Sempre proferi muitas palestras para produtores e técnicos, mas estas são mais motivadoras que formadoras e o que necessitamos é mais formação – Carlos Nabinger [Prêmio BeefPoint Sul]
8 de abril de 2014
Minha avó Gisela já dizia: “Trabalhar … trabalhar … sem muito reflexionar” – Luiz Biacchi [Prêmio BeefPoint Sul]
8 de abril de 2014

A união é a maior arma. Vamos botar o mate em baixo do braço e vamos lá apoiar o setor e debater juntos! – Thais Lopa [Prêmio BeefPoint Sul]

No dia 4 de abril, foi realizado o BeefSummit Sul, em Porto Alegre/RS. Evento organizado pelo BeefPoint, em parceria com a Associação Brasileira de Hereford e Braford (ABHB).

No dia do evento, o BeefPoint homenageou as pessoas que fazem a diferença e têm paixão pela pecuária de corte no Sul do Brasil com o Prêmio BeefPoint Edição Sul.

O público escolheu através de votação online, o vencedor de cada categoria. Assim, para conhecer melhor os indicados, o BeefPoint preparou uma entrevista com cada um deles.

Conheça Thais Pires Lopa, finalista na categoria Produtora – Mulher de destaque na pecuária brasileira.

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Thais Lopa é médica veterinária, mora em Alegrete/RS, formada pela Universidade Federal Fluminense/RJ e atualmente faz mestrado.

Ao término de sua graduação – quando voltou já formada e casada, final de 1999, para sua terra -, Thais notou tamanha diferença na pecuária e a agricultura local. Essa visão empresarial da atividade, foi uma motivação, pois notou que todos queriam inovar. Assim, começou a trabalhar com pecuária  – na parceria agropecuária que se formou na família, com seus dois irmãos, sua mãe e seu esposo – Agropecuária São Pedro.

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Ali iniciou a aplicação de métodos de controle do rebanho e manejo com planejamento. Quando iniciou a colocar brinco nos animais da fazenda, era um descrédito grande com comentários tais como: “Não vai durar um ano, vai cair tudo”, “Só falta agora também botar cola”,  mas a sua “teimosia” foi maior e aos poucos os resultados foram aparecendo.

Aliado a isso, começou a trabalhar com seleção das raças Hereford e Braford não só na fazenda, mas também junto a Associação Brasileira de Hereford e Braford, pois já criava Hereford há 80 anos na fazenda de sua família.

BeefPoint: O que você implementou de diferente na pecuária do Sul do Brasil, que levou você a ser uma das finalistas do Prêmio BeefPoint Edição Sul 2014?

Thais Lopa: Creio que o que faz a diferença é você fazer mais do que simplesmente fazer só por você ou, sempre se perguntar: “O quanto você pode fazer pelo todo?”. Há tantas tecnologias ao alcance do campo e como quebrar a barreira dos tais comentários: “Isso não vai funcionar”.

Assim, foi com esse pensamento que através do núcleo de criadores da fronteira oeste e a Associação Brasileira de Hereford e Braford que começamos a promover cursos para trazer a esses técnicos e criadores a voz dos pesquisadores e especialistas nas diversas áreas da pecuária como, nutrição, seleção, melhoramento genético, reprodução, etc.

O que se vê na realidade é que quem aplica inovações para melhorar a produtividade ainda é uma pequena parcela de criadores, e poderia ser muito mais!

Além do mais, ainda há uma parcela que faz propaganda contra, pois usam a tecnologia, porém aplicam de forma errada, sem orientação ou de modo não planejado, e os resultados negativos aparecem, ficando a tecnologia como culpada.

Já são 11 edições do curso de atualização e julgamento das raças Hereford e Braford e 6 edições do curso de melhoramento em bovinos de corte que coordeno e participo junto a equipe da ABHB. Quando a ABHB resolveu “capitanear” um programa de avaliação, o PampaPlus, foi por solicitações dos seus associados que queriam uma ferramenta ágil, de fácil visualização e que viesse de encontro como o que eles queriam melhorar nos seus plantéis, ou seja, queriam um programa que interagisse mais com eles.

Além disso, o melhoramento genético era encarado como um bicho papão, apesar de programas já existirem há mais de 40 anos. Sendo assim, mostrar para o criador como o programa de avaliação interpreta os diferentes grupos que se formam na propriedade – por idade, sexo, alimentação -, e como isso é considerado para gerar os resultados era um desafio.

A solução era formar grupos dentro de cada região que o programa abrangia e esclarecer, treinar, mostrar quantas vezes fossem necessárias.

Hoje, temos a satisfação de todos os anos juntar os melhores especialistas da área de melhoramento, do Brasil e do exterior, onde nos reunimos com os criadores e técnicos credenciados que participam do PampaPlus para debater os rumos do programa e as dúvidas.

São 44 propriedades e falo a todos eles que quem perde essa oportunidade é porque não quer mesmo evoluir. Ter animais com dados de DEP, apenas para valorizar mais os animais de venda e sem usar toda a potencialidade do programa – no rebanho que fica na propriedade -, é desperdiçar dinheiro e oportunidade.

Assim, é com essa filosofia, que coordeno o setor de melhoramento genético da ABHB e faço parte da equipe do PampaPlus auxiliando os criadores na coleta de dados e interpretação dos resultados.

BeefPoint: O que lhe traz mais resultados?

Thais Lopa: A Agropecuária São Pedro faz ciclo completo e investe na seleção de animais Hereford há anos; e hoje também investe na formação de um plantel de Braford, no qual todos os objetivos traçados na propriedade – na parte da pecuária -, me agradam profundamente.

A cada ano buscamos padronizar mais os animais investindo na eficiência reprodutiva e alimentar. O programa nos indica o “norte” e vamos seguindo de acordo com o que precisamos melhorar. Em 2011, começamos a utilizar a transferência de embriões, que sem dúvida nenhuma dá excelentes resultados quanto a padronização e aproveitamento das melhores fêmeas.

Na parte de alimentação, além do uso de pastagens, se faz o manejo da resteva do arroz, fazendo feno para usar no inverno, junto ao proteinado, como complemento alimentar para os animais, onde temos excelentes resultados – evitando que os animais percam tanto peso.

Mas o que tem me trazido bons resultados é trabalhar a frente de uma Associação de Agroindústrias, a ALEGRO, que montamos em 2011 aqui em Alegrete/RS. A região aqui é conhecida por produzir excelente charque e linguiça e como o município aderiu ao SUASA, o setor resolveu se unir para combater as diversas dificuldades e poder crescer. Dificuldades tais como: a falta de orientação para as reformas de infraestrutura para poder cumprir as exigências de fluxo de produção, falta de apoio de um laboratório próximo para fazer os exames, a falta de informação para a legalização dos estabelecimentos e principalmente a busca por capacitação da mão de obra.

BeefPoint: Todos sabemos que aprendemos mais com nossos erros. O que fez e deu errado? Você poderia nos contar?

Thais Lopa: Se tivesse que me arrepender de algo, seria de ter investido e apostado na rastreabilidade nos moldes que foi colocado pelo SISBOV, mas sempre algo se aprende principalmente com os erros.

Cheguei a abrir um escritório como credenciada de uma empresa de certificação. E foi trabalhando com isso que vi, na realidade do campo, que esse molde não se enquadrava ao nosso sistema e ao tamanho do nosso país. Ver animais que não tinham qualidade nenhuma serem certificados para terem status de habilitados a exportação, apenas pela “sanidade”, sabendo que ao chegar o lote no frigorífico, aquele brinco de certificação ia para um saco junto de todos os outros do lote e ali acabava a identificação individual, pois não tínhamos um sistema que levasse essa informação com a carcaça até a desossa, era muito desgostoso. Sou a favor da rastreabilidade sim, mas opcional e num modelo onde as nossas inspetorias veterinária possam ser mais atuantes, pois nelas já está todo o histórico sanitário das propriedades, mas para isso, é urgente o investimento em melhoria dos equipamentos, material e capacitação.

Muitas unidades, as vezes não tem nem papel para copiar os modelos de documento e entregar ao produtor.

BeefPoint: Muitas mulheres preenchem melhor que os homens os pré-requisitos para o sucesso no negócio, como: organização, disciplina e planejamento. Você acredita nessa teoria? Tem algum exemplo no seu dia a dia e pode nos contar?

Thais Lopa: Acho que nós – mulheres – não temos mais que provar nossa capacidade em relação aos homens, isso já passou. A aptidão para uma coisa ou outra está mais ligada a nossa formação, nosso caráter e nossa capacidade, do que ao sexo.

O que talvez nos deixe mais organizadas e disciplinadas é o fato de que como mães, muitas das vezes bem cedo, temos que aprender a compartilhar e planejar o tempo. Assim, creio que cada um tem o seu espaço, e o sucesso está ligado mais a competência. Enfim tem muito homem competente também na cozinha e tem muita mulher competente nos negócios.

BeefPoint: O que você considera mais importante na pecuária?

Thais Lopa: União + união + união. Atuo no Sindicato Rural de Alegrete e vejo a maioria chegar para criticar, mas não tem tempo de discutir as soluções!

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BeefPoint: Qual o maior desafio da pecuária do Sul do Brasil hoje?

Thais Lopa: Organização e ter força de união. Pois, é preciso mostrar que não somos os vilões do meio ambiente e que a pecuária há anos preserva o meio ambiente, pois dependemos dele para produzir e sobreviver.

BeefPoint: Qual inovação / novidade na pecuária de corte você mais gostou dos últimos anos? O que precisamos inovar?

Thais Lopa: A técnica de transferência de embriões e fertilização in Vitro, auxiliando na disseminação da melhoria genética de nossos rebanhos.

BeefPoint: O que você pretende fazer de diferente em 2014? E por quê?

Thais Lopa: Pretendo dar continuidade aos trabalhos que estão em andamento que são muitos. Fora isso, completar meu mestrado que há muito tempo tinha planejado fazer, mas não deu.

BeefPoint: Qual o exemplo de produtora que faz a pecuária do futuro, no Sul do Brasil hoje? Quem você admira por fazer um excelente trabalho?

Thais Lopa: Tem várias que conheço e que trabalham ativamente no campo. Como exemplo, tenho minha mãe que não cresceu no meio, mas se casou com um pecuarista e hoje com seus setenta e poucos anos faz acontecer, produzindo queijos finos na fronteira oeste com todo o conhecimento que adquiriu na prática e em cursos que fez.

Há um ano reformulou o local para cumprir as exigências de fluxo de produção, para produzir melhor e com qualidade.

BeefPoint: Em sua opinião, o que deve ser feito para aumentar o envolvimento dos jovens na agropecuária?

Thais Lopa: Principalmente agir nos pólos rurais onde ficam as escolas rurais e  incentivar ali a criação de agroindústrias de produtos de origem vegetal ou animal.

Hoje em dia são muitos os cursos que são aplicados nesses locais pelo Sebrae, Senar e Emater, mas infelizmente o atrativo está é na cidade, que é a que gera emprego mais fácil.

BeefPoint: Qual seu recado para os pecuaristas?

Thais Lopa: Vou voltar ao que havia dito antes como recado: “A união é a maior arma. Vamos botar o mate em baixo do braço e vamos lá apoiar o setor e debater juntos!”.

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1 Comment

  1. Marcos José Silva disse:

    Muito boa a entrevista, muito bem debatida. Vocês estão de parabéns continuem trabalhando assim que sabe um dia o Brasil melhore temos tudo pra isso menos pessoas competentes no poder….

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