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Adaptação de animais confinados às dietas de alto grão

Com o crescente uso de dietas de alto grão em dietas de animais confinados no Brasil, torna-se necessário o uso de um manejo nutricional adequado durante a fase de adaptação do gado para a prevenção de problemas digestivos.

Introdução

Com o crescente uso de dietas de alto grão em dietas de animais confinados no Brasil, torna-se necessário o uso de um manejo nutricional adequado durante a fase de adaptação do gado para a prevenção de problemas digestivos. Dos animais que chegam ao confinamento, a maioria jamais consumiu alta quantidade de grãos. Logo, são necessários cuidados que façam com que os microorganismos do rúmen se adaptem à grande quantidade de carboidratos não fibrosos e de fermentação rápida, provenientes de dietas ricas em amido.

A adaptação toma tempo

Em confinamentos, “tempo é dinheiro”. Logo, existe uma preocupação em se adaptar os animais o mais rápido possível à dieta final, pois uma vez que os animais começam a ser alimentados com a dieta definitiva rica em grãos há aumento no ganho de peso diário (GPD) e melhora na eficiência alimentar. No entanto, a adaptação dos microorganismos e papilas ruminais às dietas ricas em concentrado requer tempo, com mudanças graduais e cautelosas. Essas mudanças, sendo bruscas, podem causar conseqüências a curto e/ou longo prazo, ou até mesmo mortes súbitas no confinamento. O confinador, junto ao seu nutricionista, deve tomar precauções para que os animais sejam adaptados adequadamente, ao mesmo tempo que o GPD seja adequado durante esse período.

Mudanças no rúmen

A adaptação de animais confinados às dietas com baixa quantidade de volumoso produz mudanças significativas no ambiente ruminal. Com o aumento na quantidade de carboidratos rapidamente fermentáveis, há redução na quantidade de bactérias fribrolíticas e um crescimento rápido na quantidade de bactérias amilolíticas. Dietas contendo alta quantidade de amido aumentam a disponibilidade de glicose livre e estimulam o crescimento de diversas bactérias, aumentando a produção de ácidos graxos voláteis (AGV) e diminuindo o pH ruminal (Owens et al., 1998). Com isso, há diminuição no número de bactérias celulolíticas, que não sobrevivem em um ambiente com pH inferior a 5.5 (Slyter et al., 1970). A acidose resultante desse processo pode se manifestar na forma aguda (com sinais clínicos) ou na forma subclínica, que é mais difícil de se identificar.

Revisão de literatura

Em uma excelente revisão, Brown et al. (2006) sumarizaram dados provenientes de diversos estudos envolvendo a adaptação de animais confinados. Dados desses experimentos mostraram que problemas foram observados quando o período de adaptação foi inferior a 14 dias até que os animais começassem a receber ração definitiva de 92 a 95% de concentrado. Brown, et al. (2006) ressaltam, no entanto, que o número de animais totalizados nesses estudos não permitiu uma análise precisa da freqüência de distúrbios metabólicos (por ex., timpanismo, morte súbita) que ocorrem em confinamentos comerciais.

Dados de Brown et al. (2006) também mostram que o desempenho foi prejudicado em experimentos onde os animais tinham acesso à vontade às dietas de adaptação. Logo, Brown et al. (2006) sugerem que um manejo adequado do cocho seja implantado no processo de adaptação. Dados de Pritchard & Bruns (2003) também sugerem que práticas de manejo de cocho adequadas podem reduzir tais problemas de consumo. Pritchard & Bruns (2003) descrevem que um manejo adequado do cocho permite consistência na quantidade de alimento oferecida, sem “super-alimentação” dos animais.

Se o animal é alimentado à vontade, poderá comer em excesso, o que causará uma redução no pH ruminal. Quando o pH ruminal é baixo, o consumo é diminuído. A diminuição no consumo possivelmente funciona como um mecanismo interno que tenta limitar a fermentação excessiva, o que conseqüentemente restaura o pH para níveis “confortáveis”. Uma vez que o pH retorna a níveis adequados, o animal se sente “melhor”e volta a consumir em alta quantidade, o que causa uma nova produção excessiva de ácidos no rúmen, fazendo com que todo o ciclo se repita (Schwartzkopf-Genswein et al., 2003).

Como fazer a adaptação?

– Diferentes dietas de adaptação

Animais confinados devem receber diferentes dietas com diferentes proporções de volumoso e concentrado (níveis crescentes de concentrado) que são distribuídas em um período de 3 a 4 semanas antes do início da dieta definitiva. Normalmente são utilizadas 2 a 4 dietas de adaptação, sendo que cada uma delas é fornecida por 5 a 10 dias. A transição de dietas deve ser feitas de forma gradual, e pode durar de 1 a 3 dias.

– Oferta controlada

A adaptação de animais através da restrição severa de uma única ração, com aumento lento e progressivo na quantidade, é uma outra metodologia muito discutida devido às facilidades de manejo que a mesma traz. No entanto, em grandes confinamentos esse tipo de adaptação pode ser problemática. A quantidade inicial a ser oferecida é muito pequena e a variação de animais dentre os lotes, tanto em termos de tamanho como em termos comportamentais (dominância), faz com que alguns animais possam ingerir quantidade excessiva de ração. Esse método é utilizado em confinamentos pequenos e em algumas instituições de pesquisa.

– “Two-ration blending”

Recentemente, tenho observado que um novo método de adaptação tem sido utilizado com freqüência por grandes confinamentos corporativos nos EUA. Trata-se do processo de adaptação com a mistura de apenas duas dietas (uma dieta de adaptação e a dieta final) por um período de aproximadamente três semanas. A dieta de adaptação é misturada à dieta definitiva em diferentes proporções até que somente a dieta final seja oferecida.

Logo, apenas duas dietas são produzidas pela fábrica de ração durante todo o período de adaptação, o que acaba com a necessidade de se misturar várias rações diferentes para diferentes lotes em adaptação (ração 1, ração 2, ração3, ração 4 etc.). Esse método ainda não foi estudado profundamente mas parece promissor, pelas vantagens oferecidas em termos operacionais tanto pela facilidade no gerenciamento da fábrica de ração quanto pela facilidade no fornecimento.

Conclusões

A adaptação adequada às dietas de alto grão é essencial para a saúde ruminal. A acidose, embora não ataque a maioria dos animais de um grupo, definitivamente ocorre em alguns animais. Os programas de adaptação disponíveis atualmente não são capazes de eliminar completamente problemas de acidose, embora reduzam sua incidência. Não sabemos ainda quais são os parâmetros biológicos que permitem que alguns animais se adaptem mais rapidamente que outros. Logo, pesquisadores continuam buscando formas de se permitir uma adaptação mais rápida para otimizar o ganho de peso durante aquele período, sem que distúrbios digestivos sejam causados.

Literatura consultada

Brown, M. S., C. H. Ponce and R. Pulikanti. Adaptation of beef cattle to high-concentrate diets: Performance and ruminal metabolism. 2006. J. Anim. Sci. 2006. 84:E25-E33.

Slyter, L. L., R. R. Oltjen, D. L. Kern, and F. C. Blank. 1970. Influence of the type and level of grain and diethylstilbestrol on the rumen microbial populations of the steers fed all-concentrate diets. J. Anim. Sci. 31:996-1002

Owens, F. N., D. S. Secrist, W. J. Hill, and D. R. Gill. 1998. Acidosis in cattle: A review. J. Anim. Sci. 76:275-286.

Pritchard, R. H., and K. W. Bruns. 2003. Controlling variation in feed intake through bunk management. J. Anim. Sci. 81(E. Suppl. 2):E133-E138.

Schwartzkopf-Genswein, K. S., K. A. Beauchemin, D. J. Gibb, D. H. Crews, Jr., D. D. Hickman, M. Streeter, and T. A. McAllister. 2003. Effect of bunk management on feeding behavior ruminal acidosis, and performance of feedlot cattle: A review. J. Anim. Sci. 81(E. Suppl. 2):E149-E158.

6 Comments

  1. Daniel de Castro Rodrigues disse:

    Interessante o artigo.

    Aqui em Goiás, no confinamento da EPLAN Agro, utilizamos o sistema de oferta controlada com grande sucesso. Importante sempre é o dimensionamento correto dos cochos e currais para minimizar os problemas de dominância. No nosso caso, trabalhamos com oferta controlada para 4.000 animais com resultados excelentes. No entanto não usamos somente um único trato e sim o fornecimento ao longo do dia de pequenas quantidades. Não vejo espaço para dietas acima de 80% de concentrado devido as características raciais do rebanho brasileiro (zebu). Percebemos que valores próximos a 80% de concentrado provocavam grandes perdas de amido nas fezes e que após o ajuste para menores níveis de concentrado esse problema foi solucionado sem perda de desempenho.

  2. DEDIHER RENATO SILVA MENDES disse:

    Fiquei esclarecido com a forma de confinamento conhecida como alto grão, eu em minha propriedade confino ja a dois anos e também conheço colegas meus que utilizam esse novo sistema, mas sempre surgem controversas deste tipo de confinamento ou duvidas, e por ser um sistema novo surgem varias respostas nesse sentido e nos faz gerar duvidas sobre o assunto.Na verdade vamos começar por partes:1º GRÃO deve ser inteiro totalmente, meio quebrado, ou totalmente quebrado (cangicão)?.2º NÚCLEO deve ser peletizado ou farelado?.3º FORNECIMENTO nos primeiros dias deve ser feito uma adaptação desse produto, mas o trato deve ser distribuido em quantas vezes diárias?4º ABATE deve ser por aproximadamente no máximo 60 dias?

    CURIODIDADE: Existe estudos de confinamento com grãos de soja inteiro, e também sorgo inteiro?

  3. Antonio de Sousa Ribeiro Neto disse:

    Bom dia, estou penssando em utilizar no proximo ano em meu confinamento(no que dou assistencia) uma dieta mais rica em grao(alto grao), mas estou cituado numa regiao onde nao ha uma sequer produçao de grao,na regiao de Nova Crixas-GO.Meu confinamento esta crescendo e o trabalho em fazer silagem tambem,devido principalmente a disponibilidade de area que limitada.Gostaria entao que me mandassem uma materia das vantagens e tambem desvantagens,que eu teria no meu caso em utilizar dietas de alto grao em meu confinamento e qual seria o meu manejo na utilizaçao dessa dieta.

  4. Renato Friere disse:

    É possível fazer a adaptação com o sistema de confinamento semi-intensivo, com os animais solto á pasto e recebendo o alto grão, e após este processo passar os animais a confinamento intensivo somente recebendo o concentrado alto grão?

  5. Fábio Santos disse:

    Renato,

    Estou pesquisando sobre o confinamento de Alto Grão e visitei algumas propriedades na minha região que já fazem uso. Tem propriedades que durante a adaptação (em média 15 dias) do alto grão eles deixam os animais solto a pasto, e após a adaptação apenas núcleo e milho inteiro. Tem dado certo, porém alguns técnicos daqui tem citado que o milho em excesso prejudica as juntas dos bovinos, por isso o ideal é não deixar o animal andar muito e indicam fazer a adaptação com a casquinha de soja (comum em nossa região) ou silagem e deixar os animais já confinados. Porém neste último caso o custo fica um pouco mais elevado.

    Espero ter ajudado.

    Abraços,
    Fabio Santos

  6. REGIS RESENDE MACHADO disse:

    Estou confinando bois cruzados de origem leiteira e fiz da seguinte forma: 30 dias antes de fechar o gado no curral coloquei 3,5 kg cb dia de ração semi-confinamento a pasto como uma pré-adaptação. Ao colocar os bois no confinamento entrei com a dieta de alto grão na proporção de 6 a 7 kg cb dia do primeiro ao quinto dia  e nos demais dias forneci ração a vontade e o resultado esta bastante satisfatório. O técnico que me assiste fez um relato de que os bois estão com um ótimo desempenho um ganho de peso desejavel.

    Espero ter contribuido

    REGIS RESENDE MACHADO

    MINEIROS GOIÁS

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