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Agrifatto: Como caminha nosso mercado externo?

Em seu posdcast, Agrifatto Cast, a Agrifatto tratou sobre o mercado externo de carne, com participação da diretora, Lygia Pimentel e os consultores Laura Rezende, Lygia Pimentel, Stefan Podsclan e Yago Travagini.

O mercado brasileiro de carne bovina ainda está com algumas limitações, como com o mercado russo, com o fechamento do mercado pela Arábia Saudita e com o mercado da China. Com a China, pelo acordo comercial, o Brasil interpretou que os abates ocorridos até o dia 3 de setembro poderiam seguir com a carne exportada para a China. Essa carne foi embarcada até o dia 9, mas com certificação do dia 3. Porém, a China interpretou que, mesmo com o certificado para o dia 3, o que vale é a data de embarque. Apesar desses imbróglios, a retomada do comércio ainda está dentro do esperado, baseado nos casos anteriores de encefalopatia espongiforme bovina (EEB) atípicos do Brasil.

A Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) já deu o caso por encerrado, ou seja, tecnicamente, não há nenhum impedimento para que o Brasil continue exportando para esses países. Como a carne globalmente está muito cara, tem cedido espaço para outras proteínas, como frango, por exemplo. Paralelamente a isso, o Brasil nunca dependeu tanto de exportações para precificar seu boi. Cerca de 30% da produção está sendo exportada, contra uma média de 18-22%. Assim, vemos o peso das exportações para escoar essa produção, além do câmbio.

2021 está entre os piores anos em termos de valorização de preço. 2020 foi um dos melhores. Assim, o mercado já estava vindo nessa linha e isso o que aconteceu somente serviu para deixar o mercado mais nervoso. Além disso, quando a gente avalia o mercado de frango e suíno, o consumo per capita está nas máximas históricas, enquanto a carne bovina está nas mínimas históricas. Assim, o mercado externo é fundamental para escoar a produção. Mais um indicativo disso é que estamos em um dos menores abates da história. Porém, no momento a crise está grave, a crise de desemprego, além da pressão inflacionária (9,5% no acumulado). Isso mostra que o mercado doméstico está saturado.

Voltando para o mercado exportador, o mercado externo é fundamental para aliviar o mercado doméstico dessa saturação. Hoje, a China representa 55% do que o Brasil exporta. A China está comprando carne de todos os principais exportadores, como Brasil, Argentina, Uruguai, Nova Zelândia, Austrália, mas o Brasil é, de longe, o maior fornecedor. Cerca de 38% da carne que chegou na China em 2021. O segundo maior, que era a Argentina, mandava 22%. Assim, a China depende do Brasil para ter carne bovina. Com a redução das exportações argentinas, sua participação cairia para 10%.O Brasil aproveitou esse espaço também, aumentando a co-dependência da China e do Brasil nessa questão. Essa medida de redução das exportações da Argentina deve se manter até as eleições, em novembro, pois tem motivações políticas. Essa medida pode, inclusive, ser renovada.

Na China, essa pressão pela falta da carne brasileira também pode gerar uma pressão inflacionária por falta de oferta. Porém, no mercado chinês está aumentando o abate de suínos e a oferta de carne, apesar de a peste suína africana (PSA) ainda estar afetando o mercado. O governo chinês estimulou financeiramente os produtores de suínos, mas muitos deles estão quebrando, apesar disso, pois a PSA continua afetando o mercado.

A carne não subiu só no Brasil, mas sim, globalmente. Assim, há um problema inflacionário reforçado tanto pelo Covid, reforçado pelo aumento da demanda, ciclo pecuário, oferta, escassez de contêineres. Talvez isso esteja causando uma migração global do consumo da carne bovina para a carne suína.

Atualmente, temos o maior preço da carne bovina vendida pelo Brasil da história, em US$ 5.790,00 por tonelada, o que equivale a R$ 30.000,00 a tonelada. A lucratividade dos frigoríficos que exportavam até agosto está muito boa. Talvez esse fechamento da China e da Arábia Saudita visem tentar forçar uma queda nesse preço, já que não tem motivo sanitário para isso. 

A Arábia Saudita, oitavo maior mercado da carne bovina brasileira, comprando cerca de 25 mil toneladas ano entre janeiro e agosto, bloqueou as exportações dos frigoríficos de Minas Gerais especificamente, que representa apenas 12% do que o Brasil embarca para esse país. Assim, são cerca de 3 mil toneladas, das 25 mil embarcadas. Além disso, Minas Gerais tinha 12 frigoríficos habilitados e apenas 5 foram suspensos.

Sobre a inflação de alimentos na Arábia Saudita, em 2020 foi a máxima histórica, desde 2012. Essa inflação foi quase o dobro da segunda maior. Essa inflação traz uma substituição natural das carnes, de forma que o país já vinha freando as importações de carne bovina do Brasil. A Arábia Saudita também decidiu se tornar menos dependente de importações de carne de forma geral, de forma que vem reduzindo as compras de outras carnes também.

O boi chegou no preço que chegou, porque tivemos o menor abate da história dos últimos 14 anos, devido ao ciclo pecuário. 

A gente está vivendo um momento de contração média das economias globais depois do Covid, com inflação, deterioração econômica pela crise, e isso vem em linha com o incentivo doméstico dos países de colocar produção de suínos e frangos verticalizadas internamente. Isso é mais fácil de fazer em granjas, mas difícil de fazer em bovinos. O horizonte de médio e longo prazo é o mundo voltar a crescer e se recuperar dessa crise e voltar a consumir mais carne bovina.

Vale lembrar que são mais de 30 meses de retenção de fêmeas internamente. Para quem acha que o ciclo pecuário deixou de existir, vamos saber disso nos próximos 18-20 meses. Deve-se acender a luz amarela, pois o ciclo vira em algum momento.

Clique para ouvir o podcast completo.

Fonte: Agrifatto.

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