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A vacinação contra IBR, BVD e leptospirose em programas de IATF pode aumentar a taxa de prenhez de vacas?

A eficiência reprodutiva é um fator de grande impacto no retorno econômico da pecuária. Sabe-se que doenças infecciosas são responsáveis por cerca de 40 a 50 % das causas de perdas de gestação, sendo que a rinotraqueíte infecciosa bovina (IBR), a diarréia viral bovina (BVD) e a leptospirose vêm sendo associadas com estas desordens reprodutivas. Dada a importância desse tema, o presente artigo prestigiará um trabalho publicado na última SBTE (Vasconcelos et al., 2010). O objetivo do estudo foi avaliar a taxa de prenhez e de perda de gestação de vacas de corte e leite lactantes vacinadas ou não contra IBR, BVD e leptospirose no início do protocolo de IATF.

A eficiência reprodutiva é um fator de grande impacto no retorno econômico da pecuária. Sabe-se que doenças infecciosas são responsáveis por cerca de 40 a 50 % das causas de perdas de gestação, sendo que a rinotraqueíte infecciosa bovina (IBR), a diarréia viral bovina (BVD) e a leptospirose vêm sendo associadas com estas desordens reprodutivas.

A IBR é uma doença viral de distribuição mundial causada pelo herpesvírus bovino tipo 1 (BHV-1). O vírus da IBR tem efeito negativo na fertilidade, pois influencia na qualidade dos embriões, causa morte embrionária e aborto.

A BVD também é uma doença infecto-contagiosa causada por vírus com reflexos negativos na reprodução. De forma sucinta, quando fêmeas gestantes soronegativas são infectadas, o vírus da BVD atravessa a placenta e alcança o feto, causando diferentes graus de lesões macroscópicas que vão de imperceptíveis a fatais (morte fetal). A ocorrência de aborto e de defeitos congênitos são as consequências decorrentes dessa infecção com maior importância econômica na bovinocultura. Muitos especialistas acreditam que a BVD é a causa mais importante de aborto em bovinos.

Já a Leptospirose é uma doença infecto-contagiosa causada por bactérias do gênero Leptospira. Nos bovinos encontramos principalmente as sorovariedades L. hardjo, L. icterohaemorrhagiae, L. pomona, L. grippotyphosa , L. canicola, L. goiano e L. guaicurus, sendo que outras variedades também podem causar infecções. Em bovinos adultos os sintomas reprodutivos são os mais importantes, sendo que em fêmeas gestantes pode ocorrer morte fetal e aborto no final da gestação. A infertilidade também pode ser uma sequela da doença. Pode-se considerar que no Brasil essas três doenças têm caráter endêmico, sendo mais ou menos frequentes em determinadas regiões. Espera-se, portanto, que seu impacto na eficiência reprodutiva dos rebanhos seja alarmante, acometendo diretamente a taxa de prenhez e a perda gestacional e indiretamente a produtividade do animal.

Dada a importância desse tema, o presente artigo prestigiará um trabalho publicado na última SBTE (Vasconcelos et al., 2010). O objetivo do estudo foi avaliar a taxa de prenhez e de perda de gestação de vacas de corte e leite lactantes vacinadas ou não contra IBR, BVD e leptospirose no início do protocolo de IATF. Os autores deste resumo realizaram 5 experimentos para determinar o efeito da vacinação sobre esses parâmetros, sendo que para tal foram utilizadas 6.972 vacas de corte (experimentos 1, 2 e3)e 1.960 vacas leiteiras em lactação (experimentos 4 e 5).

Experimentos com gado de corte

Nos experimentos 1 e 2, as vacas utilizadas nunca haviam sido vacinadas contra estas doenças reprodutivas. Já no experimento 3, um programa semestral de imunização para leptospirose já era realizado na propriedade. Todos os animais destes três experimentos (1, 2 e 3) receberam o mesmo protocolo de IATF [D0-2mg de benzoato de estradiol e inserção de dispositivo intravaginal de progesterona; D7- PGF2α; D9-remoção do dispositivo, administração de cipionato de estradiol e remoção de bezerros; D11-IATF].

No experimento 1, os autores apenas realizaram o levantamento da ocorrência de perda gestacional sem a realização da vacina: avaliação de 4.289 vacas gestantes em 20 propriedades para determinar a taxa de perda gestacional entre 30 e 120 dias. Diferentes perdas gestacionais foram observadas nas propriedades, variando de 1,45% (2/139) a 12,16% (9/95; P < 0,05). Ainda, as vacas primíparas tiveram maior perda gestacional que as multíparas (P < 0,05, Figura 1).

Figura 1. Perda gestacional dos animais do experimento 1 de acordo com a paridade. Médias com diferentes expoentes (a e b) diferiram entre si (P <0,05; Adaptado de Vasconcelos et al., 2010)

O experimento 2 foi realizado em 7 propriedades, sendo utilizadas 2.384 vacas. As vacas foram divididas aleatoriamente de modo que o mesmo número de animais vacinados ou não contra IBR/BVD/Leptospirose ocorresse em todos os lotes manejados. A primeira dose de vacina foi realizada no início do protocolo de IATF e a segunda dose (reforço) no momento do primeiro diagnóstico de gestação (30 dias após a IATF). Os animais vacinados apresentaram maiores (P < 0,01) taxas de prenhez aos 30 e 120 dias após a vacinação (Figura 2).

Figura 2. Perda gestacional dos animais do experimento 2 de acordo com a paridade. Médias com diferentes expoentes (a e b) diferiram entre si (P < 0,05; Adaptado de Vasconcelos et al., 2010)

O experimento 3 foi realizado em uma única propriedade, onde 299 vacas foram divididas aleatoriamente dentro do mesmo lote para receberem ou não a vacina contra IBR/BVD/Leptospirose. Entretanto a primeira vacinação ocorreu trinta dias antes do inicio do protocolo de IATF e a segunda dose no início do protocolo de IATF, caracterizando um esquema de pré-imunização. Nessa fazenda já havia um programa de vacinação semestral para leptospirose. Como resultado, houve uma tendência (P < 0,10) dos animais vacinados a apresentarem maior taxa de prenhez aos 30 e 120 dias após a IATF (Figura 3).

Figura 3. Perda gestacional dos animais do experimento 3 de acordo com a paridade. Médias com diferentes expoentes (A e B) diferiram entre si (P < 0,10; Adaptado de Vasconcelos et al., 2010)

Experimentos com gado de leite

Os experimentos 4 e 5 foram realizados com vacas de leite. Nestes dois experimentos todas as vacas foram inseminadas em tempo fixo com o protocolo: D0-aplicação de cipionato de estradiol e inserção de dispositivo intravaginal de progesterona; D7-aplicação de PGF2α; D9-retirada do dispositivo e aplicação de cipionato de estradiol; D11-IATF. No início do protocolo de IATF as vacas foram divididas aleatoriamente em dois grupos para receber ou não uma dose da vacina. A revacinação foi realizada no primeiro diagnóstico de gestação (30 dias após a IATF). Um segundo diagnóstico de gestação foi realizado 71 dias após a IATF. Assim, pode-se determinar a perda de prenhez entre 30 e 71 dias de gestação.

No experimento 4 foram utilizadas 1.140 vacas de 37 propriedades, sem histórico de vacinação prévia contra IBR/BVD/Leptospirose. Os animais vacinados apresentaram maior taxa de prenhez aos 30 e 71 dias após a IATF e menor perda gestacional (P < 0,01; Figura 4).

Figura 4. Perda gestacional dos animais do experimento 4 de acordo com a paridade. Médias com diferentes expoentes (a e b) diferiram entre si (P < 0,01; adaptado de Vasconcelos et al., 2010)

No experimento 5 foram utilizadas 820 vacas de 16 propriedades em que já se utilizava vacinação contra IBR/BVD/Leptospirose em seu programa sanitário anual. Essa vacinação prévia ao protocolo de IATF não melhorou (P = 0,80) a taxa de prenhez nos dia 30 e 71 pós IATF e não reduziu a perda gestacional em relação ao grupo controle (Figura 5).

Figura 4. Perda gestacional dos animais do experimento 4 de acordo com a paridade. (Adaptado de Vasconcelos et al., 2010)

Os autores concluem que existem fazendas com diferentes taxas de perda de gestação e que a utilização da vacina teve impacto positivo nas taxas de prenhez. Porém, em vacas que já recebem estas vacinas em seu programa sanitário não necessitam da realização de nova vacinação no início do protocolo de IATF.

Assim, um manejo sanitário eficiente e eficaz é sempre benéfico para o incremento da eficiência reprodutiva e, consequentemente, produtiva da empresa rural. Um ponto que ainda deve ser estudado é o impacto do uso destas vacinas em diferentes cenários de incidências destas moléstias, uma vez que este impacto pode ser maior ou menor de acordo com o grau de incidência das mesmas. Os autores afirmam que animais que já são submetidos a programa sanitário não necessitam de nova imunização no momento do início do protocolo de IATF. Entretanto, mais estudos onde o intervalo entre estas vacinações são realizadas deve ser uma variável a ser estudada para podermos afirmar isso. Outro ponto que não foi abordado é a taxa de nascimento de bezerros, o que se mostra importante no estudo de doenças que provocam aborto em fases mais adiantadas da gestação, como é o caso da leptospirose.

Referências bibliográficas

J.L. Moraes Vasconcelos, F.H.S. Aono, M.H.C. Pereira. Perdas embrionárias em gado de corte e de leite. XXIV Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Tecnologia de Embriões (SBTE) 2010, p. r 209

1 Comment

  1. João Vicente Teixeira Granero disse:

    Roberta e Henderson, parabéns pela disponibilidade do artigo é sempre muito bom relembrar da importância da sanidade do rebanho em relação a Reprodução. Gostaria de saber a relação de custo dos tratamentos, relação custo x benefício.
    Desde de já muito obrigado e novamente parabens.
    abraços

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