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A síndrome da morte do capim-brachiarão

Por Carlos Mauricio Soares de Andrade e Judson Ferreira Valentim1

O capim-braquiarão (Brachiaria brizantha cv. Marandu) foi lançado pela Embrapa em 1984. Sua agressividade, bom valor nutritivo e, principalmente, alta resistência às cigarrinhas-das-pastagens fizeram com que tivesse grande aceitação pelos pecuaristas e se tornasse, rapidamente, a gramínea forrageira mais plantada no Brasil, principalmente nas Regiões Norte e Centro-Oeste, onde substituiu boa parte das pastagens degradadas de Brachiaria decumbens. Dez anos após seu lançamento, quase a metade das pastagens cultivadas no trópico brasileiro tinha sido semeada com o capim-braquiarão. No Acre, ao final da década de 90, as estimativas eram de que 75% das pastagens cultivadas no Estado tinham sido semeadas com esta gramínea.

A partir de 1994, foram relatados os primeiros casos da síndrome da morte do capim-braquiarão no Acre, Pará, Rondônia e em outras localidades da Região Amazônica. Esta síndrome manifesta-se durante a estação chuvosa, em solos de baixa permeabilidade, ocorrendo amarelecimento, murchamento e morte de plantas da gramínea, principalmente em depressões do terreno, nos locais mais elevados da pastagem, e ao longo do declive, em áreas mais sujeitas ao escorrimento das águas das chuvas (Fig. 1). Na fase avançada do processo, as pastagens apresentam grandes áreas onde a gramínea já morreu e que são gradualmente ocupadas por plantas invasoras, caso não haja intervenção precoce por parte do produtor, resultando na degradação total da pastagem.


Fig. 1. Manifestação da síndrome da morte do capim-braquiarão em solo de baixa permeabilidade, no Acre (Foto: Judson F. Valentim).

A principal causa do problema é a baixa adaptação do capim-braquiarão ao encharcamento do solo. Em solos encharcados, os espaços porosos tornam-se saturados de água e as raízes de plantas não adaptadas a estas condições não conseguem obter o oxigênio necessário para sua respiração. Em áreas com solos de baixa permeabilidade (mal-drenados), o encharcamento ocorre durante os meses mais chuvosos do ano, não apenas nas baixadas, mas também nas áreas mais elevadas das propriedades. Nestas condições, aparentemente, as plantas ficam debilitadas, estressadas e com baixa resistência a doenças. Os fungos Pythium sp., Rhizoctonia solani e Fusarium sp. foram isolados de plantas mortas do capim-braquiarão. O problema tem sido chamado de síndrome porque é causado por uma combinação de fatores: estresse devido ao encharcamento do solo, seguido do ataque de fungos oportunistas. Porém, parece não ser específico desta cultivar. Na Costa Rica, existem relatos de morte de plantas da B. brizantha cv. La Libertad (cv. MG4 no Brasil), sete meses após a semeadura, em local com alta saturação de água no solo. No Acre, um estudo com duração de três anos comparou o desempenho de sete variedades de B. brizantha e duas de B. humidicola, mais as cultivares Marandu e Xaraés de B. brizantha, em solo de baixa permeabilidade. Neste estudo, apenas o capim-xaraés e as variedades de B. humidicola não manifestaram a síndrome durante o experimento.

A partir de 1998, houve grande expansão do problema, principalmente no Estado do Acre, levando milhares de hectares de pastagens à degradação. Mais de 50% dos solos do Estado apresentam permeabilidade muito baixa e são impróprios para o cultivo do capim-braquiarão, com elevado risco de morte. Por serem de baixa permeabilidade, estes solos são pouco lixiviados e geralmente possuem argila de alta atividade e elevados teores de bases trocáveis, sendo, portanto, os mais férteis do Estado do Acre, de modo que a síndrome da morte do capim-braquiarão não está relacionada com deficiência nutricional, mas apenas com a incompatibilidade da gramínea às condições físicas do solo.

A solução para o problema está na substituição do capim-braquiarão por outras espécies forrageiras, que apresentem boa tolerância ao encharcamento do solo. No Acre, nas pastagens em estágio inicial de degradação, onde o capim-braquiarão ainda ocupa mais de 70% da área, a solução mais eficiente, técnica e economicamente, tem sido o plantio de mudas de espécies estoloníferas adaptadas a estas condições de solo, tais como o quicuio-da-amazônia (B. humidicola), a grama-estrela (Cynodon nlemfuensis), o capim-tangola (Brachiaria arrecta x B. mutica) e o amendoim forrageiro (Arachis pintoi cv. Belmonte). Este plantio é feito manualmente, em covas, durante o período das águas, nos locais em que o capim-braquiarão já morreu. Como são espécies estoloníferas, com grande capacidade de colonização de novas áreas, à medida que as touceiras do braquiarão vão morrendo, as forrageiras plantadas ocupam os espaços abertos na pastagem. Ao longo de dois ou três anos, o pasto de capim-braquiarão é substituído gradativamente pelas forrageiras plantadas (Fig. 2), com a vantagem de ser um processo de baixo custo, que envolve apenas o gasto com mão-de-obra para o plantio (10-15 diárias por hectare), além do fato de que a pastagem continua a ser utilizada normalmente enquanto o pasto é substituído. Este processo tem sido mais eficiente quando a pastagem é manejada sob lotação rotacionada.


Fig. 2. Pastagem recuperada com o plantio de mudas de grama-estrela e amendoim forrageiro, na Fazenda Itaituba, Acre (Foto: Carlos Mauricio S. Andrade).

Nas pastagens onde o processo de degradação já se encontra em estágio avançado, em que o capim-braquiarão já morreu em mais de 60-70% da área da pastagem e a infestação de plantas daninhas é elevada, a solução adotada no Acre tem sido a renovação da pastagem, envolvendo o preparo do solo, sua correção e adubação quando necessário, seguida da semeadura de outras espécies forrageiras adaptadas a solos de baixa permeabilidade. Dentre as espécies forrageiras com sementes disponíveis no mercado, a B. humidicola e os capins Tanzânia e Mombaça (Panicum maximum), além da leguminosa Pueraria phaseoloides, têm sido as principais opções utilizadas nas condições do Acre.

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1Carlos Mauricio Soares de Andrade e Judson Ferreira Valentim são pesquisadores da Embrapa Acre

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