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ADM colhe os frutos de seu investimento no setor de nutrição

Uma estratégia que ganhou tração há uma década, liderada por um executivo argentino e que teve Mato Grosso do Sul como seu divisor de águas, está impulsionado os resultados de uma das maiores empresas de agronegócios dos Estados Unidos e do mundo, com vendas de mais de US$ 60 bilhões por ano, num dos períodos mais complicados para os negócios em seus mais de 100 anos de história. 

“Em junho de 2014, em Campo Grande, no lançamento da pedra fundamental da nossa nova fábrica de proteínas de soja [a primeira fora dos EUA], eu disse a você que o projeto era um marco nos esforços da ADM de ampliar investimentos em produtos de maior valor agregado e que, para que tivéssemos sucesso nesse caminho, iríamos nos aproximar cada vez mais de clientes e consumidores. Isso de fato aconteceu, e os resultados dessa estratégia estão sólidos mesmo com a pandemia ”, afirma Juan Luciano. 

Quando conversou com o Valor há pouco mais de seis anos na capital sul-matogrossense, Luciano era presidente global e Chief Operating Officer (COO) da Archer Daniels Midland, onde começou a trabalhar em 2011, depois de 25 anos na também americana Dow Chemical. Pouco tempo depois substituiu Patricia Woertz e se tornou também CEO. As vendas trimestrais da companhia giravam em torno de US$ 20 bilhões e as margens estavam particularmente apertadas nas operações de commodities agrícolas como soja e milho, que são seu carro-chefe. 

No terceiro trimestre de 2020, as vendas globais da ADM somaram US$ 15,1 bilhões, quase 10% menos que em igual intervalo do ano passado, e o lucro líquido caiu 45%, para US$ 225 milhões. Com a forte alta das cotações dos grãos advinda sobretudo da forte demanda da China, os desafios se multiplicaram na divisão de serviços agrícolas e oleaginosas e as margens no processamento recuaram, mas por trás dos grandes números a performance do segmento de nutrição continuou a chamar a atenção. 

Enquanto as vendas da divisão de serviços agrícolas e oleaginosas recuaram 8,6% no terceiro trimestre, para US$ 11,5 bilhões, as de nutrição ficaram estáveis em US$ 1,5 bilhão. Já o lucro operacional da principal área em vendas subiu 4,6%, para US$ 436 milhões, e o dos negócios de nutrição cresceu 24,6%, para US$ 147 milhões. Também houve forte alta no lucro operacional do segmento de soluções em carboidratos (de 35,2%, para US$ 246 milhões), embora as vendas nessa frente, que também ganhou peso por causa das mudanças estratégicas da ADM, tenham registrado uma retração de 19,5%, para US$ 2,1 bilhões. 

“Na divisão de nutrição, foi o quinto trimestre consecutivo de crescimento superior a 20% do lucro operacional”, reforçou Luciano. Quando ficaram evidentes os sinais de que para grandes tradings como ADM – e Bunge, Cargill e Luis Dreyfus, que completam o grupo das “ABCD” – a era de extração de valor no processamento de commodities agrícolas estava ficando para trás, a companhia que comanda estabeleceu como foco de suas ações segurança alimentar, sustentabilidade e saúde e bem-estar. 

Em meio a essas mudanças, a divisão de nutrição, criada em 2014, foi a que mais passou a sentir os reflexos de investimentos no crescimento orgânico da produção e de aquisições e parcerias fechadas pela ADM. Na fábrica de proteínas de soja de Campo Grande, inaugurada em 2018, o aporte da múlti, que no total investe cerca de US$ 1 bilhão por ano, foi de US$ 240 milhões. A unidade é a grande âncora da área no Brasil, que inclui nutrição humana, bem-estar e rações – reunidas na Neovia, que conta com 13 unidades fabris.

Entre as aquisições feitas em diversos países para reforçar os negócios nessa área – 17 desde que Luciano assumiu o cargo de CEO -, uma das mais recentes foi a da Yerbalatina, fabricante de extratos e ingredientes à base de plantas com sede em Colombo, na região metropolitana de Curitiba. Que, diga-se de passagem, caiu como uma luva para a joint venture PlantPlus, formada pela ADM (30%) e Marfrig (70%), segunda maior empresa de carne bovina do Brasil, com forte presença nos EUA, para avançar no crescente ramo de plant-based nos mercados americano e brasileiro. 

“Durante essa interessante transformação da ADM, um dos mercados que passamos a olhar mais de perto é o de proteínas vegetais. Mais da metade da população mundial já está consumindo esses produtos e, apenas nos EUA, as vendas devem passar dos atuais US$ 2 bilhões por ano para cerca de US$ 10 bilhões até 2030”, diz a brasileira Letícia Gonçalves, presidente global da área de ingredientes especiais da companhia americana. As proteínas de soja são as mais demandadas nesse mercado, mas alternativas como ervilha, tremoço e feijão vêm avançando. 

Como as mudanças no mercado de alimentos já começavam a se acelerar, a ADM promoveu pouco antes do surgimento da covid-19 um treinamento intensivo para preparar melhor seus 40 mil funcionários para “surpresas” e conferir mais agilidade e segurança aos processos de tomada de decisão. Atirou no que viu e acertou no que não viu, uma vez que, segundo Juan Luciano, esse treinamento minimizou as dores do isolamento social e do trabalho em home office durante a pandemia e acelerou a adaptação a novos clientes, produtos e embalagens com a transferência de vendas de alimentos do food service ao varejo, por exemplo. 

Para o pós-pandemia, a ordem é estreitar ainda mais os laços com clientes e consumidores sem virar as costas para a cadeia produtiva de produtos agrícolas, que continua ser o motor dos negócios. E, em tempos de forte pressão por boas práticas e sustentabilidade no campo, ajudar os agricultores a evoluírem nessas direções. “Há 570 milhões de produtores rurais no mundo, muitos deles de pequeno porte, familiares, que não estão preparados para as novas exigências que ganham força. Temos que avançar inclusive em incentivos econômicos para garantir uma oferta de matérias-primas de boa qualidade e nos preparar para investir em mercados de créditos de carbono”, afirma Juan Luciano.

Fonte: Valor Econômico.

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