjecturas de acordo com o que ocorreu no passado e com os protocolos que o Mapa já possui. Se for esse o caso, se os mercados internacionais aceitarem as explicações do Brasil, o mercado deve reabrir provavelmente rápido, já que há uma tese de uma segunda onda de PSA que cada vez mais se confirma.

Acabou de sair notícia no The Economist sobre as novas formas de PSA na China e o abate acelerado de suínos no mercado chinês, porque o produtor está tentando abater rápido para não perder os animais para a doença. Isso vai impedir que eles recuperem seus estoques de proteína animal e vai manter o apetite chinês aquecido.

Assim, Pimentel acredita que se o caso for comprovadamente atípico, o Brasil voltará a exportar para a China em tempo relativamente pequeno, porque o País é parceiro comercial da China, tem potencial de crescer em termos de preço e volume – até porque, a China aumentou bastante as importações de carne dos EUA, que é mais cara que a brasileira. Há também a questão da sustentação dos preços de carne internacionalmente por causa dessa lacuna no mercado chinês que persiste. 

Cerca de 38% da carne bovina importada pela China vem do Brasil, de forma que a ausência do Brasil aumentaria essa lacuna nesse cenário de PSA. Além disso, a curva sazonal de importações histórica, principalmente da China, mas não só lá, é de aceleração e alcance do potencial importador do mercado externo em torno de outubro e novembro. Possivelmente, o Brasil não exportará em setembro e será necessário fazer estoque por conta do Ano Novo Chinês. 

Nessa linha, já estavam vindo os resultados das exportações de agosto, que foram recordes. As perspectivas eram de exportações recordes no segundo semestre de 2021, mas com esse cenário da EEB, há uma mudança completa. Há também no momento os problemas de logística, com indisponibilidade de contêineres, fretes elevados, indisponibilidade de navios.

Porém, é preciso esperar a confirmação do Mapa para poder ter projeções sobre o mercado. 

Confira um trecho do podcast:

Fonte: Agrifatto.

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