O acordo comercial União Europeia-Mercosul sofreu um novo golpe na Europa, agora com um relatório encomendado pelo governo francês a um grupo de especialistas que conclui que o tratado traz o risco de acelerar o desmatamento.
O estudo sobre o impacto do acordo no desenvolvimento sustentável foi encomendado pelo ex-ministro Édouard Philippe e será entregue amanhã ao novo chefe do governo, Jean Castex, mas suas conclusões foram antecipadas hoje pelo jornal Le Monde.
O documento de 194 páginas diz que a hipótese mais provável, para os especialistas do grupo, é de desmatamento a um ritmo anual de 5% durante seis anos desde a aplicação do acordo, significando 700 mil hectares.
Ou seja, o custo ambiental medido a partir das emissões suplementares de CO2, a um custo unitário de 250 dólares a tonelada, seria mais elevado do que os benefícios econômicos.
Ainda segundo o jornal Le Monde, a comissão baseia seus cálculos sobre o desmatamento provocado sobretudo por abertura de pastos para aumentar a produção de gado no Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.
O balanço carbono da produção de um quilo de carne bovina seria três vezes superior na América Latina em relação à Europa, segundo o jornal, baseado em dados da FAO, a Agência das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação. Mas há divergências entre cientistas sobre essa questão.
O grupo formado pelo governo francês também é severo sobre vários aspectos sanitários do acordo, entre eles produtos como pesticidas, interditados na Europa, mas autorizados nos países do Mercosul.
O jornal cita também um estudo de impacto encomendado pela Comissão Europeia à London School of Economics, que afirmava que o acordo UE-Mercosul não provocaria emissão de carbono adicional.
Le Monde cita um especialista do Instituto Veblen, um think tank especialista em reformas econômicas, que considera que o acordo com o Mercosul é incompatível com o “green deal” europeu, ou seja, a nova estratégia verde de crescimento europeu.
Existem cláusulas ambientais nos acordos comerciais, mas organizações não governamentais reclamam que a UE tem reticências a aplicá-las na prática.
O relatório pavimenta o caminho para o presidente Emmanuel Macron, com dificuldades políticas, não assinar o acordo UE-Mercosul.
Macron já por mais de uma vez ameaçou não ratificar o tratado alegando que o presidente Jair Bolsonaro não tomava as medidas necessárias para proteger a floresta amazônica.
Na seção de opinião do Le Monde, Sônia Guajajara, representante de povos indígenas do Brasil, e Marie Laura Canineu, diretora de Human Rights Watch no país, publicam artigo intitulado: “A Europa pode nos ajudar a salvar a Amazônia”. Conclamam a UE a não ratificar o acordo com o Mercosul se Bolsonaro não honrar compromissos ambientais.
Fonte: Valor Econômico.